Todos nós já fomos bombardeados com expressões médicas que nos assustam, mas que na realidade não conseguimos perceber bem o seu significado.
O que é o risco cardiovascular? Um conceito inespecífico? Um marcador de doença? A curiosidade é importante e devemos perguntar-nos o que significa para obtermos uma resposta.
A vida é um ciclo, por mais que tentamos combater e que a medicina continue a evoluir, este ciclo terá sempre um princípio e um fim, o que podemos fazer durante a nossa vida, é moldar esse fim, torná-lo menos sofredor e brusco.
Uma boa maneira? Evitarmos ter um elevado risco cardiovascular. Como conseguimos fazê-lo? Vamos tentar responder a estas perguntas nos parágrafos que se seguem.
O risco cardiovascular, tal como o nome indica, é a probabilidade que cada um tem de ter um evento cardiovascular no futuro, que continuam a ser das principais causas de morte em Portugal.
Existem vários fatores que entram na equação para determinar o risco CV. Em primeiro lugar temos de definir os fatores de risco em dois grandes grupos:
Fatores de risco não modificáveis, ou seja aqueles que estão intrínsecos a cada um de nós, são eles, a idade, o sexo, e a herança genética.
Fatores de risco modificáveis, ou seja aqueles em que devemos trabalhar para erradicar, são eles, o consumo de tabaco, a diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade e sedentarismo.
Portanto, à medida que a idade aumenta, o risco de ter um evento cardiovascular aumenta. O facto de se ser homem aumenta também esse risco, no entanto, podemos atenuá-lo sendo o mais saudáveis possível. Parar de fumar é algo obrigatório, o tabaco constitui um dos mais importantes fatores de risco no que toca a morbi e mortalidade por eventos cardiovasculares. Não devemos ter medo de pedir ajuda, não devemos ser arrogantes pensando que nunca nos acontecerá nada de mal. Para que possam compreender o quanto o tabaco contribui para exponenciar o risco cardiovascular, deixo-vos o seguinte exemplo prático: um homem de 65 anos com colesterol elevado e pressão arterial relativamente controlada, tem cerca de metade da probabilidade de ter um evento cardiovascular quando comparado com alguém na mesma condição, mas que seja também fumador.
Posteriormente, temos algo que para mim é igualmente importante, evitar o sedentarismo! Temos de mudar rapidamente o nosso estilo de vida “trabalho-sofá-cama”, criamos falácias dentro da nossa sociedade em que achamos que por caminharmos 15 minutos para regressar a casa é suficiente exercício físico, isto é absolutamente mentira! Temos de efetivamente colocar na nossa agenda, no mínimo 3 momentos de exercício média/grande intensidade numa semana, para usufruirmos dos benefícios cardiovasculares da atividade física. Apesar de desafiante, é apenas uma questão de hábito e de força de vontade, acredite!
Nunca nos podemos esquecer da alimentação, para além de controlar o excesso de peso, também ajuda a evitar doenças silenciosas e gravíssimas como a dislipidemia e a diabetes. Nunca se deve desvalorizar estas patologias, temos o hábito de praticar um raciocínio em algumas áreas da saúde de “o que os olhos não vêem, o coração não sente”, ironicamente é precisamente o contrário.
Então e afinal temos risco de vir a ter o quê? Resumidamente, tudo aquilo que queremos evitar! Ou seja, síndrome coronário agudo (“enfartes”), acidente vascular cerebral (AVC), doença vascular periférica (problema na circulação periférica que poderá levantar a amputação de membros).
Este risco que, na nossa prática médica, calculamos com apoio de ferramentas específicas e que posteriormente se traduz num número, permite-nos medicar e aconselhar o doente que se apresenta perante nós em conformidade, e lutamos em todos os doentes para que este seja o mínimo possível! Nunca se esqueça, um valor alterado de glicemia, de colesterol ou de pressão arterial, a longo prazo, isoladamente, não tem o verdadeiro impacto, mas sim em associação com tudo o resto, por isso devemoscombater todos de uma só vez! Fazendo exercício, comendo bem e evitando o tabaco, o caminho estará certamente a ser bem percorrido!
O ser humano é como uma máquina, há peças fundamentais, mas o desgaste de pequenas peças poderão igualmente fazer a máquina parar.
Renato Gonçalves
Médico interno de formação específica em Medicina Interna
Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior
Sócio da www.girohc.pt/