O Rancho Folclórico de Zebreiros comemorou 65 anos, entre a luta no que realmente era considerado folclórico ou não. Apesar da árdua luta consideram estar na Federação de Folclore Português e continuam a honrar tradições. Estivemos à conversa com Rita Gomes, coordenadora técnica do Rancho de Zebreiros e antiga conselheira técnica da Federação de Folclore português e com Lúcia Santos, uma das responsáveis.
1 – Como é que surgiu o Rancho Folclórico de Zebreiros?
Rita Gomes (RG): O grupo oficialmente iniciou-se em 1959, embora tenha começado três anos antes. Os antigos gostam muito de recordar estes três anos que estão para trás. O nosso santo é o São Jorge e, em 1949, foi construída a capelinha em honra do Santo, e para se angariar dinheiro para fazerem os altares foi criado o rancho. Sou do tempo em que os trajes e os dançares do rancho não eram os originais. Em 1959, tinha 10 anos, e a mente já era diferente no que toca às coreografias e aos trajes, mas mesmo assim não fomos às raízes, nem ao original do folclore, fizemos saias amarelas, blusas brancas, colete preto, não tínhamos nada original. Sou desse tempo e ainda estou no rancho.
Em 1970 o acordeonista morreu nas colónias. Era muito difícil termos homens para dançar. Ele faleceu e nós paramos. Estivemos sete anos parados. Em 1977 no São Jorge, como não poderia deixar de ser (risos), pensamos em recriar o original no folclore. Já tinha 27 anos. Fomos aos antigos tentar perceber como é que era. Fomos procurar os trajes com as pessoas que já tinham entrado antigamente. Eles ensinavam-nos a dançar e a cantar e nós aprendemos só a ver uma vez. Eu adoro o folclore! É a minha segunda família. Eu tenho a minha família de sangue, mas eles são do coração.
2- Até onde já levaram o Rancho?
RG: Já fomos a São Paulo, no Brasil, durante três semanas e foi muito giro
3- Qual é o seu papel no rancho?
RG: Antigamente só dançava e cantava, agora também ensaio. Mas não é fácil ser ensaiadora porque temos de escolher pares e as vezes temos de tirar uns para pôr outros.
4- Como aprendeu a ensaiar os outros?
RG: Quando quando era nova dançava como eles, sabia dançar por isso sei ensinar. Como eu aprendi posso ensinar os outros.
5- Há critérios para entrar no rancho?
RG: Estamos a representar o passado, não podemos usar unhas de gel, maquilhar, etc. Porque antigamente não havia nada disso. Claro que há componentes que têm, mas nas atuações eles tiram. O nosso objetivo é manter as tradições e tentamos segui-las à risca. O facto de não usarmos nada disso são regras do bem trajar. Porque existem registos etnográficos do nosso lugar e queremos representá-lo da forma mais fiel possível. Claro que há coisas que têm de ser adaptadas, como os palcos e assim, mas o nosso principal foco é a representação da pessoa corresponder aos nossos antepassados. São 65 anos a honrar as tradições, os usos e costumes dos nossos antepassados. Porque o folclore não é só cantar e dançar em cima de um palco, há as mesinhas, os pesquins, as janeiras, há a questão do trajar e do orar, a própria questão dos lenços. É olhar para o “boneco” e perceber que as coisas não está assim por acaso.
6- O rancho é CIOFF (Conselho Internacional de Festivais Folclóricos e Artes Tradicionais)?
Lúcia Santos (LS): Fazemos parte da Federação de Folclore português e fazemos alguns eventos para o CIOFF, porque não fazemos o festival internacional com bandeira de CIOFF. Estivemos muitos anos para ser federados, antigamente o Presidente da Federação ia ver os nossos ensaios e as nossas danças e achavam que não eram folclóricas o suficiente. E, também, por isso tivemos necessidade de procurar os nossos costumes antigos para conseguirmos ser federados. Os componentes achavam que as danças não eram bonitas, mas lá está o que é “bonitinho não é folclore”.
7- Têm algum apoio municipal ou a nível local?
LS: Temos o subsídio que é dado às coletividades no final do ano. Temos feito algumas obras e também contamos com o apoio do Município, bem como os autocarros para os encontros também disponibilizam.
8- São remunerados pelas presenças que fazem?
LS: Nos festivais de folclore funciona em regime de permuta, nós vamos lá e eles vêm cá. O que não invalida que não nos paguem por atuações, em romarias, restaurantes, hotéis. Este ano fomos a Sernancelhe, por exemplo, e fomos remunerados.
9- O que é que as pessoas podem encontrar no Rancho de Zebreiros?
RG: No nosso rancho temos duas vertentes: o folclore e a dança moderna. Tem de 52 crianças e adultos a nosso cargo, com cinco escalões, o mais novo tem dois anos e meio e o mais velho tem 52. Nós participamos nas festas do concelho. Tentamos sempre que o grupo de dança moderna faça a abertura para mostrar que é possível unir os dois mundos da tradição e da modernidade porque se não trouxermos a tradição para os dias de hoje também morre.
10- Este ano, onde é que os nossos leitores os podem ver?
LS: No festival nacional, onde tentamos trazer vários grupos das várias regiões e dos vários locais, normalmente são espetáculos temáticos para mostrarem as suas tradições. Aconselho as pessoas a visitarem é muito trabalho investido nos cenários, já somos conhecidos por isso, é preciso uma boa dose de loucura para fazer aqueles cenários (risos). Além disso em todas as romarias de Foz de Sousa, exceto em Gens. Para mais informações também podem seguir o Rancho Folclórico de Zebreiros, no Facebook.
11 – A quem devem um obrigado?
A toda a gente que passou pelo Rancho Folclórico de Zebreiros, às entidades que nos apoiam, e aos componentes que continuam connosco.