José Malhoa, o cantor conhecido por todos, nasceu em Lisboa mas é a Gondomar que se sente grato, mais concretamente a Fânzeres. O Vivacidade esteve à conversa com este cantor para saber como é que chegou até Gondomar e perceber todo o amor a esta terra.
Conte-nos um pouco da sua história e como é que veio viver para Gondomar?
Nasci em Lisboa. Vivi em Belem. vim fazer quatro anos de serviço militar no Porto. Quando fui para tropa já tinha alguns dons de cantor, já fazia alguns espectáculos. Não vivia sem a música, os sons da telegrafia eram melodia para mim e só quem tem vocação é que os vê assim. Enquanto estava na tropa houve um concurso de música no Pavilhão Rosa Mota e acabei por ganhar.
Como é que foi o seu percurso após ter ganho o concurso?
Fui para Lisboa e depois um empresário questionou-me se queria vir para o Porto, para o Teatro Sá da Bandeira fazer o lugar de um colega e nunca mais sai de cá. Vim para uma revista, cantava duas canções, na altura. Cantava uma música que eu adorava que se chamava “A Rua do Abandono”, uma canção lindíssima. A partir daí tudo começou. Foi no Orfeão do Porto que consegui, com a minha persistência e insistência, que uma editora gravasse um disco comigo, a “Cara de Cigana” e partir daí não parei mais. Tenho cerca de 50 discos de CD e 11 de vinil.
Acha que tem a carreira que sempre quis ter?
Quem não me conhece é porque não quer. Mas esses não preciso. Preciso dos que gostam de mim e do meu repertório. Há muita gente que diz que sou uma pessoa arrogante, mas não sou. Gosto de ajudar as pessoas. Tenho ajudado muitos artistas. Gosto de ajudar e é isso que me caracteriza enquanto pessoa e profissional, isto dá para todos.
Ainda este fim de semana, dia 26 vou fazer um espetáculo, no Sport Clube de Rio Tinto, para apoiar um menino que tem um problema de saúde e é necessário apoios económicos e vou lá estar. Tento sempre ajudar.
Muitos o caracterizam como cantor de músicas pimba, isso ofende-o?
Não me ofende nada só me enaltece. Porque aqueles que não cantam músicas pimba quando são as festas está lá meia dúzia de pessoas e vai lá o dito cantor de “pimba” e está cheio. É isso que gosto e é assim que quero acabar a minha vida.
Há alguma música sua que o tenha marcado?
São tantas. Quando um produtor me põe tantas canções e se eu não gosto eu digo que não gosto. Só gravo aquilo que me identifico por isso é que todas as minhas músicas me dizem tanto.
A sua família sempre o apoiou?
Os meus pais não eram muito a favor que eu cantasse. O meu pai era uma pessoa rigorosa não gostava que eu saísse à noite, sempre com maus pressentimentos, e não me apoiava. A minha mãe sim, era a minha fã numero 1. Eu cantava em Lisboa, na colectividade Alvares Rente, e na altura a minha mãe não tinha televisão em casa e ia para lá ver. E, foi nessa colectividade que aprendi com as bandas que lá iam.
Como é que foi a sua reação quando a sua filha lhe disse que queria cantar?
Dei logo o meu apoio. Achei espetacular. É a minha única filha que canta, nasceu com este dom. Ela acompanhou-me desde bebé e sempre teve um amor ao palco, nunca me deixava sozinho, ela saltava para cima do palco atrás de mim. Quando era bebé ela já cantarolava, e foi crescendo, aos 5/6 anos ela já fazia programas de televisão.
É um orgulho para si ter uma filha no seu ramo?
Claramente, é um orgulho para mim.
Cada um teve a sua carreira a solo?
Sim, cada um com a sua carreira e temos algumas músicas juntos, mas cada um com a sua carreira. Na minha opinião quem quer viver disto tem de cantar a solo.
Você demonstrou muito orgulho em ser fanzerense sente esse orgulho também da parte dos fanzerenses?
Sim. Há uns que gostam de mim e outros que não. Mas de uma forma geral sinto um carinho muito grande da parte deles por mim.
Quando foi na altura da pandemia você foi muito ativo, ia cantar para a sua varanda e muita gente chegou a assistir aos seus concertos. O que o motivou a cantar?
Queria animar as pessoas depois de toda a crise sanitária que estávamos a viver. Não podíamos sair à rua e estávamos todos entretidos, estávamos em comunidade, apesar de todo o distanciamento fisico que tínhamos. Éramos felizes nestes pequenos momentos. Após ter feito o primeiro espetáculo, as pessoas pediam-me, queriam ouvir-me. Era o único alento que tinham.
Sente que neste momento Gondomar acaba por valoriza-lo mais enquanto gondomaranse?
Há cerca de 2 anos que sinto isso. As pessoas começaram a reparar que eu estava cá, porque sempre escolho Gondomar e Fânzeres para tudo. O espetáculo que realizei em Fânzeres foi marcante, foi emocionante para mim. Estou cá há 50 anos e sinto que cantei na minha terra, na terra que me viu crescer. Sinto-me um Fanzerense. E todas as coisas que me são oferecidas pelo Municipio de Gondomar estão no topo da minha cómoda. Gondomar para mim é a minha casa e é bem mais importante que Lisboa. Foi Gondomar e Fânzeres que me trouxe tudo de melhor, e ao contrário do que dizem não é preciso ir para Lisboa para se ter uma carreira, eu tive tudo aqui.
O que nos pode dizer sobre este novo álbum?
Estou a pensar gravar um videoclip aqui em Gondomar, no Parque Urbano, porque tem coisas bonitas e em video vai ficar esplendido.
O que mais o orgulha nestes 50 anos?
É a carreira que tenho tido aliado ao reconhecimento do público e onde vou tenho sempre multidões. E quero realçar que quando vou ao estrangeiro os gondomarenses estão sempre lá para me apoiar.
Para finalizar, como é que se auto-define?
Sou um homem que nasci para a música e gostava de viver mais anos. 75 anos já é marcante, mas se até aos 100 tiver voz, até aos 100 irão ouvir-me cantar.