Luís Filipe Araújo assumiu o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, após a suspensão do mandato do anterior presidente. A suspensão do cargo é uma preocupação para o atual presidente do Município? Quais serão as suas ideias para o próximo meio ano? Estivemos à conversa com Luís Filipe Araújo para responder a estas e mais algumas questões dos gondomarenses.
Sensivelmente dois meses após ter assumido o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, o que mudou na sua vida?
Sobretudo a gestão do tempo, porque a função de presidente é muito intensa. A gestão do tempo mudou muito, obriga a um esforço maior em termos de organização de agenda e, claro, em termos de intensidade de trabalho é realmente diferente. No entanto, até, nestas primeiras semanas, julgo, obviamente com a ajuda de toda uma equipa, muito empenhada, ter conseguido resolver as questões com que tenho sido confrontado.
Os pelouros assumidos pelo anterior presidente passaram diretamente para si?
Sim, ficou exatamente conforme estava. Mantive os pelouros que já tinha e adquiri os que já eram do anterior presidente. Contudo na questão da gestão e planeamento do território a vereadora Claúdia Vieira está com um trabalho diário e mais reforçado, coordenado comigo.
O facto de o anterior presidente ter suspendido o mandato e não renunciado, condiciona a forma como exerce o cargo?
Não, não condiciona absolutamente nada. Em termos da minha ação enquanto presidente não condiciona nada, é uma opção dele e absolutamente legitima. Não tem influência nenhuma nas minhas decisões e na minha atuação.
Não sente nenhuma pressão extra por não ter havido renuncia ao cargo?
Não, não sinto absolutamente pressão nenhuma. Tomo as minhas decisões e faço o meu trabalho, nem penso nisso. Para mim é um não assunto.
Durante cerca de doze anos da anterior presidência, foi vice-presidente de Marco Martins, agora nos próximos meses vai ser presidida por si o que vos difere?
As nossas personalidades, desde logo, são muito diferentes. Sou uma pessoa mais recatada e menos expansiva, tenho outras virtudes que as pessoas também reconhecem. Irei sempre aproveitar o passado, fiz parte dele e vou aproveitá-lo. Temos de ter orgulho no passado, eu tenho orgulho no passado, e em todo o trabalho que foi desenvolvido pelo anterior presidente Marco Martins e por toda a equipa. Alguns assuntos com certeza que irão ser tratados de forma diferente, mas sem necessidade de haver ruturas, porque isto é um trabalho de continuidade. Irei aproveitar este legado, que obviamente, é um legado importante para Gondomar. As pessoas reconhecem isso, o trabalho está à vista de toda a gente.
Que linhas pretende seguir em relação à questão da habitação?
Em termos de habitação, julgo que os processos ligados às estratégias locais de habitação se atrasaram no país inteiro. Neste momento, em Gondomar, o processo está atrasado, face ao que tínhamos previsto e estava inserido no nosso projeto. Para sermos rigorosos este atraso justifica-se pelo facto do IRU ainda não ter definido, em termos finais, o financiamento para as nossas candidaturas. Se já estivesse fechado, já tínhamos fechado com as diversas vertentes da nossa estratégia local, que ainda estão dependentes das incertezas geradas pelo IRU. Mas é algo transversal ao país inteiro. Contudo a habitação está no centro da nossa preocupação. Neste processo teremos soluções adicionais como uma maior abertura na relação com os privados, na promoção da oferta privada no mercado habitacional, que é fundamental. Para além dos projetos ligados à habitação local, necessitamos de investimento na habitação em Gondomar.
A par da habitação, o investimento privado é algo que o preocupa e que quer implementar na sua atual presidência?
Nestes quatro ou cinco meses tenho perceção que não farei nenhum milagre, mas pode acontecer (risos). Porém terá de ser o centro das nossas preocupações do futuro. O sucesso do nosso concelho depende muito da nossa capacidade de atrair investimento e gerar riqueza. Riqueza nas empresas é riqueza nas famílias. Temos de ser capazes de fazer isso. Vai ser o centro das minhas preocupações não tenho dúvida disso.
Em doze anos porquê que isso não foi possível? E agora vê o investimento com uma preocupação e ambição acrescida, como é que justifica?
Conseguimos atrair investimento privado, atenção, temos a empresa Metys, que é um exemplo disso, que criou emprego qualificado. Está em funcionamento e as perspetivas são de crescimento para esse complexo. Temos de melhorar essa tarefa. Como conseguimos isso? Primeiramente temos de aumentar a área territorial destinada à área económica e o PDM, que já estava e que continua a ser trabalhado, já prevê o aumento das áreas destinadas às vertentes económicas numa dimensão muito grande. Nós precisamos disso. Estamos a olhar para essas propostas.
O concelho de Oeiras é o exemplo perfeito daquilo que queremos fazer em Gondomar, no que ao investimento privado diz respeito. Vamos tentar seguir esse exemplo.
De que forma?
Assumindo uma posição mais proativa no campo da gestão do território. O Município terá de assumir um papel mais interventivo. Quando falamos de áreas industriais e de investimento, o Município tem ao seu dispor instrumentos para ele próprio infraestruturar e criar condições para as empresas se instalarem de uma forma mais ágil e rápida. É a nossa ideia, ter uma intervenção mais ativa nesta vertente de investimento económico.
Como vê a criação de empresas privadas?
É obrigatório explorar esse caminho em algumas áreas de atuação. Estamos a ter dificuldade em áreas mais técnicas e de terreno. Como sabemos é difícil contratar técnicos especializados em determinadas áreas, nos serviços públicos, e começamos a ter uma série de problemas, que são problemas diários. Vamos ser obrigados a explorar outros mecanismos de gestão. Temos observado Municípios que têm este tipo de investimento e vai acontecer aqui com toda a probabilidade. Porque não estamos a conseguir responder com a celeridade que gostaríamos devido à enorme carga burocrática, que tem de ser mitigada.
Sendo a recolha de resíduos uma queixa habitual da população gondomarense, o que falta fazer?
Vamos fazer um balanço do que aconteceu neste mandato. No que diz respeito às varreduras estamos com contratos inter-admnistrativos a serem realizados com as Juntas de Freguesia. É preciso fazer uma avaliação disso.
Na recolha de resíduos iremos fazer uma avaliação do trabalho da empresa que fez esse serviço. Sou muito favorável no que toca à descentralização de competências, sendo certo que é uma coisa que temos de garantir sempre que é defender o interesse público.
Nas varreduras, as Juntas têm mais que competências para cumprir com essa obrigação. Mas é preciso garantir que isso aconteça. Melhorou muito ao longo deste percurso. Temos meios tecnológicos que nos permitem fazer as coisas de uma forma mais exata e não dispendiosa e temos de, sem dúvida, aproveitá-los.
Neste momento, temos um contrato a decorrer com uma empresa de recolha, que está em litígio porque foi impugnado por uma das empresas concorrentes, temos um ajuste direto que está em vigor, enquanto não se resolver essa questão judicial.
Não tenho preconceito de nenhuma espécie em relação à forma como é prestado o serviço, seja por ajuste direto, serviços municipais ou municipalizados, desde que o superior interesse do Município seja salvaguardado e esta posição é válida quer para a recolha dos resíduos, para as águas municipais e outras similares.
Os projetos herdados, desde o prolongamento do pólis, a ampliação da Câmara, as Novas instalações da PSP, do Metro, o Polo da Universidade do Porto, vão ser continuados?
Os processos não foram parados. É natural que possa ajustar um ou outro de acordo com o que vá acontecendo. O pólis, as novas Instalações da PSP, estão em andamento e vai ser para continuar, sem dúvida. O Polo da Universidade do Porto (UP) tivemos o parecer favorável da UP e gostava muito de o ver concretizado.
Na ampliação da Câmara, vamos ter de providenciar o tamanho dos espaços e melhorar as condições dos trabalhadores. Estamos a analisar, não só o edifício da Câmara, mas todas as outras vertentes para que a decisão seja racional e equilibrada. Estamos a falar de um investimento enorme, como tal teremos de pensar muito bem sobre este assunto. Não é urgente, mas estamos a analisá-lo, numa lógica de conjunto. A organização do Município tem de ser pensada como um todo.
A questão do Metro as informações atualizadas serão reveladas pelas entidades competentes. Julgo que muito em breve vamos dar mais um passo para a linha de metro para Gondomar, que vai acontecer, e queremos que seja o mais rápido possível.
Herdou uma equipa que não era sua, está satisfeito?
Eu herdei a minha equipa! Eu fiz parte desta equipa. É uma equipa que me satisfaz, é a melhor equipa possível.
Claro que não era presidente até aqui, mas esta era a minha equipa, com algumas divergências normais. As pessoas têm de entender que ter opiniões divergentes são positivas e é assim que gosto de trabalhar. É verdade que tive divergências com várias pessoas desta equipa, mas é salutar que as tenhamos.
Para mim o espírito critico é fundamental. Se não houver, não conseguimos ver a “floresta de forma clara”. Ainda que reconheça que há uma tendência inversa. É obrigatório promover o espírito critico e dar abertura para uma discussão de ideias e de tópicos.
Acredita nesta equipa?
Acredito muito nesta equipa. O trabalho feito foi muito bom, só tenho de os elogiar a todos, não estou a ser hipócrita. Não sei o futuro, mas, neste momento, só tenho de os elogiar, foram capazes com todas as dificuldades de fazer serviço público durante este período. Conto com todos, numa lógica incremental, temos de fazer mudanças, não destruindo o que está para trás. Temos de fazer com que o concelho de Gondomar evolua ainda mais.