O Centro Social de Soutelo (CSS) comemora 50 anos de existência. É uma instituição de referência no concelho de Gondomar com uma rede de apoio desde as crianças aos mais idosos. Estivemos à conversa com Daniel Vieira, Coordenador Geral, e Sandra Felgueiras, Presidente da instituição, para fazer um balanço deste meio século de vida.
Fale-nos sobre os 50 anos do Centro Social de Soutelo.
Daniel Vieira: O Centro Social de Soutelo está a completar os 50 anos de vida, de história, que nasceu a partir do impulso da comunidade para dar resposta à ocupação dos tempos livres das crianças e dos mais jovens. Aliás o primeiro nome do Centro Social foi CIS - Centro Infantil de Soutelo. Essa foi a primeira necessidade. Ao longo dos anos o Centro Social de Soutelo foi reforçando estas respostas, institucionalizando, no caso da creche, infantário, ATL, etc.
Sandra Felgueiras: A projeção da instituição foi algo marcante. Foi um alargamento na capacidade de resposta e o agarrar de novos desafios que é isso que tem vindo a marcar o nosso crescimento. Começamos por dar respostas locais, de Rio Tinto passamos logo para o concelho de Gondomar e à posteriori para a Maia, Matosinhos e temos projetos para intervir noutros Municípios.
Em que projetos é que o Centro Social de Soutelo está inserido?
D.V: Neste momento tem resposta em três grandes áreas, na educação, onde tem creche, educação pré-escolar, jardim de infância, faz prolongamento de horário em duas escolas em Cabanas e em Soutelo e, para além disso, tem um centro de apoio pedagógico, esta é a primeira área de respostas que temos. A segunda é para os mais velhos onde dispomos de dois centros de dia, dois centros de convívio, um na Corujeira e outro em Soutelo e um serviço de apoio domiciliário, que dá resposta a 200 idosos diariamente. A terceira grande área de intervenção é a intervenção comunitária. Temos uma equipa de Serviços de Ação Social, que faz intervenção na população vulnerável, temos um projeto com o ICAD (Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências), onde há uma equipa de rua que faz contenção de riscos, danos e faz distribuição de metadona. Temos, também, o GIP - Gabinete de inserção profissional. Há dois projetos que são financiados pela Fundação La Caixa: o “Incorpora”, que faz a integração de pessoas, contactamos com as empresas, elas dizem o que estão a precisar e com a identificação de pessoas procuramos integrá-las nas empresas; e o “Reincorpora”, estamos numa prisão em Paços de Ferreira com reclusos que estão a um ano de sair, procuramos trabalhar competências para haver uma maior integração na vida ativa.
O Escolhas mais direcionado à juventude, um em Rio Tinto – “A escolha é tua” – e na Corujeira – “Na praça”. Estamos envolvidos em projetos com metodologias artísticas, que trabalhamos com jovens com deficiência e com problemas de saúde mental.
Na área da música temos o “Tum tum tum”, que apresentamos hoje (8) o primeiro álbum, que se chama a “Cremalheira do Apocalipse” é um projeto com materiais recicláveis. Para juntar a esta panóplia, o projeto “Reveste”, fazemos a customização de peças de roupa, que já não têm uso e os nossos jovens fazem a transformação dessas peças com uma marca que temos testada que é o Reveste, ganhou o prémio Portugal Inovação Social. Aplicamos-lhe, também, uma peça de filigrana de modo a representar Gondomar e ganhamos uma candidatura a que fomos com o Museu de Filigrana de Gondomar, com a Póvoa de Lenhoso e com a A2000, que é uma Associação de Deficiência no Douro, com a Certifica, com a Cindor, 180 mil euros. Temos parceria com a fundação Aga Khan em pedagogia com a educação, ajudamos as crianças a desenvolver o seu próprio currículo.
De salientar que já ganhamos um prémio da Fundação La Caixa, que se chama “Cozinha amor”, que trabalhamos com população vulnerável, imigrantes, temos uma coisa: que é a mesa comum com imigrantes a cozinhar os pratos típicos de cada um desses países.
Estamos a iniciar um novo projeto, mais robusto e, que beneficia de mais apoio em termos comunitários, é um projeto para quatro anos, em que o financiamento são 684 mil euros que vamos procurar desenvolver a comunidade com as Juntas, IPSS, CMG, projetos de intervenção junto de públicos mais vulneráveis.
S.F: A parceria com a ATNP cede-nos as instalações no Martim Fernandes, que permite colocar todos os projetos a funcionar, novos funcionários e população. Foi essencial para termos mais gente.
A quantas pessoas chegam os vossos serviços?
D. V: Chegamos a mais de 2000 pessoas, mais de 300 crianças, mais de 200 idosos, GIP, Serviços de Apoio Social, estes projetos, no global chegamos mais de 2000 pessoas. Funcionários diretos ou indiretos 120, aproximadamente 20 veículos. Conseguimos agora mais um veículo através do PRR.
Quais os números que envolvem esta instituição?
D.V: O orçamento deste centro social tem uma perspetiva de gastos em 2025 de 2 657 400€ sem contar com a obra do Centro Geriátrico. Os nossos rendimentos estão em três tipos e duas grandes áreas de receita: as prestações de serviços, as comparticipações da segurança social, as mensalidades dos utentes e subsídios de outras entidades. Os projetos são muito importantes e financiados por muitas entidades, porque apresentamos candidaturas para tudo o que é projeto. Estamos permanentemente a olhar para as necessidades do território, a monitorizar o que são as necessidades e através dessa monitorização é que são apresentadas as candidaturas.
Esta questão do centro geriátrico é a mesma coisa. Gondomar tem um processo de envelhecimento, que tem faltas de respostas no concelho, em casa, à qual fizemos uma candidatura que foi aprovada. O investimento é muito avultado, mas temos um financiamento da segurança social com cerca de 1 419 049.53 mais IVA, mais o financiamos da CMG com 256 mil euros. Fizemos um empréstimo de 500 mil euros, porque no financiamento não está o valor dos equipamentos. Sendo que estamos a procurar reduzir este valor com angariação de fundos.
Como surge a necessidade da criação do Centro Geriátrico?
S.F: Quando cheguei ao CSS percebi que havia ainda uma falha na resposta aos idosos porque havia uma enorme fila de espera, e pegamos no projeto da construção do Centro Geriátrico, para o qual conseguimos financiamento e que está bastante adiantado. Tínhamos várias necessidades tanto a nível das competências aditivas, nas minorias éticas, nas competências de pessoas com deficiência, e, essencialmente, muitos jovens com planos de vida por definir, com necessidades de apoio.
D.V: Terá espaço para 156 utentes, 70 em centro de dia e 86 em apoio domiciliário, é uma grande resposta, um centro moderno arrojado, todos os serviços associados. É importante dizer que apresentamos esta candidatura, mas não estamos parados, o mês passado apresentamos uma candidatura à Gulbenkien que visa diferenciar as nossas respostas para além do centro geriátrico. Fizemos uma proposta nas respostas às pessoas em sua casa.
De que forma?
D.V: Nós vamos levar as refeições às pessoas, mas porque não de uma forma diferente? Uma refeição acompanhada, em que outras pessoas estejam sozinhas e sejam convidadas para ir a casa de outras pessoas. Candidatamos o nosso autocarro, visto que já não dá para transportar crianças, e propusemos transformar o autocarro de modo que as pessoas que não queiram vir para o centro de dia, mas à qual nós prestamos apoio domiciliário, um dia irem ao shopping, ao Mercado do Bolhão, à farmácia, por exemplo. Estamos preocupados com estas respostas típicas, mas estamos permanentemente a estudar para dar respostas inovadoras. Temos uma virtuosidade que é o aumento da esperança média de vida e o outro lado que é as pessoas isoladas, sozinhas, porque os filhos emigraram, têm a sua vida, e as pessoas não querem vir para o centro do dia. Querem outra resposta, e estamos cá para dar essas respostas.
Fizemos agora uma candidatura ao Erasmus, com os idosos, com o objetivo de levar os idosos de Erasmus. A ideia é não estarmos parados e não estarmos presos aos modelos padronizados.
S.F: O centro geriátrico vai estar em funcionamento 365 dias. O envelhecimento cada vez mais deixou de ser visto como um fim de linha, mas sim como uma forma de aproveitar e aprender até com a existência dos centros de dia, que promovem novas atividades. O paradigma vai mudando, e é engraçado que temos muita gente a recorrer ao CSS para passar tempo diferenciado. Sinto que agora há menor preconceito de procurar estas respostas. O CSS é o início de linha para as crianças e para os idosos. É o início de uma resposta diferente. O nosso trabalho é sempre uma capacitação e o início de algo melhor.
Que iniciativas terão para comemorar o 50º aniversário?
Nos dias 22 e 23 de maio, no Auditório Municipal de Gondomar, um Congresso sob o lema "Igualdade, Participação, Cooperação e Solidariedade. Este Congresso, que conta com a participação de personalidades muito prestigiadas, provenientes de diversas áreas de ação e intervenção no espaço público, académico e comunitário, é uma proposta de debate e reflexão sobre as dinâmicas de mudança no setor social, mas também em outros espaços da sociedade que com este se cruzam. Os convidados serão para o dia 22: Helena Loureiro, Coordenadora Nacional da Equipa de Representação Regional da Portugal Inovação Social, Brito Guterres, Instituto de Intervenção e Ação Urbana, Sofia Castanheira Pais, Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Filipe Martins, Professor Auxiliar da Universidade Católica no Porto, Teresa Martins, Gestora Territorial Fundação Aga Khan. Para dia 23 teremos Adriana Cosme, Inspetora Geral da Educação e da Ciência, Jorge Prendas, Coordenador do Serviço Educativo da Casa da Música, Julieta Guimarães, Gestora de projetos, Miguel Januário, Artista plástico e Designer, Claúdia Vieira, vereadora da Câmara Municipal de Gondomar, António Batista, Consultor em Planeamento e Avaliação de Projetos e Politicas Sociais, Ivo Domingos, Investigador, Bruno Coutinho, Subdireção Geral da Cultura e Território da Fundação La Caixa e Talita Feliciano, coordenadora do Programa Social LeapFrog Nova SBE.
O concerto solidário comemorativo do 50º aniversário do Centro Social de Soutelo, a realizar no próximo dia 31 de maio, pelas 21h30, na Sala D´Ouro do Multiusos de Gondomar. Este concerto é uma iniciativa em prol da construção do novo Centro Geriátrico. As reservas são obrigatórias e implicam a aquisição de uma pulseira solidária à qual está associado um sorteio (uma noite para duas pessoas no Puro Dão Hotel & Spa ), disponível na receção do CSS. As reservas também poderão ser realizadas através do email [email protected].
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