Jéssica Pereira, de 20 anos, conhecida artisticamente como Jéssica, faz parte de uma das vozes mais jovens com impacto no fado. Já foi vencedora do concurso de Fado na RTP, marcou presença na Festa da Rádio Festival, no Coliseu do Porto e, ainda, fez a edição de Natal de 2023 na Casa da Amália. O Vivacidade esteve à conversa com esta jovem e o seu “professor” de música, Samuel Cabral.
Fale-nos um pouco sobre si.
Jéssica: Terminei a escola o ano passado num curso de hotelaria - restaurante e bar, mas não trabalho na área. Estou apenas dedicada ao fado. O fado faz parte da minha história, desde que me lembro. Nasci a cantar, mesmo que não soubesse (risos).
Como é que começou esse percurso pelo fado?
Jéssica: Ao lado de casa dos meus avós tinha uma casa de fados e a minha avó era fadista amadora nessa casa. Como eles iam lá todos os dias acabei por acompanhá-los e à medida que ia ouvindo quis começar a cantar. Verdade seja dita, não tinha vocação para cantar. Comecei a ter aulas com o Samuel Cabral, já conhecia a minha avó e já estava há muito tempo nesta “vida que é o fado”. Ensinou-me como é que tinha de colocar a voz, interpretar o poema, dividir as frases e ainda hoje estou a aperfeiçoar.
Como é que se aprende a cantar fado?
Samuel Cabral: Além de a Jéssica ser uma aluna aplicada começou muito cedo a aprender e a compreender a verdadeira mensagem do fado. O fado tem cinco parâmetros principais, a dicção, o compasso ou o ritmo, o estilo (a parte pessoal do fadista), o sentimento, e por fim a voz. Nas músicas tradicionais a voz não é assim tão importante e como foram transmitidos todos os parâmetros essenciais à Jéssica e como ela percebeu tão bem conseguiu crescer e continua nesse crescimento.
Conte-nos um pouco sobre o concurso que venceu há duas semanas, na Praça da Alegria, na RTP.
Jéssica: O concurso da Praça da Alegria terminou há duas semanas, felizmente acabei em primeiro lugar e tem trazido para mim convites para o estrangeiro.
Samuel Cabral: Além do concurso que venceu na RTP e está a ser muito vantajoso a Jéssica já participou em muitas outras coisas. Antes deste já tinha vencido o concurso de Lordelo do Ouro, que curiosamente é um concurso interessante, pois a maioria das pessoas que o venceram têm carreiras fantásticas, como a Gisela João, por exemplo. Ainda participou num concurso na Madeira, o “Fado Funchal”. Foi à Festa da Festival no Coliseu do Porto e canta todos os domingos no Café Aniki, na Ribeira.
As pessoas gostam muito dela, gostam de interagir com ela e isso vê-se cada vez que nos deslocamos a algum lado para ela cantar.
Falou-nos no concurso na Madeira, como é que surgiu esse convite?
Jéssica: A Madeira é a minha segunda casa. Pertenço a Associação de Fados da Madeira, e faço lá muitas vezes noites de fado e eles adoram. A receção que tive lá foi indiscritível. Para ir ao concurso foi o diretor da Associação que me convidou e aceitei sem pensar duas vezes.
Quais são os seus objetivos no futuro?
Jéssica: Levar o fado em frente. Quero viajar a cantar. Este ano pretendo gravar um single e um dia mais tarde cantar no Pavilhão Multiusos de Gondomar. Sobretudo cantarei até que a voz me doa!
Como é que a sua família vê esta sua paixão pelo fado?
Jéssica: Bem, só querem que esteja feliz, apesar de no início não cantar na perfeição (risos), sempre gostaram de me ouvir, e sempre me apoiaram. Não era má de todo, mas não era boa (risos).
Qual é a sua fadista de referência?
Jéssica: A Amália Rodrigues, pela forma que é, a forma como conta a história do fado, como ela é. O fado é uma forma de nós nos conseguirmos expressar e refugiar. Gosto de fados mais profundos. É uma coisa que me alivia a alma.