Luís Pedro Martins é o novo presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP). Natural de Aveiro e criado em Rio Tinto, o ex-autarca é licenciado em Marketing Político e dá aulas na Porto Business School, profissão que pretende continuar a conciliar com o cargo que agora desempenha.
Começamos por lhe perguntar: quem é Luís Pedro Martins? Sou natural de Aveiro, mas desde muito cedo mudei-me, junto com os meus pais, para Rio Tinto. Foi nessa altura que tive as minhas primeiras aprendizagens sobre o que a vida pública. Perceber o que é o bem comum e do tentar fazer algo pela comunidade. Acompanhava o meu pai e um grupo de cidadãos de Rio Tinto, quando criaram aquela que hoje é uma das maiores IPSS’s de Gondomar, que é o Centro Social de Soutelo.
Mais tarde, juntei-me à Juventude Socialista em Gondomar onde conheci alguns amigos para a vida e que hoje desempenham cargos executivos como o Marco Martins, o Carlos Brás, o Nuno Coelho, que foi presidente da Junta de Baguim, e o Nuno Fonseca, atual presidente da Junta de Rio Tinto. Foi aí que despertou a minha vontade de querer dar o meu contributo à sociedade.
Licenciei-me em Design, no Porto, e logo a seguir fui eleito para o Parlamento, onde estive nos dois mandatos de António Guterres. Quando estava em Lisboa despertou o interesse pelo Marketing Político, área a que acabei por dedicar a minha formação. Fui para os Estados Unidos, onde fiz o primeiro curso e depois São Paulo, onde fiz uma segunda graduação na área.
De regresso ao Porto, ainda fiz uma pós-graduação em Marketing, na Porto Business School, para onde fui convidado como professor, um ano depois, e onde me mantenho desde então, há cerca de nove anos. Durante este tempo fiz mais de 150 campanhas de marketing, não só político, mas também empresarial e institucional.
Antes de chegar aos Clérigos ainda regresso novamente a Lisboa, como assessor do Alberto Martins. O convite do padre Américo Aguiar surge quando eu estava no departamento de Marketing e Comunicação da Santa Casa, para estar desde a primeira hora no projeto de devolução da igreja da Torre dos Clérigos à cidade, depois das obras profundas em 2013. A partir daí a minha vida passou a dividir-se entre a Torre dos Clérigos e a Porto Business School.
É aqui, na Torre dos Clérigos, que tenho o meu primeiro contacto com o setor do Turismo, estando envolvido na “explosão” turística que se registou neste monumento, que passou de uma média de 100 mil visitantes ano para 1,3 milhões, bem como o conjunto de eventos que aqui se realizam e as parcerias que se estabelecem. A minha dedicação obrigou-me a “meter as mãos” mais a fundo no setor para o conhecer melhor e acredito que hoje, na minha candidatura esse conhecimento é fundamental.
E a candidatura, surge como? A candidatura surge pelo interesse comum de um conjunto de autarcas - do PS, do PSD, do CDS e independentes... – que me colocam o desafio de me candidatar ao TPNP porque, segundo eles, cumpria os três requisitos que procuravam: não ter qualquer relação com o passado da entidade; alguém familiarizado com os corredores do poder político, onde podemos garantir apoios e manter um bom relacionamento com o Governo e os autarcas; e uma pessoa que estivesse bastante envolvida com o Turismo.
Aceitei o desafio e, como em diversos momentos da minha vida, até ao aparecimento da minha candidatura há uma lista única e eu tenho sempre que “ir a combate” e assim aconteceu, culminando depois por ser mesmo lista única após um acordo obtido com o meu adversário.
Gondomar continua a investir no Turismo, vai concluir o renovado Cais da Lixa e anunciou, no mês passado, um investimento privado da Sonae na ordem dos 60 milhões de euros para a criação de um ‘eco-resort’ no Alto Concelho. Que impacto podem ter estas duas infraestruturas nos próximos anos? Eu digo isto já há muitos anos, Gondomar tinha uma pérola escondida e finalmente começou a descobri-la: o rio Douro. A verdade é que a maioria dos gondomarences não se sentiam próximos do rio porque, por um lado não havia infraestruturas que permitissem essa aproximação e, por outro não havia qualquer tipo de investimento por parte dos privados naquelas margens.
Era óbvio que, quando isso acontecesse, os efeitos iriam ser positivos porque tínhamos essa grande vantagem que é de termos uma boa extensão de território do concelho nas margens do Douro. Portanto, prevejo que o impacto será fantástico, não só pela beleza natural que ali existe, mas também pela proximidade à cidade do Porto.
Gondomar estava a precisar de indústrias hoteleiras. Só assim consegue receber grandes eventos, nomeadamente no Pavilhão Multiusos. O que se verificava era que muita daquela gente que vinha de fora até gostava de pernoitar nas redondezas, mas a oferta não era suficiente. É isso que temos de fazer no turismo, e Gondomar já o está a fazer: deixar de ter visitantes para passar a ter clientes. Transformar os visitantes em clientes. Para isso acontecer temos que fazer com que eles almocem lá, jantem lá e durmam lá, e este interesse de investidores em apostar no concelho vai permitir potenciar Gondomar, fidelizando público que vai querer voltar e recomendar. Eu felicito o município por alcançar estas pequenas grandes vitórias.
O Parque das Serras do Porto, em colaboração com Valongo e Paredes, é outro dos mega-projetos em que Gondomar está envolvido. Poderá existir aqui, também, aproveitamento de interesse turístico ambiental e desportivo? Obviamente. Neste caso com a vantagem de ser um projeto transversal ao território, que permite ganhar escala unindo concelhos e o Parque das Serras do Porto tem essas características. É a união de vários concelhos em torno de um território fantástico em termos ambientais.
A região Norte tem essa vantagem, tem no seu território exemplos magníficos de paisagem ambiental como é o caso deste, portanto será certamente outro projeto de enorme sucesso e que irá merecer a nossa atenção.
A Rota da Filigrana será outro projeto que o TPNP terá em atenção? Certamente. Sempre defendi que não bastava ter a filigrana e que ela se afastava cada vez mais das novas gerações se continuasse o caminho que estava a percorrer. A aposta teria que passar pelo design e pela promoção através da criação de uma rota.
Este debate ocorreu há uns cinco ou seis anos durante uma reunião, portanto é com orgulho que vejo agora o caminho que se está a fazer. Começamos a perceber que, a partir do momento em que o mundo passou a ter contacto com a filigrana passamos a ter agradáveis surpresas como ver a Sharon Stone a passear em Hollywood com o nosso famoso coração. Acredito que seja ainda apenas um pequeno passo comparadado com o que irá acontecer com esta Rota que já é hoje bem divulgada.
Este é o caminho, divulgar, promover, apostar no design porque isso faz com que as novas gerações olhem também para o produto de forma diferente. As peças clássicas são importantes e bonitas, mas podemos ligar a filigrana ao mundo da moda, por exemplo, levar este produto aos grandes designers de moda para que a possam adaptar ao seu trabalho. Tudo isto trará uma nova dinâmica ao setor.
A proximidade que tem ao concelho de Gondomar e a amizade que mantém com o presidente Marco Martins pode ser uma vantagem para Gondomar? Obviamente que eu sou o presidente de uma entidade que vai trabalhar com 86 municípios, portanto, se me pergunta se com Gondomar existem condições para haver uma boa relação, digo-lhe que sim, até porque é um território que eu conheço bastante bem.
Passado que está o ato eleitoral, como olha para o momento de elaboração das listas e o entendimento com o seu adversário para a apresentação de uma lista única? O facto de inicialmente existirem duas listas eu acredito que foi bastante positivo. A falta de adversários pode tornar-nos mais facilitadores, achamos que está ganho à partida. Assim não, assim obriga-nos a ir para o terreno, falar com as pessoas, discutir ideias e isso é sempre positivo.
Acredito que no final o entendimento surgiu com alguma naturalidade e esse entendimento permitiu uma união em torno da entidade. Isto é muito importante por uma razão, a instituição estava a atravessar um caminho menos simpático com tudo o que aconteceu, foi uma ajuda porque é uma demonstração de coesão da região.
Desta forma, foi com bons olhos que vi este entendimento e a partir daqui, vamos ao trabalho.
Foi um entendimento pacífico? Sim, foi um entendimento pacífico. O que eu fiz foi integrar nos órgãos sociais uma entidade que estava noutra lista, a AHRESP – uma associação muito importante neste setor – na Comissão Executiva.
Acredita então que esta foi a melhor opção para o organismo e para a região? Como disse no meu discurso de tomada de posse, gosto de combates, nunca fugi a nenhum, mas tendo em conta a atual circunstância, o facto de ter havido este entendimento foi o melhor para a entidade.
Não ignorando o passado, mesmo o mais recente, mas olhando para o futuro, como vê o TPNP nesse período? Eu nunca ignorei essas questões, mas também não me canso de dizer que, passado é passado e a mim interessa-me o futuro.
Há coisas que foram feitas no passado e que foram bem feitas, esses projetos certamente continuarão a ser uma aposta para o TPNP.
Com o Melchior tivemos uma viragem da entidade para o interior, que é também algo que pretendo continuar, porque vejo esse esforço com bons olhos.
Vamos ter uma colaboração total quando nos for solicitada pela investigação, como não podia deixar de ser, mas a minha forma de atuar não se altera, independentemente de haver, ou não, investigação. Eu atuo sempre com transparência e em total acordo com a lei em todos os procedimentos, portanto não estou preocupado.
Aproveito a oportunidade para deixar uma palavra aos nossos colaboradores que passaram por uma fase muito difícil e que gerou eventualmente alguma desmotivação. Eu conto com eles. Até provas em contrário todos são inocentes. Resta aguardar os resultados da investigação com tranquilidade. O que queremos é criar normalidade para podermos trabalhar.
O turismo tem registado números crescentes ano após ano e a previsão é que esse crescimento se mantenha. Acredita que este setor possa ser um dos maiores contribuintes da economia nacional a curto prazo? Este setor já está a ser. Os números que são conhecidos dão-nos alguma tranquilidade até 2030, pelo menos, essa certeza nós temos. O que temos que fazer é receber bem quem nos visita. Temos da melhor gastronomia do mundo, das mais belas paisagens, temos património… Ainda há dias fui fazer a Rota do Românico e é impressionante o que nós temos para oferecer. O turismo religioso também encontra aqui muitos pontos de interesse como a Semana Santa, em Braga, o maravilhoso Douro, Trás-os-Montes e o Minho, temos verde e o azul do mar, temos rios e cascatas, uma diversidade imensa que tem tudo para dar certo.
Nesse sentido, o que falta fazer pelo setor a nível legislativo? Na minha tomada de posse ficou evidente que o setor está satisfeito com aquilo que o Governo tem estado a criar, nomeadamente com esta secretária de Estado, que é muito pragmática e próxima das pessoas.
O trabalho que está a ser feito, está a ser bem feito. Este apoio que tem sido dado aos municípios, mesmo no que diz respeito à transferência de competências, julgo que é o caminho certo. A entidade regional procura aqui ser um elo agregador da região e trazer para o terreno aquelas que são as diretrizes do Governo.
Defendemos, e não me canso de o dizer, que só juntos é que somos mais Norte, daí eu privilegiar os projetos que sejam agregadores e transversais.
Na cerimónia que o empossou afirmou que “só juntos seremos verdadeiramente Norte”, sublinhando que repetirá esta expressão tantas vezes quantas necessárias. Com uma região tão vasta e com tantas diferenças acredita que essa união é possível? Eu tenho a certeza absoluta que essa união é possível e só com ela seremos efetivamente mais Norte.
Conforme os números espelham, é óbvio que é através do Porto que chega o grande bolo do turismo até porque é onde se localiza o Aeroporto e o Porto de Leixões. O que nós queremos fazer, e acho que os autarcas dos concelhos circundantes ao Porto têm o mesmo entendimento, é que este seja um ponto de distribuição do turismo para toda a região Norte.
Nós não queremos que os turistas venham para dois ou três dias, queremos que eles prolonguem a sua estadiae para isso temos que lhes dar conteúdos que também se esgotam por aqui, portanto é importante dizer-lhe que há mais para conhecer do que Porto, Matosinhos e Gaia, e aqui bem próximo, a uma hora daqui estão em qualquer ponto da região.
Para um brasileiro, por exemplo, que no seu país se desloca duas ou três horas para chegar a uma praia, fazer uma hora de viagem para ir até ao Douro não é um problema. O que temos de fazer é trabalhar articulados e comigo não há fantasmas ou guerras que impeçam esse trabalho.