
José Augusto Ribeiro sagrou-se campeão europeu de natação adaptada, em Paris. O nadador gondomarense do Clube de Propaganda da Natação (CPN) conta-nos toda a história por trás do sucesso. Portugal voltou a vestir a Torre Eiffel com as cores nacionais e os créditos pertencem a José Ribeiro. Mas não só.
Como foi a tua preparação para estes Europeus? A preparação foi ótima. Fiz o meu estágio em Rio Maior e tive um treinador fantástico, o Paulo Sousa. Ele que é o treinador do Ferreiras, um clube algarvio, e também da Federação.
O que sentiste ao estar presente num Campeonato da Europa? Senti-me muito bem, foi espetacular. Adorei estar em Paris, foi uma experiência muito marcante. Não consegui conter as lágrimas quando subi ao pódio e ouvi o hino nacional, foi muito emocionante. Chorei com uma alegria enorme.
O balanço é positivo? Sim, muito positivo, não esperava estes resultados. As provas que eu mais gostei de participar foram os 400m livres, 800m livres e 1500m livres. Provas que são, por isso, de longo curso. Nos 1500 metros bati o meu recorde nacional e julgo que se estivesse numa pista mais a meio da piscina teria ganho a prova, tenho essa convicção. Nadei na pista seis e isso prejudicou-me.
Passaste por algumas dificuldades devido ao facto de estares longe de casa? Devo confessar que nos primeiros dias custou-me bastante estar em Paris sem a minha treinadora. Estava isolado, sentia-me um pouco murcho. Mas depois fui-me habituando e lutei para que tudo valesse a pena.
Qual é a tua grande especialidade na natação? Gosto muito de nadar distâncias longas. Demonstro sempre uma grande resistência. O crol é o meu estilo preferido.
Algum agradecimento especial? Sim, um agradecimento especial ao Paulo Sousa, à Cláudia Pato, fisioterapeuta da seleção, e, claro, à Ana Querido, que é uma treinadora incrível. Não esquecendo a minha família, que me dá o amor e a estabilidade. A família é tudo.
Ana Querido: «Poucos imaginam que o José Ribeiro treina sete vezes por semana»
Os seus atletas cumpriram os objetivos propostos? Os atletas não só cumpriram os objetivos como também os excederam. A Carina é uma nadadora com 36 anos e foi convocada para a seleção nacional, algo que só 10 atletas conseguiram. O José Ribeiro alcançou também resultados brilhantes, melhores do que o expectável. No fundo, o enorme esforço aqui nos treinos deu os seus frutos. Tal como o dos familiares, uma vez que o apoio da família é fundamental. Poucos imaginam que o José Ribeiro treina sete vezes por semana. É obra.
Os resultados teriam sido ainda melhores com a sua presença lá? Eu não estive lá porque não fui convocada pela Federação Portuguesa de Natação. As coisas não foram pacíficas entre mim e a Federação. Eu julgo que estaria dentro de qualquer critério que utilizassem e a prova de que efetivamente eu merecia estar ali ao pé deles foi o resultado que os meus atletas alcançaram. Que teriam sido facilmente "manipulados" por mim. Porque eu podia orientar os treinos de forma a que eles ficassem totalmente dependentes de mim. Algo que eu nunca fiz nem nunca farei.
O que representou para si ver o José Ribeiro no topo do pódio? Foi um orgulho muito grande. Porque, no fundo, é o resultado de muita dedicação. São alguns anos de trabalho com o José e muitos momentos de partilha. Fiquei, fundamentalmente, feliz por ele.
Um orgulho que se transforma em responsabilidade para os Mundiais? Sim, sem dúvida alguma. No entanto, ainda não sabemos quais são os mínimos de acesso para os Campeonatos do Mundo. Ainda assim, caso estejamos presentes, o objetivo passa também por alcançar grandes resultados.
Treinadora lamenta por Gondomar ter desperdiçado projeto Ana Querido revelou-nos ainda o seu lamento por Gondomar ter desperdiçado este projeto, sobretudo em ano de Cidade Europeia do Desporto. “Isto podia estar a ser implementado em Gondomar, até porque eu enviei uma proposta, inclusive com os resultados que alcançamos na época passada, e ainda não obtive qualquer resposta por parte da Câmara”, explicou a treinadora. Por sua vez, Sandra Almeida, vereadora do Desporto da Câmara Municipal de Gondomar, diz-se orgulhosa perante estas conquistas, tendo afirmado que naquela altura não era oportuno aceitar o projeto lançado pela treinadora devido a questões de logística. Contudo, “a porta ficou aberta e, em 2018, arranjaremos alternativas para fixar estes atletas em Gondomar”, concluiu a vereadora.
Rui Moutinho: "Estes triunfos têm um significado muito importante" Estivemos à conversa com Rui Moutinho, presidente do CPN, que nos revelou que “estes triunfos têm um significado muito importante na medida em que esta coletividade só arrancou com a natação adaptada há cerca de um ano e meio”. Num curto período de tempo, o clube conseguiu vários feitos. Pese embora o facto de o CPN ter nascido nas margens do rio Leça, em 1941 - tendo até vários campeões nacionais de natação - este é um clube com 10 modalidades. Ainda assim, “neste caso específico da natação adaptada, penso que as medalhas têm um papel muito importante e ajudam-nos a projetar a imagem do clube e do país”, apontou Rui Moutinho. O presidente deixou ainda uma última nota quanto aos apoios necessários para que o projeto possa continuar a fluir em direção ao sucesso, uma vez que “no espaço de um ano e meio conseguimos alcançar tudo isto e não pretendemos parar por aqui”.Carina Moreira e Ana Castro também trouxeram medalhas “Gostei muito de estar presente nos Europeus. Esta equipa do CPN deu-nos muita força para nos conseguirmos superar. Trabalhei muito na preparação e adorei competir fora do país. Dei o meu melhor e quero agradecer aos treinadores e à minha família”, afirmou Carina Moreira, atleta que conquistou uma medalha de prata e uma medalha de bronze.
Ana Castro, nadadora natural de Rio Tinto, representou também Portugal nestes Campeonatos da Europa e trouxe de Paris uma medalha de bronze, na estafeta de 4x100m livres.