1 - No dia 26 de maio os portugueses vão votar para eleger os nossos representantes ao Parlamento Europeu. E até ao próximo outono o país vai viver em ambiente de campanha política. Agora para as europeias, e logo a seguir para as legislativas. Tempos impróprios para a reflexão serena sobre o que é essencial. Só a propaganda eleitoral, as quezílias pessoais, os casos partidários, as futilidades ilusórias têm espaço nas narrativas mediáticas, a maior parte das vezes sem que o cidadão normal chegue sequer a perceber o que está em causa.
Mas este é também um tempo, por paradoxal que pareça, para avivar memórias sobre os grandes escândalos que pontuam as mazelas da maior crise económico-financeira dos últimos cem anos. Nas grandes e nas pequenas economias como a portuguesa. Não se pense que tudo já passou. Bem ao contrário, há faturas em aberto que vão durar décadas. Sobretudo todas aquelas que resultaram de opções políticas, económicas, empresariais ou financeiras desastrosas.
2 - Não será exagero dizer que o maior passivo que vai ficar por muitos anos da crise portuguesa é a perda de confiança nas instituições políticas e nos seus dirigentes. Instalou-se a ideia generalizada que não se pode confiar em nada nem em ninguém. Genericamente, para a maioria dos cidadãos, os políticos estão lá para cuidar da sua vidinha… Por isso, nunca como hoje houve tanta desconfiança em quem nos governa, ou em quem tem a obrigação de fazer justiça, mas não a faz, sem que se perceba porquê.
Os casos mais flagrantes focam-se nos responsáveis pela gestão dos bancos. Veja-se a pouca vergonha que foi uma recente audição parlamentar, na Assembleia da República, ao empresário madeirense Joe Berardo, que deve mais de mil milhões de euros à Caixa Geral, e diz que pessoalmente até nem tem dívidas. Simplesmente porque lhe emprestaram todo este dinheiro sem qualquer garantia. É por estas e outras que se perde a confiança em toda a malha de instituições, públicas ou privadas, a quem o cidadão anónimo responsabiliza por estes escândalos. 3 - Os inquéritos parlamentares sobre a desastrosa gestão de bancos que colapsaram, como o BPN, o BPP, o BANIF, e o BES (entre outros menos expressivos), e bem assim os escândalos em torno da gestão da Caixa Geral de Depósitos e as disputas pelo controlo do BCP são exemplos que deixam feridas que vão perdurar por décadas. Porque o povo não acredita na justiça, como não acredita nos políticos. E sente-se injustiçado quando se vê penhorado por uma qualquer ridícula dívida de um imposto de que nem teve conhecimento…
Os portugueses não podem dormir sossegados enquanto virem as mesmas caras que concorreram para estas tragédias à frente das principais instituições bancárias. A começar pelo Banco de Portugal e por outras instâncias fiscalizadoras. Porque quando se perde a confiança, nada mais há para perder. Mas tão grave como isto é o cidadão sentir que não somos todos iguais, e somos tratados consoante a malha de interesses que se cruzam. Por isso se diz, que “quem tem amigos não morre na cadeia”.É intolerável que assim seja!