À frente dos destinos do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa é o presidente mais titulado do Mundo. Parte para esta eleição com uma certeza, será a última vez que se candidata ao cargo após um longo período de reflexão.
VivaCidade (VC): 42 anos de presidência, o Presidente mais titulado no Mundo. O que falta a Pinto da Costa para encabeçar esta recandidatura?
Pinto da Costa (PdC): Falta-me a academia e mais títulos.
VC: É isso que o move?
PdC: É porque é isso que o povo do Futebol Clube do Porto quer, ir para os Aliados celebrar títulos.
Há pessoas que têm uma vida muito difícil e quando o Porto ganha são mais felizes que aqueles que têm tudo, é por esses que eu luto sempre.
Ainda agora fui a Madrid e o presidente do Real, que é meu amigo, recebeu-me a dizer “olha o presidente mais titulado do Mundo”, até brinquei a dizer que não é ele porque ainda não tem 42 anos de presidência (risos). Mas isso não me interessa, o que interessa é ganhar mais títulos para fazer as pessoas felizes.
VC: Quando fala em títulos é transversal, não se aplica só ao futebol?
PdC: Nos meus mandatos o Futebol Clube do Porto ganhou 2576 títulos, 68 no futebol, mas para mim não chega porque essa gente vive da alegria desses títulos, muitas vezes não tem outra.
VC: É um eterno insatisfeito?
PdC: Sim, a pensar nos outros. Eu estou satisfeito, mas sinto que há cada vez mais gente com uma vida mais difícil e que vê no F.C. Porto a única razão para ter alegrias.
VC: Este processo eleitoral tem sido marcado pela polémica Assembleia Geral no Dragão Caixa e o processo Pretoriano. De que forma este clima tem afetado a sua campanha?
PdC: Até eu ser candidato o candidato Nuno Lobo sempre me tratou com educação e o mesmo aconteceu após a minha apresentação, mesmo depois de já ter perdido umas eleições contra mim. Quanto ao outro candidato, no documentário que fizeram sobre mim fez lá grandes elogios e na apresentação da sua candidatura eu era o “Presidente dos presidentes”, quando decidi apresentar a minha candidatura deixei de merecer todos esses elogios. É uma campanha pela negativa, pela destruição tentando boicotar o projeto da academia e a renovação de alguns jogadores…
VC: Quer especificar?
PdC: Sim, o Martim que renovou agora. Segundo nos disse o empresário do jogador, este foi contactado pelo Raul Costa para que não assinasse agora que depois seria ele a mandar.
Quando eu vi que tudo ia funcionar assim é que me decidi candidatar.
VC: Percebe este clima de hostilidade?
PdC: Sim, porque vêm em risco o plano que tinham.
Quando se vê naquela apresentação, em grande destaque, o Joaquim Oliveira que é um sportinguista convicto com camarote em Alvalade, percebe-se. É o homem que perdeu, porque a sua oferta era muito inferior, os direitos televisivos do F. C. do Porto e agora tenta arranjar alguém que ajude a mudar essa situação.
O Joaquim Oliveira tem 6 ou 7% de ações do Porto e quer fazer o mesmo que fez em Braga, também tinha ações e quando apareceram ao árabes trazidos pelo Antero Henriques meteu lá essas ações e fez um grande encaixe.
Se o Porto, internacionalmente, está cotado em 500 milhões de euros imaginem o encaixe que ele pretendia fazer, não permito que tal aconteça.
Quando foram feitas as SAD’s o FCP tinha 40%, hoje tem 75%, não vendemos nunca uma única ação e vamos comprando para que o clube seja cada vez mais dono da SAD.
VC: Já o tem dito, mas nunca é demais reforçar. Consigo o F. C. do Porto terá sempre a maioria da SAD?
PdC: Eu quero que no final do meu mandato o F. C. do Porto tenha mais percentagem do que atualmente, nunca menos.
VC: Olhando para o futebol, que é o lado mais emotivo do clube, quais os objetivos para o próximo mandato?
PdC: Ganhar o campeonato e tentar estar numa final europeia.
VC: Com Sérgio Conceição ao leme da equipa?
PdC: É o meu desejo.
VC: Já falou com ele?
PdC: Já.
VC: E ele está disposto a ficar?
PdC: Não posso revelar isso.
VC: Nas entrelinhas fica a ideia que ganhando Pinto da Costa no próximo ano teremos Sérgio Conceição como treinador…
PdC: Espero que sim.
VC: E Diretor Desportivo, já tem nome?
PdC: Vítor Baía e Luís Gonçalves, serão os dois.
VC: Tem referido em várias intervenções uma maior aposta nas modalidades como o futsal, futebol feminino, voleibol e surf. Pensa em algo mais que o clube não tenha?
PdC: O andebol feminino.
VC: Equipas já com alguma competitividade?
PdC: Sim. Não logo no primeiro ano, mas ganhar títulos durante o mandato.
VC: Alguma modalidade que o clube ainda não tenha e que surgindo gostaria que mais tarde fosse reconhecida como um legado seu?
PdC: O futebol feminino.
VC: Um tema que também tem despertado muita discussão é a academia. Porquê a escolha da Maia e não, por exemplo, um alargamento do Centro do Olival?
PdC: Acho que isso nem é assunto. Só aconselho uma coisa, ir visitar os terrenos da Maia, que já têm obra, e o local do tal Centro de Alto Rendimento onde em metade do espaço nem é permitido construir porque é reserva.
Estar a comparar um espaço que dizem que pode ter quatro campos e outro que irá ter 11, mais um hotel para 140 pessoas, um mini estádio com cobertura para mais de 2000 pessoas e todas as condições necessárias para os atletas, nem é assunto.
VC: A notícia de que a obra está embargada é falsa?
PdC: É. A obra esteve suspensa 24 horas porque julgavam que já estávamos a fazer serviços para os quais ainda não havia licença. Quando verificaram que estávamos apenas a fazer limpeza levantaram a suspensão.
Uma coisa interessante é que o candidato Villas-Boas disse que a formação poderia esperar 10 a 15 anos, o que é um disparate, quando a nossa obra parou veio de lá dizer que se estava a atrasar a formação. Onde está a coerência?
Brevemente vamos convidar os jornalistas para visitarem as obras na Maia e depois até se vão rir a comparar com o projeto do Olival.
VC: A situação financeira do clube é outro tema que preocupa os adeptos. De acordo com as declarações de André Villas-Boas, o passivo do clube aumentou dos 250 para os 500 milhões nos últimos anos. Como comenta esta afirmação?
PdC: Contas não é a minha especialidade, mas metade desse passivo está seguro pelos direitos televisivos, o dinheiro está garantido.
O restante são dividas de gestão corrente que estão em negociação. Os bancos têm as portas fechadas para o Futebol Clube do Porto, ao contrário do que fazem com os clubes de Lisboa. Portanto estamos a negociar para pagar essas dividas e ficar com um juro mais baixo do que aquele que pagamos atualmente.
VC: Diz que constas não são a sua especialidade mas como Presidente entende que é o responsável máximo por tudo. Quando diz que “a taxa de juro será metade da atual”, o que é metade? Que valores serão? Tem noção?
PdC: Tenho noção, se não for metade é próximo disso, daí a razão de estarmos a negociar…
VC: Mas que valor é esse?
PdC: Neste momento a média dos juros passa os 7%, estamos a tentar negociar na base dos 4,5%.
VC: Preocupa-o este passivo?
PdC: Não. Temos ativos que o cobrem totalmente, se quiséssemos vender 2 ou 3 jogadores cobríamos esse passivo imediatamente.
O passivo preocupa-nos, mas preocupa-nos mais a conquista das taças, que é aquilo que os nossos sócios e adeptos querem.
VC: Outro tema que gerou polémica são os altos vencimentos da administração. O André diz que será um presidente não remunerado, que comentário faz a isto?
PdC: O Luís Filipe Vieira também não era remunerado e acabou onde acabou. Se eu tivesse feito uma fortuna com despedimentos como o André teve provavelmente também colocava o dinheiro no Uruguai, vivia dos rendimentos, não pagava impostos e não precisava de me preocupar de receber um euro fosse onde fosse.
Não sou eu quem decide os vencimentos, é uma comissão de vencimentos que o faz. Se me perguntar quanto ganha cada um não lhe sei dizer. Houve uma comissão que a certa altura definiu que se o Porto fosse campeão havia lugar ao pagamento de prémios e foi isso que aconteceu. Isto já acabou, todos os que convidei nesta recandidatura já sabem que não irão haver prémios.
Uma coisa muito interessante é que criticam os prémios e os vencimentos, mas um dos elementos dessa comissão era o Freire de Sousa que sempre aprovou e assinou as atas de acordo com os restantes membros, sem qualquer interferência minha. Agora é o cabeça de lista do Conselho Superior na lista de quem contesta esta decisão, é uma inquerência inacreditável.
VC: O que fará no dia a seguir às eleições?
PdC: Vou acordar, tomar o pequeno-almoço e venho para aqui.
VC: E se perder as eleições? É um resultado que lhe passa pela cabeça?
PdC: Em qualquer eleição todos os resultados são possíveis, quem pensa o contrário está errado.
Aos sócios só pergunto uma coisa, o Correio da Manhã, a CMTV e A Bola querem o bem do Futebol Clube do Porto? Se acham que sim devem votar no Villas-Boas, se acham que nos querem mal então o voto em mim é óbvio.