
Em 2011, Tiago Maia, levou o nome de Gondomar à Colômbia, quando representou a Seleção Nacional sub-20, no Campeonato Mundial de Futebol. Portugal acabou derrotado pelo Brasil na final, mas o atleta integrou a comitiva que surpreendeu os portugueses naquele verão. O guarda-redes joga atualmente no SC Espinho, mas ambiciona rumar ao estrangeiro para jogar noutros campeonatos e experimentar novas culturas. Após uma má experiência nos Açores e um ano sem clube, Tiago admite que não voltará a cair nas ilusões dos empresários.
Sempre tiveste uma paixão pelo futebol? Sempre gostei de futebol. Foi até uma forma de me aproximar do meu avô e do meu primo, porque o nosso avô levava-nos para as escolas Artur Baeta, que agora são as escolas do Dragon Force. Comecei a ir para lá, treinávamos ao sábado e tínhamos uns torneios. Passei a ir para a baliza e o treinador aconselhou-me a ir para as escolas Vítor Baía, que eram só para guarda-redes. O treinador de guarda-redes era o treinador das escolinhas do FC Porto e levou-me para o clube com oito anos.
O Vítor Baía era uma referência para ti? Sim, sempre foi.
Começaste com oito anos nos infantis do FC Porto. No início, com oito anos, era difícil conciliar os estudos com o futebol? Nunca foi difícil porque eu era bom aluno. Estudava pouco em casa, mas conseguia tirar boas notas porque estava atento nas aulas e não tinha grandes dificuldades. Fiz o 12.º ano no Colégio D. Dinis, no Porto, e no meu último ano de júnior, com 17 anos, entrei para a Escola Superior de Tecnologia de Saúde no Porto, para tirar o curso de fisioterapeuta. No entanto, acabei por não conseguir conciliar com o futebol, porque já treinava com os seniores e não queria perder essa oportunidade. Mas tenciono retomar a vida académica.
Como é que te tornaste guarda-redes? Eu optava sempre por ser defesa central e gostava de ficar perto da baliza. Acabei por participar nuns torneios e nunca havia jogadores para ir à baliza. Como eu até gostava de ser guarda-redes, acabava por defender. Os treinadores notaram que eu tinha algum jeito e encaminharam-me para a escola Vítor Baía e estive lá seis meses. Entretanto passei a treinar nas escolas do FC Porto.
[caption id="attachment_3075" align="alignleft" width="300"]
Eras portista? Não [risos]. Na minha família era tudo do SL Benfica e até cheguei a ir ver o antigo Estádio da Luz quando tinha cinco anos. No ano em que fui treinar para o FC Porto, aos seis anos, os treinadores estavam a perguntar-nos qual era o nosso clube e houve um miúdo que disse que era do SL Benfica. Foi um escândalo. Quando me perguntaram a mim eu disse logo que era do FC Porto [risos]. Depois comecei a ganhar paixão pelo clube, porque é diferente de todos os outros e era o que ganhava sempre.
Lá em casa também mudaram de clube? O meu pai sempre foi do FC Porto e foi o mais inteligente, deixou-me pensar sozinho e decidir por mim. Eu vi que o FC era o melhor clube e tornei-me adepto.
Cumpriste toda a tua formação nas escolas do FC Porto e foste subindo de escalão. Foi fácil cumprir esse percurso numa equipa de topo? Até aos iniciados, os guarda-redes alternavam jogo a jogo. Havia essa rotatividade. No primeiro ano de juvenis é que comecei a jogar com mais regularidade. O FC Porto não limita os jogadores por idades, porque se um jogador mais novo é melhor que um jogador mais velho, o mais novo é que joga. Acabou por ser uma subida natural.
Em 2011, participaste no Campeonato Mundial de Futebol sub-20, na Colômbia. Foste vice-campeão mundial, já depois de teres vencido o Campeonato Nacional de Juniores e a Liga Europa pelo FC Porto. Foi um ano de sonho? Foi um ano muito bom. Apesar de nunca ter jogado na Liga Europa, era o terceiro guarda-redes. Jogava sempre o Hélton e o Beto ia para o banco de suplentes. Num jogo em que o Beto se lesionou eu fui para o banco [FC Porto 3 -1 CSKA Sofia – 15/12/2010]. Acabei por não jogar, mas como estava na ficha desse jogo, também fui considerado vencedor. O Beto também não fez nenhum jogo e ganhou a Liga Europa. Foi a mesma situação.Nesse ano também fui campeão nacional de juniores e fui para o Mundial sub-20, na Colômbia, onde fomos vice-campeões mundiais [Portugal perdeu contra o Brasil 3-2, na final, após prolongamento].
[caption id="attachment_3073" align="alignleft" width="300"]
Houve alguma praxe do plantel portista? No jogo em que estive no banco, para a Liga Europa, queriam rapar-me o cabelo mas não deixei [risos].
Como foi viver todas essas emoções no mesmo ano? Vivi uma dualidade de emoções. Foi muito bom vencer todos aqueles títulos, mas foi péssimo pensar que já tinha conquistado muita coisa. Julguei que podia ser o melhor do mundo e tinha apenas 17 anos. Sempre trabalhei muito e dava sempre o meu máximo, mas criei uma ilusão.
Foste mal aconselhado pelos empresários? Não posso dizer que o erro foi dos meus empresários porque a decisão era sempre minha. Os empresários prometiam-me contratos milionários e iludiam-me, mas se eu caísse nessa ilusão a culpa era minha. Como estive sempre no FC Porto e estava habituado ao melhor, pensava que valia muito mais do que as propostas que me ofereciam. Só mais tarde é que percebi que no futebol é preciso crescer por patamares.
Acabaste por escolher o CD Santa Clara. Foi uma boa decisão? Fui para o Santa Clara no ano em que passei do escalão júnior para a II Liga e se calhar não estava preparado. Há uma grande diferença entre o escalão júnior e sénior, ainda para mais quando se passa de um campeonato de juniores para a segunda divisão nacional de seniores. Cheguei a ter um convite do Chaves, antes de ir para o mundial da Colômbia, mas preferi não aceitar porque achava que merecia melhor, em termos desportivos.
Foi difícil sair do Santa Clara, quando percebeste que não contavam contigo? O contrato era de dois anos, mas por acordo entre ambas as partes acabei por sair passado um ano. Quando saí do Santa Clara, ainda estava iludido e pensava que apesar de não ter corrido bem nos Açores, ainda merecia outra oportunidade. Voltei a ser contactado por equipas da II Divisão B, mas recusava sempre porque achava que não era o meu patamar. Ridículo [risos]. Depois cheguei a ir à Bulgária e até diziam que eu ia assinar pelo Beroe, mas não se concretizou. Quando voltei a Portugal o mercado já tinha fechado e já não podia ser inscrito. Fiquei um ano sem clube.
Nesse ano, como geriste a tua condição física? Treinava todos os dias. Foi o treinador José Alves que me aconselhou a continuar a treinar todos os dias sozinho, sem clube. Também cheguei a integrar um programa de treinos do Sindicato de Jogadores, mas esse regime de treino acabou quando fecharam as inscrições do mercado de inverno.
Até surgir o convite para o Sporting Clube de Espinho. Sim, em 2013. Mas eu estava bem, em forma, porque continuava a treinar todos os dias e, nesse ano, nem tive férias. Surgiram novamente propostas da II Divisão B [atual Campeonato Nacional de Seniores], mas achei que a oferta do SC Espinho – que é um clube centenário – era ideal para mim. Não quis iludir-me mais, apesar de ter na mesma empresários a querer iludir-me. Felizmente decidi bem e o treinador acredita em mim.
[caption id="attachment_3077" align="alignleft" width="300"]
Esta época está a corresponder aos objetivos do SC Espinho? Atendendo às dificuldades da equipa, que é feita por atletas muito jovens, estamos a fazer um bom campeonato. Temos muita qualidade, mas no início faltou-nos alguma maturidade. Muitas vezes o resultado não aparecia e acabamos por estar sempre nos últimos lugares da tabela. No entanto, sinto-me bem na equipa e vamos conseguir a manutenção [na série D do Campeonato Nacional de Seniores] .
Jogar por uma equipa de Gondomar nunca foi uma opção? Nunca optei porque nunca falaram comigo. Estive no FC Porto desde os seis anos e depois não ia sair do FC Porto para vir jogar num clube de Gondomar, até porque jogava com regularidade.
Mas no futuro pode ser uma hipótese? Aprendi que não devo fechar portas e dizer não. Posso estar na I Divisão ou na II Divisão, mas também posso ter que jogar numa divisão distrital. Houve uma abordagem e cheguei a falar com o presidente do Gondomar SC, mas acabei por optar pelo SC Espinho. É uma porta que não está fechada.
Acompanhas o desempenho do Gondomar SC? Não é um clube que eu sigo, até porque não sou um jogador que vê muitos jogos de futebol. Apesar de ser de Gondomar não sou adepto do Gondomar SC, mas respeito muito a instituição e não digo que não possa vir a representar o Gondomar SC no futuro.
Quais são os teus objetivos? Quero jogar no estrangeiro. Gostaria de experimentar novos campeonatos, culturas e experiências. Tudo depende das propostas que possam vir a surgir. Não sou um jogador que diz que não quer sair de Portugal por causa da família.
Apesar dos altos e baixos na tua carreira, acreditas que ainda podes voltar a jogar em equipas de topo? Continuo a jogar futebol porque acredito nesse sonho. Caso contrário não continuava a iludir-me. Não se vive do futebol a jogar só por gosto. Todos querem jogar futebol, mas como profissional, o futebol também tem que me garantir estabilidade financeira.
Que conselho é que dás aos jovens que querem ser guarda-redes? Que nunca descurem os estudos. É importante ter sempre um plano b e um suporte. Nem todos conseguem ser profissionais de futebol e temos que ter sempre uma vertente académica para agarrar. A família também é muito importante porque quando pensamos que sabemos tudo são os familiares que nos ajudam. No futebol para vingarmos é preciso passarmos por dificuldades e num jogo, num erro ou numa má decisão, pode perder-se tudo. Devemos subir aos poucos.