A Noite Branca marca o início da Romaria em Honra da Nossa Senhora do Rosário, em Gondomar. Uma festa com tradições e com quase três séculos de existência continua a trazer milhares de romeiros para as cerimónias religiosas e, também, para os momentos profanos.
Estivemos à conversa com os principais organizadores deste evento: José Garrido e António Koch, da Confraria de S.Cosme, S.Damião e Nossa Senhora do Rosário, que nos revelaram não só partes do programa religioso como, também, algumas das tradições que se viviam nesta época.
O que podem os gondomarenses esperar desta festividade?
Primeiramente gostaríamos de mencionar que faz, este ano, 100 anos que foram retirados os azulejos que cobriam as paredes laterais da Igreja Matriz de S.Cosme. Por isso iremos realizar uma exposição sobre os azulejos da igreja. Este ano estivemos a estudar sobre esses azulejos, contactamos o Museu Nacional de Azulejos e a Faculdade de letras da Universidade de Lisboa, com a professora Rosário Salema de Carvalho, que é uma entendida nesta área e percebemos onde é que estavam alguns deles e como é que era feita a sua arte. A nossa igreja é de 1727, vai fazer 300 anos em 2027, e esses azulejos, pelo que percebemos, terão vindo da igreja anterior. Esta exposição começa a 18 de setembro e é um dos pontos altos.
Relativamente ao programa propriamente dito: no dia 25 de Setembro temos o concerto dos padroeiros, com participação do conservatório de música de Gondomar e do grupo Emar; dia 26 é o dia dos padroeiros e teremos, pelas 21h30, a eucaristia e depois entramos no fim de semana grande do Rosário. Nesse fim-de-semana, no sábado temos o desfile das bandas de música do concelho, no domingo a solene eucarística com o D.Manuel Linda e a procissão que é um ponto alto, onde incorporam as cruzes do concelho e da vigararia. Na parte da confraria estes são os pontos mais altos dos momentos religiosos.
Quando se fala desta festa, fala-se, inevitavelmente de tradições, o que mudou?
Há tradições que se mantém e outras que se estão a perder há coisas que se alteraram com o tempo, notamos bastante isso. Lembro-me de ler que antigamente se comia peixe frito na altura festa, os divertimentos eram em força, no Souto. Nas festas havia sempre confusão, já era normal (risos). Antigamente as pessoas vinham de cesta de mão, vinham a cavalo e esperavam pela procissão. Era uma festa muito central. O que temos perdido é que a festa se tem deslocado, em vez de ser no centro e na igreja está a ser deslocado para a periferia da igreja. Agora ainda mais difícil será porque no Souto está o terminal rodoviário e o metro irá passar na frente da igreja. Aí já não vai ser possível voltar às tradições da festa de serem em torno da igreja.
Na parte profana acha que os concertos, também, deveriam ser noutro local?
Os concertos da festa está no melhor sítio que tem para se fazer, porque está mesmo ao lado da igreja. Agora os divertimentos e os feirantes era ao longo da rua até ao Souto, mas agora já não dá para fazer isso.
Nota que os gondomarenses mais jovens participam na procissão?
Sim, mas não na mesma proporção de antigamente.
Quais são as expectativas para as festividades?
Estamos a contar que venha o que tem vindo. Temos sempre muitas pessoas a assistir, mas notamos uma quebra de romeiros, antigamente vinham muitos, do outro lado do rio, como Santa Maria da Feira e cada vez vêm menos. Achamos que as gerações mais novas cada vez têm menos pretensão para vir as festas. Ainda fazemos a divulgação das nossas festas nesses territórios, como Santa Maria da Feira, Canedo, Crestuma, Lever, Grijó, Paços de Sousa, colocamos o nosso cartaz das festas tanto religioso como profano, em pontos estratégicos dessas localidades. As pessoas mais antigas ainda gostam de saber, as mais novas já vão perdendo esse gosto. Se houver um concerto que os atraia ainda vêm, agora uma procissão ou uma missa, já notamos que há gerações mais novas que vão perdendo essa tradição.
Querem apelar a esses jovens para virem à festa?
Queremos que as pessoas participem na romaria e que participem nos momentos litúrgicos que a confraria promove. Começando pela exposição que sem dúvida vai ser uma coisa especial, por todo o trabalho envolvente e pelo apoio que tivemos para que isto fosse possível, acho que este ano vai ser muito bom a nível de programa. Temos nesta exposição uma grande dedicatória a uma pessoa que sempre nos apoiou neste trabalho, que não está connosco, Francisco Ascensão, e esta exposição é um bocado dedicada a ele.
Após a parte religiosa, não poderia faltar a gastronomia. Além das tasquinhas, que são um ponto fulcral nestas festividades, promovidas pelo movimento associativo, não podíamos deixar de falar da Confraria de Caldo de Nabos, responsável por uma das maiores tradições do centro do concelho, Zara Costa, conta-nos todas as tradições adjacentes e o que tem sido feito para que não se percam ao longo do tempo.
“A confraria do Caldo de Nabos de Gondomar é uma Associação, criada a 5 de Abril de 2017 por pessoas do concelho de Gondomar, que visa a defesa, o prestígio, a valorização, a promoção e a divulgação da gastronomia regional com principal incidência no caldo de nabos, e da qualidade dos produtos culinários e culturais que lhe estão associados. São, também, propósitos da Confraria do Caldo de Nabos de Gondomar a divulgação, valorização e defesa cultural e gastronómica, o seu significado histórico, o seu interesse cultural e económico, numa lógica de promoção e manutenção da qualidade do Caldo de Nabos de Gondomar. Foram 13, os confrades fundadores e atualmente contamos com 40 confrades.
A tradição do Caldo de Nabos de Gondomar é bem antiga e muitas são as tradições a esta associadas e que a Confraria se encontra a recolher para que não se percam com o tempo. Temos desenvolvido e participado em várias atividades de promoção desta nossa iguaria. Realizamos já uma recriação da confeção do Caldo de Nabos (e temos realizado showcookings e degustações, nomeadamente na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) e no II Património Enogastronómico de Montalegre.
A realização dos Capítulos, nos quais é realizada a cerimónia de entronização de novos Confrades, acontece por altura das festas do Concelho. Neste âmbito, destacamos a realização do 1º desfile que pretende recuperar uma tradição bem conhecida que é a dos Romeiros. A integração dos romeiros no desfile remete para tempos antigos em que muitos Romeiros de diferentes locais se dirigiam à Romaria do Rosário, de S. Cosme e S. Damião e que saboreavam o Caldo de Nabos de Gondomar. Muitas são as histórias associadas a esta caminhada e que, ainda hoje, passam de geração em geração. Um outro momento que contemplamos no programa de cada Capítulo é a romagem ao cemitério para depósito de flores em homenagem aos agricultores falecidos de S. Cosme. Outros 2 símbolos que muitos nos honram são o nosso hino e estandarte. O Hino foi também inteiramente criado pela confraria, letra e música. O nosso estandarte é uma peça de arte e a sua execução foi inteiramente confiada a artistas Gondomarenses. Destacamos o nosso Brasão criado pelo Mestre Zulmiro de Carvalho, o centro de filigrana simbolizando a arte Gondomarense e a panela de 3 pernas representando a intemporal e saudosa panela de ferro fundido. No futuro, continuaremos a promover o Caldo de Nabos de Gondomar nomeadamente, junto dos mais jovens para que possam conhecer esta iguaria tão tradicional da gastronomia Gondomarense”.
Sem o Município as festas não seriam tão completas. É um trabalho de equipa entre todos. Para este ano, o vice-presidente, Luís Filipe Araujo, espera milhares de pessoas nesta romaria. “Estamos a falar das nossas tradições e de quase 300 anos de história. A nossa confraria de S.Cosme, S.Damião e Nossa Senhora do Rosário vai fazer 300 anos em breve é disso que falamos de uma celebração com três séculos. Contamos com milhares de pessoas nesta celebração. São boas expetativas trabalhamos em conjunto com a confraria é um trabalho de grande ligação entre todos, um grande agradecimento por todo o trabalho desenvolvido".