A direção do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), entidade regional que visa a promoção turística de 86 municípios [entre os quais Gondomar], está prestes a mudar. Júlio Meirinhos, advogado, assume agora a candidatura à presidência desta instituição e promete mudar-lhe o rumo já no início do próximo ano. Numa entrevista exclusiva Vivacidade/VivaDouro, o ex-autarca com um currículo extenso na política deixa-nos as ideias-base da sua candidatura e fala do futuro turístico de Gondomar.
Em 2008 fez parte da Comissão Instaladora da atual Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), passados 10 anos, que análise faz do organismo? Orgulho-me de ter estado na instalação da inter-regional. Saí há seis anos e o que eu conhecia da altura era uma entidade dinâmica, empenhada, que fazia planificação, consensos e acrescentava.
Eu tinha a área promocional e avisava, “cuidado que vamos ter um crescimento forte do turismo no Porto e Norte”, e muitos até desconfiavam, mas foi isso que se verificou.
Depois tenho acompanhado apenas pelas notícias e com a ligação que vou mantendo com alguns quadros e neste momento sabemos que está a passar uma fase negra que tem de ser ultrapassada, repondo a excelente imagem que teve, para bem do tecido empresarial e de uma região que tem que ser líder em muitos produtos estratégicos do turismo.
Entende então que a credibilidade do organismo ficou ferida com os últimos acontecimentos? Obviamente que o que tem passado na comunicação social levanta suspeições e dúvidas que em termos de turismo certamente afetará. Não há uma estabilidade.
Não estou a julgar ninguém, não sou o tribunal, sou de formação jurídica e já fui magistrado, mas não é isso que está em causa. A partir de janeiro teremos uma vida nova.
Falando então desse futuro, o que o motiva nesta candidatura ao TPNP? Eu estou em missão, entendo esta candidatura assim. Tenho a minha vida, política e pública, feita. Não faço disto trampolim de coisa nenhuma. Tenho liberdade total e disponibilidade.
Por tudo isto, entendi que era um dever moral dar o meu contributo. Toda a minha vida - exceção aos quatro anos que tive no Parlamento - foi vivida nesta região onde cheguei a ocupar diferentes cargos em diferentes organismos, portanto tenho a obrigação de conhecer a região e sinto que devo estar disponível para um desafio destes.
Era uma candidatura que já tinha pensado ou surgiu como reflexo do que aconteceu no TPNP? Se tudo tivesse corrido normalmente, o doutor Melchior estava a cumprir um mandato, devidamente eleito, e deveria cumpri-lo, não se colocando assim qualquer hipótese desta candidatura.
O que temos hoje é uma situação nova, que não estava prevista, com o presidente da Assembleia, depois da demissão em bloco da direção, a marcar um ato eleitoral. A partir daí, como qualquer outra pessoa que cumpra o que o regulamento diz, entendi apresentar-me e desenvolver um trabalho, que está há cerca de um mês no terreno, de juntar forças políticas, não políticas, privados e independentes.
Está em condições de nos apresentar a sua lista? A lista está fechada e distribuída. Neste momento está a ser subscrita com uma enorme adesão.
Fizemos uma candidatura transversal a toda a região, não permitindo que agentes exteriores, como partidos, Governo ou outros, tenham intervenção na decisão de assuntos do turismo na região.
Sobretudo depois do que se passou, a ética será aquilo de que não irá abdicar? Nunca abdiquei desse princípio, por isso, posso dizer orgulhosamente que, em 40 anos de vida pública, em todos os setores fui inspecionado de fio a pavio e nunca nada me foi apontado. A ética na causa pública é fundamental.
Considera que essa experiência pode ser também uma vantagem na relação com a tutela? É impossível levar a bom porto uma matéria como estas sem que haja um excelente entendimento com a tutela, e eu conheço bem a secretária de Estado do Turismo, há longos anos.
Já falei com ela e sei que é um dos membros do Governo com grande simpatia por esta entidade regional, tanto que prometeu um reforço de verbas para a promoção e o investimento.
Foi, entretanto, anunciado que o TPNP terá uma verba de dois milhões de euros para promoção externa da região. Quais os principais mercados que pretende atingir? A entidade regional tem competências para a promoção no mercado interno alargado que se estende até Madrid. A promoção externa tem sempre de ser feita em coordenação com o Turismo de Portugal (TP) que tem como destino único Portugal.
Temos portas de entrada como o Aeroporto e o Terminal de Passageiros do Porto de Leixões que é sempre preciso promover, mas temos uma missão, que é sermos solidários com todo o resto da entidade, o Douro, o Tâmega, o nordeste transmontano, o Minho… Portanto, a nossa aposta tem que ser baseada nos nossos produtos estratégicos, olhando para Espanha como um parceiro fundamental.
O Norte e os seus empresários queixam-se de um menos investimento na sua promoção desde que perdeu autonomia e passou a integrar a entidade regional do TPNP. Quais são as suas ideias e propostas neste domínio? O empresário tem que se habituar a ter na entidade regional a sua casa de consolo e orientação para os seus investimentos. O turismo, volto a afirmar, tem que ser para toda a região, tem que ser inclusivo para todos os segmentos estratégicos do setor do turismo. É mau que alguém se sinta excluído, que alguém tenha um quinhão injustamente distribuído.
Os atos que dependerem de mim serão sempre de justiça, de equilíbrio, de transparência e de ética.
Em Gondomar, a Rota da Filigrana é a grande aposta municipal ao nível do turismo, apresentando resultados em crescendo ano após ano. Do seu ponto de vista, é uma aposta a ser mantida? Não digo para manter, é para aumentar. Se temos a Sharon Stone com a filigrana, se eu, em atividades públicas nos últimos anos oferecia filigrana, se há algo único, tão fantástico, então não temos que manter, temos que crescer, incentivando esta arte fantástica.
Neste concelho, o que pode ainda ser feito para potenciar o setor do turismo, sendo que tem uma frente de rio muito grande? Além da frente de rio, Gondomar tem uma gastronomia ótima, a proximidade a um grande centro e tem pessoas boas.
Portanto, em conjunto com a Câmara, a CIM onde está integrado, as forças vivas e os empresários só podemos ambicionar ver Gondomar subir a escalões superiores, sem nunca parar.
O Parque das Serras do Porto é um projeto que envolve três autarquias do Norte (Gondomar, Paredes e Valongo). A diferenciação deste projeto face à restante oferta turística da região é uma mais-valia? Claro que sim. Este produto das serras aliado à natureza sempre trouxe gente, sempre quis tocar as pessoas pela acalmia, pela paz, dessa forma, se temos estas ferramentas temos que as usar, não só os planaltos como as montanhas, os rios, as arribas, os lagos.
A região é de tal forma vasta que hoje é um orgulho sermos do Norte e vai ser um luxo ser do interior. Há que descomprimir as grandes cidades e valorizar, com as políticas que se têm vindo a seguir, o interior. Só assim se justifica a criação da secretaria de Estado de Desenvolvimento do Interior, portanto vamos ser coerentes com isso, vamos equilibrar porque ninguém perde com isso.
Se lhe pedissem duas ou três medidas fulcrais para ajudar o turismo em Gondomar, o que diria? O que me posso comprometer é ouvir o presidente da Câmara [Marco Martins], que é uma pessoa dedicada, para aquilo que tem na alma.
Mais do que prometer isto ou aquilo é importante saber ouvir porque, quem sabe, em primeiro lugar, quais as necessidades do seu concelho, é o autarca que é eleito pelo seu povo. Depois podem então contar comigo para estar na primeira linha de defesa, como for necessário, junto do poder central, nos corredores do poder.
Para finalizarmos esta entrevista, que mensagem quer deixar aos gondomarenses? Os gondomarenses têm que ter orgulho nas forças vivas que os estão a gerir porque têm um grande empenho naquilo que querem fazer e têm provado o seu amor à terra. Portanto, juntem-se a essas forças locais porque juntos vão somando as lideranças territoriais para fazer a liderança de uma grande região.