Paulo Ferreira, natural de Melres e residente em Fânzeres, é videógrafo e fotografo da natureza reconhecido. No passado dia 7 de Junho fez a apresentação pública de um documentário da sua autoria sobre o Parque das Serras do Porto e contou com a presença de ilustres oradores que partilharam da sua opinião sobre a conservação “do pulmão verde” da Área Metropolitana do Porto.
O Parque das Serras, com uma área de cerca de 6000 hectares, é circundado pelos concelhos de Gondomar, Paredes e Valongo. Caracteriza-se pela vasta fauna e flora com um vasto estatuto de conservação e de vestígios arqueológicos. O Parque é banhado pelos Rios Sousa e Ferreira. Além destas riquezas naturais, ainda pode ser visível o falcão-peregrino, uma espécie que só consegue ver neste local.
No âmbito da preservação desta riqueza ambiental para a Área Metropolitana do Porto e para o concelho de Gondomar, Paulo Ferreira realizou um documentário que pretende alertar para a responsabilidade cívica ambiental.
“A realização deste documentário advém do facto de ter crescido no Alto do Concelho de Gondomar e custa-me ver o estado em que está o Parque das Serras do Porto. Ver que cerca de 90 a 95% dos solos estão a ser adulterados é uma coisa que me preocupa bastante. As máquinas chegam e transformam tudo. Rodarem essa terra toda e plantarem eucaliptos dói-me mesmo, porque não deixam espaço para a fauna nem para a flora autóctone, aquela fauna e flora daqui da região”, explica Paulo Ferreira.
O propósito deste documentário é alertar os cidadãos para a problemática do Parque das Serras do Porto, de forma que quem esteja em torno deste local de facto se manifeste sobre a temática. “Temos de olhar primeiro para os rios que atravessam as Serras, o Rio Ferreira está praticamente todo poluído, o Rio Sousa para lá caminha também. Toda a área verde é atravessada por estes rios, mas não se intervém”.
A Associação do Parque das Serras do Porto, vista como entidade mandatária, por Paulo Ferreira, “deveria ter uma palavra decisiva, até no que toca à plantação dos eucaliptos. As árvores que foram lá plantadas agora, por exemplo, não são autóctones daquela região, são carvalhos que fazem parte do Douro Internacional, mais pequenos e mais finos. Este tipo de plantação tem interesse para as empresas que querem investir no parque e não para a sua preservação”.
“Sugiro que acha um plano de ordenamento do Parque. Houve um que esteve em discussão e entrou agora em vigor, mas acho que não devem ser as empresas a fazer a sua gestão, porque vão sempre lutar pelos seus interesses. Curiosamente, são essas mesmas empresas que vão fiscalizar a aplicação ou não do plano e que irão sugerir onde se pode plantar ou não”, refere Paulo Ferreira e acrescenta, ironicamente, que “é a mesma coisa que um ladrão estar a zelar pelo meu cofre”.
O fotografo afirma que a degradação desta área verde é o que o preocupa. Contudo incentiva que sejam criados locais próprios para a prática dos desportos motorizados, por exemplo.
“Acho que com a existência destes locais e de condições propicias à prática destes desportos por si só pode já ser um filtro no que toca às pessoas que irão ou não frequentar. Por si só este filtro já condiciona a poluição nesse local. Por exemplo, se não existirem passadiços e se o trilho for apenas em terra com subidas há pessoas que não irão fazê-lo. Os passadiços é que podem ser a maior problemática do Parque das Serras porque as pessoas têm medo da terra. Sentem-se acima dela quando se deslocam em passadiços”, confessa.
O turismo está nos passadiços, segundo o gondomarense, “é isso que cria poluição, o ser humano está, cada vez mais, a perder o interesse pelo contacto com a natureza. Começa a haver um estigma de ter um planeta mais limpo e sem terra. É isto que faz com que se criem passadiços”, remata.
Alguns dos oradores presentes prestaram declarações ao Jornal VivaCidade sobre esta temática.
Serafim Riem - Direção Nacional da Associação IRIS
A apresentação pública deste documentário é um salto qualitativo para que a plantação de eucaliptos seja interrompida e que se pare de destruir a nossa floresta autóctone, que sã os carvalhos, sobreiros e outras espécies. Este parque é de todos! Não é só dos concelhos envolventes é também de todos os que vivem no Porto, em Gaia ou em Matosinhos. Este aspeto é fundamental.
Eduardo Rêgo – Fundador da Associação ambiental Loving the Planet
Neste documentário é possível ver as pessoas dizer “que foi o rio da vida deles e não conseguem ir lá porque está sujo”. É preciso reabilitar tudo isto! É preciso criarmos uma linguagem universal e isso é da responsabilidade de todos e da Loving in the Planet, por isso é nós aparecemos como consciência ambiental no final. A importância deste documentário prende-se com o sensibilizar as pessoas, não estamos contra ninguém, vamos só fazer aquilo que tem de ser feito, para que toda a população usufrua, para que se façam caminhadas bonitas em comunhão com a natureza. É extraordinário isso. Não temos tantos espaços nobres que mereçam esta alcunha de maravilhosos, dignos, quase divinos para o nosso encontro com a natureza. É necessário preservarmos isto.
Filipa Almeida – arquiteta paisagística
O plano de gestão que existe para o Parque das Serras do Porto está muito bem delineado, mas tudo depende da conceção do plano, é um excelente plano e o problema é como o vamos colocar em prática, como é que vamos operacionalizar este plano? O que está em causa é que esse plano e a estratégia que está para ser implementada não está a ter resultados. Este documentário vem mostrar isso mesmo que os propósitos que têm de ser implementados não estão a ser concretizados e tem esta valência dar a conhecer ao público em geral o que está a ser feito.