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João Torres: “É fora da zona de conforto que nos descobrimos a nós próprios"

[caption id="attachment_10690" align="alignleft" width="300"]João Gameiro Torres - outubro 2017 João Torres no Parque Nacional Huerquehue, no Chile / Foto: Direitos Reservados[/caption]

João Gameiro Torres, engenheiro biológico, resolveu abdicar da sua habitual rotina para se aventurar pelo Chile, transformando a Scrutinit num projeto internacional. O empreendedor revela-nos, entre outras coisas, a importância de uma experiência desta magnitude, com as consequentes saudades do seu “Porto” de abrigo.

O que te levou a seguir esta vertente empreendedora após teres concluído o mestrado em Engenharia? Foi uma conjugação de coisas que me levaram a isso. Na altura em que acabei o curso estava com um dilema: continuar a trabalhar no sítio onde tirei a tese de mestrado (Nestlé) ou tentar algo diferente. Foi exatamente nessa altura que os meus “co-founders” me convidaram a fazer algo arriscado, como lançar uma startup. Não pensei duas vezes.

Queres falar-nos um pouco sobre o que é isso da "Scrutinit"? A Scrutinit, que em breve se vai passar a chamar UXtopia, é a minha startup. Estamos a construir uma plataforma que irá servir de ferramenta às empresas para testarem a “user experience” de qualquer presença online que tenham. Isto é de enorme valor num mundo digital inundado de variadíssimos websites e apps móveis. Ajudamos as empresas a construir aplicações mais intuitivas, o que invariavelmente as deixa mais competitivas e lucrativas. Por outro lado, as pessoas que estejam na Scrutinit como testers ganham dinheiro por partilhar opiniões, o que permite a qualquer pessoa ter uma espécie de part-time em que recebe um dinheiro extra.

Vai passar a chamar-se UXtopia? Sim, UXtopia tem dois sentidos. Pode facilmente ser percebido como uma utopia. E também a topia (sítio) para UX testing. Vamos ter de mudar de nome exatamente porque o pedido de marca foi rejeitado.

Estás envolvido com quantas pessoas neste projeto? Somos quatro “co-founders”. Dois são engenheiros informáticos, um é designer e eu, sendo engenheiro biológico, estou responsável pela parte financeira e de negócio, sendo a “face” da empresa por assim dizer.

Como conseguiram que a vossa startup fosse impulsionada para o Chile? Foi uma mistura de sorte e mérito. O sistema de seleção no Start-Up Chile é bastante apertado, pelo que tivemos a sorte de o painel de jurados ter achado o nosso projeto de valor e com bastante potencial.

Como foste recebido em Santiago do Chile? Espetacularmente bem! O programa está muito bem construído, de forma a que todos os participantes se conheçam e se sintam integrados desde o primeiro dia. Assim foi.

Qual a melhor parte deste desafio situado a milhares de quilómetros de casa? A melhor parte para mim é a possibilidade de conhecer centenas de pessoas extremamente inteligentes de todo o mundo, existindo uma mistura impressionante de culturas. Tive a sorte de já ter, neste momento, diversas amizades fortes com variadas pessoas.

E a pior? A pior parte de desafios a milhares de quilómetros de casa, especialmente para um português, será sempre a distância. Que leva à saudade. Adoro a minha cidade, os meus amigos mais chegados e a minha família. A pior parte deste desafio é sentir-me distante desses três pilares.

Viver na América do Sul assume-se como uma realidade muito diferente comparando com Portugal? Santiago do Chile é, para muita gente, a Europa da América do Sul. Essa afirmação tem sentido, porque acaba por ser parecida com a realidade a que estamos habituados no nosso país. Mesmo assim, isto é a América Latina, pelo que em termos culturais existem diferenças importantes: as vendas de rua que existem por toda a cidade são exemplo disso mesmo. Para mim, talvez seja mesmo o clima a diferença mais marcante. Podem estar 4ºC à noite e 27ºC durante o dia, uma amplitude térmica a que não estava de todo habituado. E a paisagem. Estar a caminhar pela cidade e no horizonte ver os cumes nevados dos Andes não tem preço.

Tem sido uma experiência enriquecedora e que recomendas? Sem dúvida alguma. Recomendaria a qualquer um. É fora da zona de conforto que nos descobrimos a nós próprios, tenho aprendido imenso. Conseguir estar a trabalhar ao lado de centenas de pessoas incríveis de todo o mundo expandiu-me os horizontes e a minha maneira de pensar. É uma experiência magnífica e que recomendaria a qualquer pessoa.

Parte da tua formação académica foi em Gondomar. Sentes que teve influência no facto de seres hoje um empreendedor? Com toda a certeza. Começa logo pelo facto de um dos meus “co-founders” ter andado comigo na mesma turma do secundário, no Colégio Paulo VI. Além disso, são de Gondomar alguns dos meus amigos mais chegados, as pessoas que mais moldaram o meu crescimento. O que hoje me permite estar a ter esta experiência e, quiçá no futuro, chegar bem mais alto e ter outras tantas experiências que me permitam cumprir os meus sonhos.

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