Neste mês foi a vez do VivaCidade acompanhar o dia de Nuno Fonseca, presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto. Durante o dia o autarca revelou investimentos que ambiciona implementar, deu-nos uma perceção do impacto socioeconómico da pandemia nos Riotintenses e revelou outros detalhes sobre a gestão da freguesia.
O dia do presidente de Rio Tinto começa, normalmente, por volta das 9h.. Por causa da pandemia, a primeira coisa que faz mal chega à Junta é o controlo da temperatura. Realizado o procedimento de segurança, segue para o seu gabinete, onde todos os dias, enquanto bebe o seu café, aproveita o tempo para responder às redes sociais. “Eu tenho sempre o hábito de ser comedido com as redes sociais fora de horas, mas antes não era. Agora, há uns tempos para cá, tenho controlado muito o meu horário: tenho um momento específico do meu dia para consultá-las”, comenta. Todas as mensagens são lidas e quando são assuntos da Junta o mesmo regista e redireciona as mensagens.
“Nós somos uma Junta de Freguesia extremamente tecnológica. Isso é claro e é também muito a imagem do meu trabalho, porque sou eu que faço essa gestão da parte tecnológica da Junta, toda essa proximidade é gerida e se não é gerida é toda idealizada e pensada por mim, inclusivamente o nosso site” – refere –, dado que para o autarca as redes sociais são um importante meio de comunicação, que promove a proximidade com os cidadãos.
Após a limpeza das caixas de mensa- gem, por volta das 10h., segue-se uma reunião técnica, que é realizada todas as segundas feiras e que tem o intuito de planear a agenda para cada semana. Presentes na reunião encontra-se toda a equipa de técnicos superiores, para tomar conhecimento dos assuntos que necessitam de ser resolvidos. Terminada a reunião, Nuno Fonseca leva o VivaCidade pelo edifício da Junta para demonstrar o seu atual funcionamento, principalmente em tempos de pandemia. “Nós temos a Junta a funcionar em pleno. Temos algumas situações pontuais que estão a ser realizadas em teletrabalho, mas no global está tudo a funcionar. Temos é algumas regras de contenção”.
No que concerne à secretaria, “tivemos uma altura encerrada, depois abrimos e, agora, neste novo confinamento, cumprimos a legislação: é necessária a marcação presencial”. No entanto, Nuno Fonseca garante que o trabalho manteve-se e que nenhum serviço ficou por fazer, “não houve nada que não fosse feito. Mantivemos sempre o gabinete da ação social a funcionar por telefone, tivemos no terreno uma funcionária que tinha um carro da Junta e levava-o para casa, esta funcionária recebia as indicações do gabinete da ação social, carregava os kits de bens alimentares e distribuía-os. Nunca esteve parada. O pessoal do exterior esteve sempre em piquetes. O que é que nós não fizemos? Não fizemos obras programadas. Agora, o serviço de urgências esteve sempre em funcionamento. Ainda como exemplo, os atestados que a Junta passa – como os de residência, os de pobreza, entre outros –, sempre estiveram a ser feitos e tínhamos um funcionário que todos os dias, às 10h. da manhã, vinha à Junta entregar esses atestados às pessoas. Não houve nenhum trabalho que não fosse realizado”.
Para o autarca, enquanto organismo público, “nós temos responsabilidades públicas, não podemos olhar apenas para o que achamos que é o correto, temos que olhar para aquilo que nós achamos que é o melhor para a imagem que damos à população. Acho que no momento em que o país necessita de confinamento, nós mantermos todos os serviços a funcionar seria uma boa imagem para a população? Então o governo diz: toda a gente em teletrabalho obrigatório, toda a gente em casa, recolher obrigatório, proibido sair do concelho, tudo fechado e a Junta continua a funcionar como se nada tivesse acontecido, isso não é um bom sinal para a população, isso é a nossa principal responsabilidade”.
Atualmente, o autarca explica que graças à informatização e dinâmica da Junta, o cidadão pode aceder à agenda de marcações disponível no balcão virtual e marcar o horário mais conveniente. “Sentimos também a necessidade de implementar o MBway, apesar de já termos as referências de multibanco. Agora este método implementado permite em muitas situações que a pessoa faça o pedido de documentos à distância e realize logo o pagamento e, assim, nós temos a certeza que o mesmo foi realizado ou não”.
Ainda sobre o tema da pandemia, Nuno Fonseca diz que “esta Junta não é igual às outras, ponto. E quando digo isto, não quero de forma alguma desvalorizar as outras, mas trazer responsabilidade para nós, porque temos meios à nossa responsabilidade, quer humanos, quer materiais e quer financeiros, que as outras freguesias não têm. Eu também sou coordenador distrital da Associação Nacional de Freguesias e costumo dizer muitas vezes à nossa equipa que temos a responsabilidade de abrir caminho para outras. Por exemplo, saiu uma norma para fechar os cemitérios. No dia ou no dia seguinte, recebo telefonemas de todos os meus colegas aqui à volta para saber o que nós vamos fazer. Não é para receber ordens: é para saber o que é que Rio Tinto faz. Rio Tinto tem visibilidade e, consequentemente, temos outras responsabilidades”.
Antes do almoço, o autarca revela que a pandemia já custou aos cofres da junta aproximadamente 78 mil euros em despesas diretas,“se estivermos a falar de despesas indiretas, estamos a falar por exemplo que os apoios alimentares que fazíamos duplicou em relação ao ano passado”. Como a Universidade Sénior esteve encerrada, fez a Junta perder 25 mil euros: “ela está fechada, mas há gastos com os funcionários e com as contas”. E, quanto a despesas COVID-19, no ano transato foram gastos 53 mil euros. Destes gastos, tivemos que fazer uma boa gestão do dinheiro e tivemos de saber equilibrar bem as contas e definir prioridades”.
De momento, o autarca explica que o principal objetivo é colmatar a necessidade de alimentação das famílias de Rio Tinto: “seria muito mau se eu confundisse as prioridades. No dia em que eu achar que tapar um buraco é mais importante do que dar de comer a alguém, ou a uma família, estamos com um problema. Em Rio Tinto ninguém vai passar fome”. O presidente revela que com o início da pandemia os pedidos de ajuda duplicaram e continuam a aumentar. Esclarece que “a média dos últimos cinco anos, a nível de apoio alimentar de kits, é de 215. Só em 2020, foram 403”.
O relógio aponta para as 13h., hora em que o autarca sai para almoçar. De volta às 14h., Nuno Fonseca prepara-se para sair a fim de visitar as preparações para a abertura dos cemitérios. Mas, primeiro e como habitual, troca de roupa e coloca uma de trabalho: “para eu ter moral de chegar ao pé de um funcionário e dizer que ele não está devidamente fardado ou que os sapatos não são aqueles, eu não posso ir a uma obra com os sapatos que não são adequados. Essas questões aqui são sempre muito levadas à letra”.
Saímos juntamente com o engenheiro Mário Fernandes e, no cemitério, Nuno Fonseca delega o trabalho à equipa presente no local. Saídos do cemitério, passamos no armazém da Junta, onde Nuno Fonseca teve de tratar de alguns pendentes. Ali, apresentou-nos Rio e Ria, os amigos de quatro patas que a equipa da Junta resgatou e adotou. Depois, partimos em direção à Quinta das Freiras, que está a ser alvo de intervenções devido à queda de uma árvore na linha do metro: “ao todo e de imediato, serão abatidas 18 árvores, o que é uma quantidade muito grande. Iremos repor, depois, muitas mais. Eu já assumi que por cada uma abatida nós plantamos três e é isso que temos feito”.
De volta à Junta, o relógio aponta para as 17h.. O autarca revela-nos que desde
“Desde que tomamos posse em 2013, já houve muito dinheiro investido na freguesia já foram gastos cerca de 50 milhões de euros, juntando investimento camarário e da Junta”
que tomou posse em 2013, “já houve muito dinheiro investido na freguesia. Foram cerca de 50 milhões de euros, juntando investimento camarário e da Junta”. De momento, quanto a obras camarárias encontram-se algumas em execução: “começaram agora as obras de remodelação das piscinas de Rio Tinto, vão começar as obras no Bairro Social de Carreiros, temos a Avenida Nordeste que entra um pouco na zona de Baguim, mas a maior parte é em Rio Tinto. Temos um investimento enorme no complexo desportivo do Sport de Rio Tinto: mais de um milhão de euros. O Centro Cultural está a ser alvo de intervenções na parte exterior, porque estava com grandes problemas. A Câmara ouve-nos. Agora, responde a tudo? Não responde, porque se eles respondessem a todos os pedidos que eu faço, eles estariam a investir todo o orçamento camarário em Rio Tinto. E eu não considero verdadeiro aquele comentário que «tudo é para Rio Tinto». Aliás, se isso for verdade, que me provem: mostrem-me os valores. Por exemplo, ainda agora fala-se muito do Parque Urbano de Rio Tinto: mostrem quanto é que custou o de Rio Tinto e quanto é que vai custar o de São Cosme e o de Fânzeres. Mostrem-me. E com o preço desses, quantos é que eu fazia em Rio Tinto igual ao nosso. Mas eu gosto mais de ficar com os louros daquilo que eu realmente fiz: eu sinto que cada coisa no seu lugar.”
Para Nuno Fonseca, o melhor trabalho que realizou em Rio Tinto, enquanto autarca, “foi um silencioso, na criação de identidade. Passou pela mudança de imagem, pela criação da marca «Rio Tinto somos todos nós», pela mudança do logotipo ligado à lenda, que faz agora 1100 anos. Criei um investimento na quantidade de atividades que é desenvolvida em Rio Tinto. Temos investimento forte em alguns eventos realizados na freguesia. Quando cheguei a esta Junta, o São Bento era uma coisa que estava a morrer. Entretanto, nos últimos anos, é uma coisa brutal. Contamos com investimento da Câmara, porque também não havia outra opção. Quando nós começamos não havia este investimento Camarário: o que a Junta investe hoje no S. Bento, comparativamente ao que a Junta investiu em 2012, é 15 vezes mais. A Universidade Sénior é um projeto fantástico. Quanto à Quinta das Freiras, as pessoas olham e percebem que é um espaço de qualidade, um espaço com wifi. As pessoas podem até marcar através da app do telemóvel o dia que querem jogar ténis e, depois do jogo, podem ir tomar banho. Não há outro sítio em Gondomar que isto seja possível e isto são os pormenores de qualidade da nossa freguesia, entre muitos outros projetos como o do circo. Ou seja, 3500 crianças vão ao circo e doam alimentos ou brinquedos para outras famílias da freguesia, porque Rio Tinto somos todos nós, ninguém fica de fora e passamos ao mesmo tempo uma responsabilidade social aos nossos meninos. Eles é que dão o presente ao Pai Natal que será, posteriormente, distribuído para as famílias mais carenciadas”.
Remata que “há muita coisa que nós não conseguimos fazer por várias razões. Eu queria sair de Rio Tinto com um museu, nem que fosse virtual, porque Rio Tinto tem história, nós temos uma diversidade de pessoas de qualidade em várias áreas”. Paralelamente ao Museu, Nuno Fonseca ambiciona ainda uma sala de espetáculos instalado na sua freguesia, com capacidade para 200 pessoas: “é a maior lacuna cultural que nós temos”. E revela, ainda, a intenção de iniciar o estudo para a construção de um crematório em Rio Tinto, para dar resposta a uma necessidade da freguesia e do concelho.
O relógio aponta para as 18h. e surge a pergunta sobre o futuro. Nuno Fonseca comunica, quanto a uma possível recandidatura: “Sim, tenho a intenção de recandidatar-me. Ainda não é uma decisão tomada mas, em princípio, acho que sim, claro. O trabalho ainda não está acabado”. ▪