No dia 9 de outubro, decorreu o Festival Canção Vida, onde Gondomar saiu a festejar com a conquista do primeiro lugar do pódio através da atuação de Luís Guedes. Um evento onde concorreram quase 100 pessoas/bandas e onde este- ve o vocalista dos The Black Mamba, Tatanka.
Como é que surgiu o seu gosto pela música, esta arte esteve desde sempre presente na sua vida? Conte-nos um pouco sobre si.
Desde cedo que estive rodeado de música, apesar de, numa fase inicial, não lhe ligar muito. Só queria correr e jogar à bola. Cresci com uma bola nos pés ou nas mãos. Sempre adorei desporto e fui atleta de basquetebol durante doze anos. A música posso dizer que veio mais tarde. Tive aquele clique de querer, do nada, aprender a tocar guitarra como aqueles craques que via no Youtube. Ao início era frustrante porque não conseguia, mas quando ia conseguindo fazer algo parecido era uma sensação incrível. E melhor ainda era mostrar às pessoas e elas gostarem do que fazia.
Depois, foi tudo surgindo de forma natural. Comecei a tentar cantar, o que foi sem dúvida, um processo engraçado, na medida em que nunca o tinha experimentado antes dos 17/18, nem no banho. Até que, quis começar a fazer as minhas músicas. Sempre gostei muito de criar. Na verdade, 99% das vezes em que pego na guitarra ou no piano é para tentar fazer algo diferente do que já existe, ainda que tenha consciência de que é impossível ser 100% criativo. No fundo, gosto de contar histórias. Principalmente, através da música, que é onde mais quero singrar. No entanto, também gosto de escrita pura e dura. Tenho já um livro publicado. Chama-se “A Menina dos Cabelos Ruivos”, e tenho um segundo livro para sair em breve, completamente diferente do primeiro!
Teve alguma formação na área?
Formação musical, propriamente dita, não. Mas tive aulas de guitarra no Orfeão de Rio Tinto, onde posso dizer que fui muito feliz. Gostei muito de lá andar. Fiz lá boas amizades e tive muita sorte com o professor que tive. Estimulou-me imenso a aprender a fazer o que quero na música e a ter a força de vontade de ir atrás disso, por mais difícil que seja. Acho isso muito importante. Em muitas escolas de música, pelo que vou ouvindo através de amigos meus, isso não acontece. Há um plano de estudo e, independentemente das características do aluno, é para seguir. Acho que se estivesse nessa situação nunca me teria apaixonado pela música de forma tão profunda. Tive mesmo muita sorte em ter tido aulas de guitarra com o professor Rodolfo Cardoso!
Qual é o seu estilo de música?
Genuinamente, tenho muitas dificuldades em responder a essa questão. Um exemplo disso são as minhas playlists que são uma autêntica confusão. Não fazem sentido nenhum! Sou capaz de ouvir sequencialmente músicas dos Bon Jovi, dos Beatles, da Olivia Rodrigo, do Miguel Araújo, do Eminem... acho que não há um padrão. Gosto de ouvir tudo e de tirar ideias em tudo o que ouço. Isso reflete-se na música que faço, acho eu. Se tivesse de escolher um estilo seria pop, no entanto acho que nunca me conseguiria vincular a um só estilo. Gosto de variar, no entanto gosto sempre de fazer coisas simples e que entrem facilmente no ouvido. Sou fascinado por música simples, precisamente, por ser difícil de fazer. Muitas vezes não consigo simplificar, mas quando consigo fico muito contente. Para mim, quanto mais simples soar, melhor.
Hoje, consegue viver completamente da música?
Nesta fase, não. É complicado, principalmente para quem está a começar, ainda por cima num país que aposta tão pouco na cultura. Não é uma crí- tica, apenas uma constatação de algo que é evidente e de que é preciso ter consciência. A pandemia veio demonstrar que mesmo os profissionais da cultura com grande notoriedade tiveram dificuldades em sobreviver a este período de crise. Nomes que, se calhar, nunca acharíamos que esta- riam em dificuldades. Já para não falar de técnicos, engenheiros de som, etc... por detrás do artista estão muitas pessoas altamente qualificadas que são indispensáveis para que a cultura aconteça. No entanto, apesar de ser difícil, é, sem dúvida, um objetivo e um sonho que tenho! Farei tudo por isso.
Como é que começou o seu percurso nos festivais? Este foi o seu primeiro?
Em que tive a oportunidade de participar, sim! Foi a primeira vez que toquei num festival. Ter ido foi espetacular. Ganhar nem era uma questão em que pensava, para ser sincero. Só queria aproveitar a experiência ao máximo. É engraçado que mal entrei na sala de espetáculos, senti-me, estranhamente, em casa. Estava um bocado nervoso, por não ter muita experiência em tocar neste tipo de eventos tão grandes, mas, sinceramente, acho que senti que é ali que gosto de estar. Naquele tipo de contexto. Por mim, ficava ali a noite toda a tocar, se fosse possível!
Como é que teve conhecimento do Festival da Canção Vida? E como é que foi a preparação para participar no mesmo?
Boa questão. Sinceramente, não sei precisar. Acho que foi através de um anúncio no Facebook. Não tenho a certeza, mas foi através das redes sociais. Em termos de preparação, acho que foi só fazer o que tenho vindo a fazer. Treinar muito. Eu e a minha guitarra, quase sempre. Ou eu e o piano. É como me sinto mais confortável, apesar de a exposição ser maior, por ser só uma pessoa em palco.
Como é que se sentiu no momento em que percebeu que tinha vencido?
Muito feliz, claro! Acho que a primeira coisa que fiz foi perguntar às pessoas que estavam ao meu lado se tinha, realmente, ouvido bem. Porque não estava mesmo à espera e fiquei, até, um pouco atarantado e sem reação. Sei que é daquelas coisas que toda a gente diz. Que nunca espera ganhar, mas, genuinamente, eu não estava à espera. Não estava mesmo. E nem estava triste com isso! Não que não gostasse da minha canção e que estivesse desapontado com a minha atuação, mas porque havia músicos incríveis e acho que qualquer um que ganhasse, seria justo. Ainda que com estilos diferentes, gostei mesmo muito de ouvir todos eles. Sem exceção.
O que é que espera para o seu futuro? Principalmente na área artística, tem alguns projetos já em mente?
Acho que o que torna a vida, até certo ponto, engraçada, é também o fator surpresa. Logo, em termos artísticos, muito sinceramente, não sei. Possivelmente, daqui a uns meses estará tudo diferente, quem sabe...muitas vezes surgem oportunidades que não esperamos.
Acho que só podemos contar com aquilo que controlamos. Por isso, dentro daquilo que controlo, espero continuar a fazer mais música, muita música! Tocar mais vezes ao vivo, quantas mais melhor. No fundo, ir-me preparando para o que poderá estar para vir e sem dúvida, aproveitar o processo para evoluir cada vez mais. Gosto do que tenho vindo a fazer e não quero que fique por aqui!