Desporto Gondomar (S. Cosme), Valbom e Jovim

“Ali Butcher”, o treinador de campeões de culturismo

António Fernando Correia Santos, mais conhecido por “Ali Butcher” no mundo do culturismo, conta no seu currículo com 180 atletas, 10 profissionais, 4 vice-campeões da Europa, 80 campeões nacionais e 137 pódios. O VivaCidade esteve à conversa com o profissional de culturismo para saber mais sobre o seu percurso, os segredos do seu sucesso e os preconceitos em torno da modalidade. Fale-nos um pouco sobre a sua formação e sobre o percurso que o colocou no patamar que está agora? Curiosamente a minha formação não tem nada a ver com este desporto. Os meus pais sempre tiveram uma indústria hoteleira. Eu agora tenho 46 anos e sempre gostei deste desporto. Comecei desde pequeno a fazer os meus próprios halteres, subindo de degrau em degrau até chegar ao nível em que estou. Todo o meu percurso foi na industria hoteleira, a maior parte do meu trabalho foi nessa área e eu só fazia isto como hobbie. Ou seja, o meu trabalho não é nenhum, porque eu faço aquilo que gosto, é isto que me preenche enquanto pessoa. A indústria hoteleira permitiu-me ter a capacidade de estudar, de evoluir e de aprender, porque isso trouxe-me muito conhecimento.  Refere-se a que tipo de conhecimento?  O que se estuda na faculdade não se consegue aplicar neste desporto, só com a prática. Temos que conhecer o sistema muscular de cada individuo. Isto é individualizado, por exemplo, eu tenho atletas que não treinam braços, não podem treinar porque são grandes de mais e sem treinar crescem mais do que aqueles que treinam, é a própria fisiologia daquela pessoa. Se tens um braço muito grande, mas o ombro é carente, vais ficar desproporcional. O princípio deste desporto é a proporção, é a beleza estética, não é o tamanho, é a simetria. Quando é que o hobbie passou a ser a sua vida? Há 12 anos atrás eu tive o meu primeiro campeão nacional, ainda como hobbie. Isto requer muito tempo, tens que acompanhá-los às provas, estar com eles, tens que fazer um trabalho quase de babysitter, estar em constante visualização do físico e das sua alteração. É um processo que só o olho é que te diz, não há uma teoria porque o teu físico muda em horas. Como é que aprofundou os seus conhecimentos? O que me fez evoluir foi o gosto e o conhecimento, foi o praticar com muitas pessoas porque eu tenho 180 atletas. Eu já faço isto com eles há 18 anos. Eu sou profissional do ginásio e personal trainer, porque não há uma profissão chamada treinador de culturismo. Eu não posso prescrever dietas porque eu não sou nutricionista eu falo sobre a minha experiência e conhecimento. Nós temos de ter sempre a consciência que lidamos com pessoas e seres humanos e isto tem sempre uma certa responsabilidade. Quanto tempo é que esta profissão lhe retira por dia? Isto faz-me perder muito tempo porque todo o trabalho na minha área não é só “faz isto e faz aquilo”, é também dar um aconselhamento psicológico, porque o dia a dia deles pode afetar, como o stress do trabalho. Se eles não dormirem, eu tenho que falar com eles com calma e até a experiência pessoal que eu tenho, ajuda-me a ser melhor treinador. Acaba por ser mais do que um treinador. Sem dúvida nenhuma. O amor que eu trago para isto, faz-me sofrer por vezes na minha vida pessoal. Quando tenho que ir para as provas, fico com um grande nível de ansiedade e ainda aguento a ansiedade e o stress deles, mas tento não lhes passar isso porque se não dormes bem não estás bem no dia a seguir. Este é um desporto de pequenos detalhes e esses detalhes fazem toda a diferença. Neste desporto sofres 20 semanas de preparação para estares 1 a 2 minutos no palco. Se não comeste bem ou não dormiste bem, isso afeta. Neste desporto tem de haver sempre o bom senso do treinador em passar o bom senso para eles porque isto é um desporto de exagero em tudo. No treinar, no comer, em tudo. Qual é que considera ser o segredo do seu sucesso?  Eu diria que é a minha personalidade e a paixão que eu tenho. Conhecimento todos o têm, o que diferencia é aquilo que tu depositas da tua personalidade e da tua energia neste desporto. Este é o meu vício, é o que me dá adrenalina.  Qual foi o momento mais marcante da sua carreira? O que mais me marcou foi ter sido o primeiro treinador em Portugal a ter um atleta no circuito profissional, isso foi o que despoletou mais atenção para mim como profissional. Agora tenho mais 10 atletas no circuito profissional. Este circuito é a prova rainha deste desporto, que se faz em Las Vegas nos EUA. É a prova de maior destaque e para chegar lá tem de se entrar no circuito de competições internacionais para pontuar e para chegar a essa prova. Esse meu atleta que esteve no circuito profissional foi o Nelson Rodrigues, em 2015 no Arnold Classic em Madrid.  São os atletas que o procuram? Como é feito esse contacto? Normalmente sou abordado pelas redes sociais. Abordam-me se eu os posso ajudar e dizem que gostam muito deste desporto. Normalmente eu envio um questionário para criar um padrão. Eu ajudo toda a gente mas em termos competitivos, sou eu que escolho, porque para chegar a campeão do mundo não é só treinar, têm de ter o chamado “fator X”. Fatores desde a genética, a capacidade que vais impor e a energia que vais colocar nessa preparação. E eu sendo muito competitivo, só quero ganhar. Eu faço deles os melhores, não gosto de perder. Os atletas quando estão nas semanas de preparação, costumam estar em permanente contacto consigo? Não vou dizer que são 24 horas, mas eu levanto-me às 8h e até às 22h recebo mensagens e às vezes, até às 2h. A esta hora ainda há pessoas que me perguntam se podem comer determinada coisa. O grande problema deste desporto é que as pessoas que estão dentro deste processo têm medo de decidir. Para ter a certeza se estão a fazer correto ou não, necessitam da confirmação que sou eu que a dou ou não. É isso que as pessoas não compreendem, a dedicação a este tipo de desporto e somos incompreendidos e catalogados. Catalogados como, “só tomamos coisas”, não entendem o processo. Quando alguém tenta entrar num processo destes, dificilmente chega ao fim. O que acha que atrai um atleta para este desporto? Eu acho que comecei a treinar musculação por uma fraqueza psicológica minha, porque eu era pequeno e franzino. Por isso eu quis demarcar-me um pouco, na maior parte dos casos é por uma questão estética, uma questão pessoal e psicológica. O querer ser mais forte e maior, é este o padrão. Entramos no chamado culto do corpo. Eu era mesmo o gosto pessoal, gostava de treinar, de me sentir forte e isto cria um ego.  Quantos atletas treina atualmente? E quantos campeões tem? Atualmente tenho 180 atletas competitivos, 10 profissionais , 4 vice-campeões da Europa, 80 campeões nacionais e 137 pódios. Tenho muitos atletas internacionais. Tenho dois ingleses, dois italianos, um árabe e um nos Estados Unidos, tudo através do online. Tive que me desenrascar no inglês. É curioso que nunca fui bom no inglês, mas o gosto disto obrigou-me a ter que desenrascar. É um acompanhamento mais complicado, mas a prática também me ajudou nesta parte. Eu como não estou pessoalmente com eles, pressuponho sempre que está um bocadinho pior do que aquilo que eu vejo. Quando me enviam foto, tem sempre fatores muito importantes. Tem que ter sempre o mesmo ambiente de luz, no mesmo local, à mesma hora, para que os fatores externos não te afetem. Eu até gosto de trabalhar mais no online do que no presencial, porque o presencial às vezes engana e eles vêm à hora que lhes interessam ou quando podem e não nos fatores que eu quero, que são de manhã, em jejum e luz natural. Isso tudo afeta, é um desporto que a parte visual e estética é que contam.  E os atletas internacionais como chegam até si? São os ganhos e as vitórias. Já tive no Canadá, EUA, Rússia, Dubai, Suécia, Finlândia, Espanha, vou aos campeonatos internacionais quase todos. Por ano viajo bastante para diversas provas. Falou que foi a sua paixão e a sua personalidade que o fizeram ter o sucesso que tem agora, mas também foi algo que lhe exigiu muita prática e investimento para obter esse conhecimento? Gastei muito dinheiro, tive treinadores internacionais que me ajudaram. Eu não comprava roupa, para comprar esse tipo de conhecimento. Investi mesmo uma pequena fortuna, cada qual tem o seu gosto. Todo o meu conhecimento foi canalizado para aqui. Gostaria só de acrescentar um facto curioso. Tenho uma empresa espanhola que decidiu fazer uma linha de suplementos direcionada para aquilo o que eu acho melhor. Em Portugal só tens uma pessoa que faz isso, que sou eu. Essa empresa de suplementos achou que eu era uma pessoa que me demarcava das outras e perguntou se eu queria ter uma linha com o meu nome. Essa empresa colocou os produtos deles à minha mercê com o meu nome. 

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