
Em 2010, Shao Jieni passou a representar a equipa de ténis de mesa da Ala Nun´Álvares de Gondomar. A atleta veio da China com 16 anos – atualmente tem 21 - e passou a morar em Gondomar, sem saber falar português ou inglês. Cinco anos depois Shao é uma das grandes promessas do ténis de mesa nacional e espera competir nos próximos Jogos Olímpicos de 2016, por Portugal. Em entrevista ao Vivacidade, a atleta contou com a ajuda do treinador Mário Pedro Couto para confessar a ambição que tem em jogar pelo país que a adotou.
Como começou a tua carreira no ténis de mesa?
Shao Jieni (SJ): Comecei a jogar ténis de mesa com seis anos porque queria praticar desporto e gostei da modalidade.
Vieste para Gondomar em 2010, como foste recebida?
SJ: Não conhecia Gondomar, nem sabia falar português ou inglês. Nos primeiros dias foi difícil mas gostei das pessoas e ajudaram-me muito. Estou a aprender a falar português e é cada vez mais fácil.
Já te sentes uma gondomarense?
SJ: Sim, e gosto de viver em Gondomar.
A tua classificação no ranking mundial – 39ª em sub 21 e 113ª em seniores femininos - é uma grande responsabilidade? Obriga-te a ser melhor?
SJ: Quero ser sempre melhor e conseguir uma classificação mais elevada. Só consigo atingir esse patamar com o treino e um dia gostava de ser a melhor do mundo.
O processo de naturalização já está em curso. Estás mais próxima de jogar por Portugal?
MPC: Não sendo ainda uma garantia a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM) diz-nos que até ao final do mês de agosto o processo poderá estar concluído.
Querias muito jogar por Portugal?
SJ: Sim, era muito importante.
Caso o processo de naturalização fique concluído em agosto vais competir por Portugal no Campeonato da Europa, em setembro. Já estás a treinar para atingir esse objetivo?
MPC: Essa é a perspetiva da FPTM. Nem põem outra hipótese. A Shao vai competir nas categorias individual, pares e equipas por Portugal.
SJ: Vai ser difícil porque é o meu primeiro Campeonato da Europa.
A primeira prova internacional por Portugal vai ser especial?
SJ: Estou muito contente e ansiosa por jogar por Portugal. Sinto-me confiante. É a primeira vez que vou competir a este nível e caso corra mal vou ter mais oportunidades.
Esta época tem sido importante para a tua carreira?
SJ: Tenho feito jogos muito bons. Agora tenho que jogar cada vez melhor, quer em Portugal quer em França.
MPC: A Shao compete no campeonato português e no campeonato francês. No campeonato francês teve uma derrota e em Portugal ainda não perdeu. Para além destas competições regulares tem também participado nas provas World Tour e este é um ano em que a Shao está a dar um passo importante na sua carreira internacional.
As provas World Tour têm sido exigentes?
SJ: Tenho defrontado grandes atletas e são provas que servem para integrar o circuito mundial da modalidade.
MPC: Estas provas são importantes para chegarmos fortes ao Campeonato da Europa. Além disso, contam para o ranking mundial, que também classifica os atletas para os Jogos Olímpicos de 2016. Neste momento, a Shao representa Portugal nessas provas individuais.
Já pensas nos Jogos Olímpicos?
SJ: Sim, treino todos os dias duas vezes e descanso um dia por semana. Penso muito nos Jogos Olímpicos.
A fase de qualificação começa em abril de 2016, em Istambul. Estás preparada para esses jogos?
MPC: A fase de qualificação europeia qualifica 11 atletas. É muito difícil ela conseguir a classificação nessa prova mas a Shao pode garantir a classificação através do ranking mundial, caso fique entre as 22 melhores atletas do mundo. No entanto, vão sobrar vagas porque só se classificam duas atletas por cada país e a Shao pode garantir a classificação para os Jogos Olímpicos, caso esteja entre as 70 melhores atletas mundiais.
Como avalias o ténis de mesa em Portugal?
SJ: Há bons jogadores em Portugal. O Marcos Freitas é um dos melhores jogadores mundiais e espero que venha a ter a melhor atleta do mundo quando o meu processo de naturalização ficar concluído [risos].
O Marcos Freitas serve de inspiração?
SJ: É muito bom jogador. Na China todos conhecem o Marcos e é um jogador temido a nível mundial.
Na China há mais adeptos da modalidade. Sentiste essa diferença?
SJ: Sim, em Portugal há poucas pessoas a assistir aos jogos. Na Europa as pessoas não ligam tanto ao ténis de mesa. Na China o ténis de mesa é o desporto mais praticado e as televisões transmitem os jogos importantes.
Qual é o teu ídolo?
SJ: É a Ding Ning, a atleta número 1 do ranking mundial feminino. Tem um estilo de jogo parecido com o meu e também é esquerdina. Gosto muito de a ver jogar.
Mário Pedro Couto sobre Shao Jieni:
O que podemos esperar da Shao Jieni?
MPC: A Shao tem um potencial enorme e caso tenha os apoios institucionais e financeiros a seu favor, podemos ter aqui uma atleta de grande nível europeu. Nos próximos anos vamos ouvir falar muito desta atleta.
Como caracteriza o estilo de jogo da Shao?
MPC: É uma jogadora ofensiva, muito rápida e com um top-spin de direita muito forte. Em jogo aberto é fortíssima.
Os Jogos Olímpicos são a próxima meta. Como têm preparado essa competição?
MPC: Temos necessidade de competir contra atletas de alto nível. Temos a sorte de ter excelentes atletas em Gondomar e um grupo de trabalho de grande nível. Falta-nos a capacidade orçamental para participar em mais estágios e competições internacionais.