Doze anos depois é a hora da despedida da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Nuno Fonseca, atual presidente, está prestes a terminar o último mandato. Fomos perceber junto do autarca o que mudou e o que ficou por fazer na maior freguesia do Concelho de Gondomar.
A poucos meses de terminar o último mandato na Junta de Freguesia de Rio Tinto, como saí?
Vou sair da Junta de Freguesia com muita coisa por fazer que gostava de ter visto concretizada. Por outro lado, fiz outras tantas coisas que nunca imaginei que fosse possível fazer. É um trabalho dinâmico, que nos vamos adaptando às circunstâncias e às necessidades e vamos conseguindo construir um projeto.
O que faltava em Rio Tinto?
Faltava muita coisa e, muita dela, ainda continua a faltar, porque ultrapassava a nossa capacidade financeira.
Quando chegamos à Junta em 2013 foram identificados alguns problemas. A questão da identidade: precisávamos de fomentar a identidade local, porque Rio Tinto era uma cidade considerada, apenas e só, um dormitório do Porto e hoje não. É uma cidade dinâmica e com identidade, onde os rio tintenses têm orgulho de dizer “Sou de Rio Tinto.” Até acabamos por ter problemas, de forma injusta (risos), porque as pessoas dizem que tudo se passa em Rio Tinto e só se fazem coisas em Rio Tinto, o que não é verdade. O próprio investimento municipal mostra que isso não é verdade.
Somos uma cidade dinâmica, muito melhor e qualquer coisa que aconteça tem uma visibilidade muito maior. Criamos esta identidade. Foi o nosso grande papel no início. Bem como ligarmos o nosso nome à lenda. Porque éramos uma cidade sem história e sem cultura, era apenas uns prédios e umas vivendas que nasceram ao lado do Porto, íamos apenas trabalhar ao Porto e dormir em Rio Tinto. Foi importante apostarmos na Lenda de Rio Tinto. Criar uma imagem ligada a essa Lenda e perceber que somos uma comunidade muito forte com uma história com mais de 11 séculos. Estamos aqui há mais de 1100 anos.
O que fica por concretizar?
Infelizmente vamos terminar os doze anos sem termos o Auditório e a Casa da Cultura em Rio Tinto. Gondomar, já não digo só Rio Tinto, precisa de uma grande sala de espetáculos, multivalente e que dentro dessa sala aconteça qualquer tipo de espetáculos: teatro, orquestra, seja o que for. Um auditório que tenha capacidade de ter qualquer tipo de espetáculo. Basta percebermos que para utilizarmos um palco com mudança de cenários, tem de ter uma boca de cena dupla, um fosso de orquestra, uma sala multidisciplinar que permita ter muitos acontecimentos. Gondomar precisa disto e não tem. Considerando que S.Cosme já tem vários equipamentos, faria sentido que este novo fosse descentralizado para a maior freguesia de todas. Infelizmente, vamos sair sem ver realizado esse desejo.
O Parque Urbano foi o início da mudança na Freguesia e o passadiço de Rio Tinto é fantástico. É frequentado por milhares e milhares de pessoas. A ligação ao Parque Oriental e ao Freixo é incrível. Faltou fazer a ligação entre o Parque Urbano de Rio Tinto e o Parque Aventura da Lipor, pela margem do Rio Tinto e ter um percurso pedonal, mas já são investimentos de outra envergadura.
Porque não foram concretizados esses projetos?
O Município sempre assumiu a necessidade destes projetos, mas obviamente que havia muita coisa a fazer. Não nos podemos esquecer que durante algum tempo o nível de endividamento da Câmara era negativo. Tinha pouca capacidade financeira para grandes investimentos. Não foi possível fazer tudo em doze anos.
Acha que o facto de Rio Tinto ser conhecido por ter muito investimento acaba por “pagar” pela fama e não ter o próprio proveito?
Espero que a gestão municipal não seja feita dessa forma. Acho que temos de perceber que o princípio da igualdade tem sempre duas frases e uma virgula no meio:“Tratar por igual o que é igual, e tratar diferente o que é diferente”. Rio Tinto não é igual aos outros. Rio Tinto é, efetivamente a grande cidade, tem 40% da densidade populacional de Gondomar. Tivemos grandes investimentos que não podemos esquecer: como a Via Nordeste, que, infelizmente, está embargada pelos sobreiros, e, ainda, a ligação da Via Nordeste à Via Norte Sul, ligando Baguim e Fânzeres. De forma que o trânsito para o Porto seja desviado do centro de Rio Tinto. Quando essa circular estiver pronta estamos a falar de uma rede viária que permite travar o fluxo automóvel que passa por Rio Tinto. Precisamos de desafogar o trânsito e ter uma ligação direta à circunvalação.
Sente que a imagem de dormitório de Rio Tinto já está desvanecida?
Depende com quem estejamos a falar (risos). Se falarmos com pessoas de fora do concelho de Gondomar provavelmente ainda podem achar que Rio Tinto é um dormitório, se estivermos a falar com gondomarenses penso que já não consideram que Rio Tinto é um dormitório, mas sim uma cidade viva e dinâmica. Se estivermos a falar com os rio tintenses tenho a certeza de que eles dirão que Rio Tinto é uma grande cidade e que têm orgulho de viver aqui. São patamares diferentes de análise.
Com que sentimento sai da Junta?
Saio com um sentimento de dever realizado, porque há um conjunto de coisas que vão perdurar. Há determinado projetos que mesmo quem venha a seguir é impossível terminar, mas espero que os melhorem, isto tem de ser dinâmico, não pode ser parado no tempo. Porque será o insucesso da pessoa e da Cidade e quero o melhor para Rio Tinto. Para mim foi uma honra ser presidente da minha terra, lidar com quem conheço, amigos, família e desconhecidos que hoje me reconhecem. Terminou, mas é preciso que venha outra pessoa que ajude a mexer. Claro que há coisas que vão ficar para além deste mandato, como muitos projetos da coesão social, o banco de emergência, banco de emergência alimentar, a própria Universidade Sénior, que ao fim de 11 anos tem mais de 400 alunos, são projetos que vão ficar, como o “Rio Tinto Somos Todos Nós”, a lenda, o logótipo. É uma marca identitária que vai ficar para futuro que vai ser difícil de a mudar. Tenho a certeza de que isto vai ficar e é muito mais importante que qualquer obra.
A Junta fica estável financeiramente?
A Junta sempre foi financeiramente saudável. Já era tesoureiro da Junta ela já vinha bem financeiramente (risos). A transição de saldo de 2024 para 2025 foi o maior saldo transferido nos últimos 20 anos. Uma das coisas que nos caracterizam é a quantidade de prémios e galardões que conquistamos, o envelhecimento ativo, eco-freguesias e, o prémio de ter sempre as contas em dia com os nossos fornecedores. Fomos a primeira Junta a tê-lo. Cumprimos rigorosamente e de forma minuciosa o que são as regras e a contabilidade pública. Aliás para dizer: o tesoureiro da junta em 2013 candidatou-se à presidência e em 2025 a tesoureira também se candidata (risos), portanto se há coisas que nos sentimos confortáveis é na parte financeira.
Onde é que vai ser possível encontrar o Nuno Fonseca no futuro?
Tenho a noção clara, que a política para mim não é emprego, não é uma questão secundária e não é uma frase bonita de se dizer, mas antes de ser presidente desta junta já trabalhava . Sou funcionário do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e sou funcionário público e está lá o meu lugar. A minha vida foi feita para isto. Em 2013 desafiaram-me a encabeçar a lista e foi uma decisão muito pensada. Tenho de ser provocado por projetos que me interessem, gosto de fazer coisas, se houver um projeto que me deixem fazer coisas, faço coisas, se não for dessa forma, não vou gostar, está no meu ADN.
Está em cima da mesa fazer parte da lista pelo Partido Socialista ao Município como número dois. É um projeto que o alicia?
Se isso acontecer, ainda não está decidido nas listas do partido, é capaz de ser algo muito aliciante. Mas isto é um patamar maior em que temos de ampliar a dinâmica que tínhamos no patamar de Freguesia. Alicia-me se me deixarem fazer coisas, se ficar num gabinete a tratar de papelada não me vai aliciar. Quero ter projetos onde num espaço curto de tempo consiga ver o princípio, meio e fim. Não estou movido pelo lugar da vereação, nem pelo número do lugar, mas por me deixarem estar num lugar que possa fazer acontecer, é aquilo que realmente me dá prazer.
Sendo um dirigente importante no Município de Gondomar, como vê o aparecimento de uma lista independente do seio do PS à Câmara?
Vejo as eleições como elas têm de ser vistas. Há projetos, há candidaturas e no final o cidadão escolhe. Após a escolha do cidadão temos o presidente eleito. Isto é o jogo democrático, alguma coisa que desvirtue isto é porque não estamos a fazer o jogo como deve ser feito. Quando nos lançamos numas eleições temos sempre de estar disponíveis para duas coisas: para as ganhar e para as perder. É com esta filosofia que temos de estar.
As outras candidaturas não podem condicionar o programa político do Partido Socialista. Sou candidato numa lista do partido, é o meu projeto e são os meus valores. Temos um ADN próprio e um cunho muito marcado. Não achamos que sejamos iguais aos outros partidos, acho que somos melhores, somos diferentes, mas é a minha opinião pessoal. Existirem candidaturas independentes faz parte da democracia que são permitidas às autarquias locais. Acho que maus candidatos seríamos se fôssemos apenas candidatos mediante a oposição que teríamos. Há coisas que lamento, mas quanto à parte eleitoral as pessoas é que decidem.
Há algum agradecimento que queira fazer nesta reta final?
Não haja absolutamente dúvidas nenhumas que somos uma equipa. Todos os partidos políticos que concorreram às eleições e que fizeram parte da Assembleia de Freguesia apresentaram propostas que melhoraram alguma coisa em Rio Tinto, muitas dessas foram aproveitadas e muitas outras não. Todas essas pessoas foram uma mais-valia. Nós pensamos política e pensamos caminhos que são trabalhados por uma grande máquina que são os trabalhadores da Junta, que são na sua generalidade uma grande dedicação à causa pública. Tudo isto é feito por uma direção de equipa em que eu sou o rosto, mas é feito por pessoas e para pessoas. O agradecimento que faço é que, se eu não tinha dúvidas antes, qualquer critica que se faça aos trabalhadores da Junta é injusta e ingrata. São eles que materializam no terreno, tudo o que as pessoas pensam que sou eu que faço. A prova disto é que esta Junta trabalha tão bem que entrei na Junta com coisas que não sabia fazer e vou sair da Junta sem continuar a não saber (risos).