Matias Moreira tem 15 anos e é Campeão Nacional de Esgrima. Após ter praticado outros desportos encontrou na esgrima o refúgio e um desporto que o desafia todos os dias. Apesar da falta de apoios o atleta pretende melhorar continuamente. Estivemos à conversa para perceber a importância desta modalidade na sua vida.
Como começou a esgrima?
Entrei para a esgrima tinha oito anos, porque a minha mãe era diretora das modalidades amadoras da esgrima e conheceu um casal em que a mulher era treinadora de esgrima. A minha mãe gostou da ideia, porque não tinha nenhum desporto e aceitei. Numa sala pequena durante um ano fui eu e a minha treinadora, a Dessyana Magalhães, numa sala. Este processo demorou três anos até chegarmos a um acordo com o Pedrouços.
Como é que chega ao Boavista?
Foi a treinadora e a minha mãe que tentaram desenvolver a modalidade. Na altura o meu pai também ajudou para tentar fazer crescer o clube na modalidade. Apesar de desconhecer completamente a modalidade. Tentou ajudar a arranjar fundos.
Em que prova é que já participou?
Já estive em Barcelona, em dois campeonatos, fiquei no meio da tabela. Até porque a nível de competição lá é mais elevado que aqui.
Como é que se sente em jogar com pessoas que estão num grau acima?
É fascinante. Antes ficava chateado quando perdia, mas agora quando sei que é melhor acho engraçado jogar com ele. Gosto de tentar acompanhá-los e melhorar com eles. Porque se não lutar com pessoas com um nível de acima do meu, também não evoluo. O que eu quero é evoluir todos os dias mais. Foi isto que me fez ser campeão também.
Foste o vencedor do Campeonato Nacional em Leiria. Quantas pessoas fizeram parte desta competição?
Foram cerca de 13/14.
Qual é a sensação de ser Campeão Nacional em iniciados?
Foi bom, mas quero mais. Estou a lutar por isso.
Quais são os objetivos futuros?
Quero ganhar o campeonato nacional em cadetes e juniores. Mas também quero fazer outras coisas na minha vida como ser Engenheiro Aeroespacial.
Como é que concilia o desporto com os estudos?
É fácil. Porque tenho um método de estudo diferente na Brave Generation Academy, de estudo autónomo.
Têm algum apoio do clube ou do Município?
É quase tudo investido pelos pais. Conseguimos o material porque tínhamos um clube que ia fechar e nós conseguimos reaproveitar os recursos para oferecer condições de treino. Os pais que foram aparecendo foram investindo. Foi assim que fomos crescendo e temos cerca de 30 atletas. As deslocações para os campeonatos e provas é pago pelos pais.
O que é que te motiva neste momento na prática deste desporto?
Quero melhorar. Quero melhorar-me a mim próprio. O que me motiva a ganhar é o meu mérito próprio. Não fui sempre assim, antes chorava quando perdia, mas isso não me leva a lado nenhum. Tenho de lutar para melhorar. Melhorei quando soube perder. Este é o segredo saber perder.
A quem deves um agradecimento?
Aos meus pais, à minha treinadora e a toda a gente que me ajudou nesta caminhada.
O jornal Vivacidade, também, esteve à conversa com o diretor da esgrima no Boavista, Nuno Moreira.
Enquanto diretor de esgrima do Boavista, como é que vê este título deste atleta?
É um orgulho enquanto diretor ver os meus atletas a ganharem títulos, principalmente quando sabemos todas as dificuldades que temos e continuamos a ter até chegar aqui. Desde a falta de apoio e à falta de reconhecimento. É sempre um orgulho enorme vê-los a ganhar estes títulos, sendo ou não campeões, o que me orgulha é que eles estão a dar o melhor deles. Faz parte da nossa função ensiná-los a ser melhor na sociedade.
Em relação ao Matias quero que ele continue a ganhar títulos, porque costumo dizer que nós ou ganhamos ou aprendemos.
As dificuldades que têm na esgrima, a nível de apoios, pode ser um impedimento para ter novos alunos e/ou para os praticantes ganharem títulos?
Sim. Há crianças e atletas que reconhecem que esta dificuldade os faça trabalhar mais, mas há outros que não trabalham tanto porque não têm o reconhecimento devido. Quando isso não acontecem desistem, porque sentem que ninguém lhes vai dar valor.
Depois há os que trabalham pelo gosto e/ou prazer na modalidade. Não podemos deixar de mencionar que os equipamentos custam até 400 euros e a modalidade não têm qualquer tipo de apoio, a não sei os “paitrocinios”, como lhes chamo. Até porque o fato depende do nível que o atleta esteja.