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Hugo Moreira: “Sair não significa fechar a porta. É deixá-la encostada”

[caption id="attachment_16691" align="alignleft" width="300"]Hugo Moreira - fevereiro 2019 Hugo Moreira partiu de Gondomar para a Irlanda do Norte / Foto: Direitos Reservados[/caption]

Hugo Moreira, de 28 anos, é data scientist na Irlanda do Norte, está a terminar o doutoramento e arriscou sair de Portugal em busca de uma melhor situação profissional. Todavia, o jovem gondomarense continua com o desejo vincado de regressar em definitivo ao seu país de origem.  

Como foi o teu percurso profissional até chegares ao ponto de trabalhares numa multinacional? Não foi um percurso muito previsível. Começou pela entrada num programa doutoral após terminar o curso de Engenharia Biomédica. Nunca tinha pensado em seguir o doutoramento. Mas uma oportunidade surgiu e lá arrisquei. Como o meu programa doutoral tem parceria com algumas universidades estrangeiras, decidi realizar o meu projeto numa universidade fora do país com boa reputação na investigação em radioterapia. A ‘Queen’s University Belfast’ deu-me essa oportunidade e não me desiludiu, bem pelo contrário. Tive a oportunidade de fazer parte de uma equipa de investigação de radiobiologia, certamente das melhores a nível europeu. Fiz simulações computacionais, de forma a prever a interação da radiação com diferentes materiais e a análise destas simulações levou-me a fazer aquilo que hoje faço: data science.

E o que é isso de “data science”? É uma área que tem estado muito na moda nos últimos tempos, está relacionada com outra área cujo nome talvez seja mais conhecido – ‘Machine Learning’. Envolve programação, bases de dados e muita matemática. Por exemplo, quando uma pessoa navega em páginas da Internet e vê anúncios de produtos que muitas vezes lhe interessa – isso é data science. O uso de dados do utilizador e do seu histórico de pesquisas para lhe sugerir produtos que lhe possam interessar. Outro exemplo pode ser através do facebook. Quando publicamos fotos com os nossos amigos e queremos identificá-los, o facebook sugere-nos os amigos que queremos identificar. Isto, em parte, é reconhecimento facial e também se baseia no nosso histórico de amigos próximos. O facebook parece que sabe com quem saímos sem lhe dizermos. Mais uma vez “data science”. Parece um bocadinho assustador, confesso que pode ser usado para fins menos éticos, mas também tem uma enorme utilidade social. Pode-se utilizar “data science” para prever quais as áreas de uma cidade em que devemos ter mais policiamento e evitar um maior número de crimes.

O que te cativou a trabalhar nessa área? Uma mistura de interesses. A componente física do meu doutoramento foi um dos fatores, porque gostei bastante. E “data science” tem muito raciocínio físico e matemático. Outro fator, e de igual importância, foi a estabilidade. É pena, mas um investigador, seja doutorado ou não, tem uma vida profissional muito pouco estável. É injusto viver de bolsas com contratos temporários, principalmente em Portugal. É viver uma vida instável, sem poder fazer planos de vida sérios a médio/longo prazo. É triste, mas é uma realidade que muitos investigadores portugueses vivem. Por muito que eu goste de investigação universitária, decidi seguir o meu rumo numa área empresarial de enorme potencial, onde continuo a fazer o que gosto e onde posso ambicionar outra forma de viver, sem precisar do apoio dos meus pais.

Com que frequência vens a Portugal e, em específico, a Gondomar? Costumo vir a Portugal pelo menos quatro vezes por ano. Às vezes por uns dias, outras vezes fico mais de uma semana, dependendo da altura. Os meus pais vivem em Gondomar, por isso passo sempre a maior parte do meu tempo no nosso concelho.

Como único estrangeiro e português no teu departamento, tentas passar um pouco da nossa cultura e falar de Portugal? Sim, sem dúvida alguma. São muitas as diferenças culturais. Na altura do Natal tive que lhes mostrar fotografias dos nossos pratos típicos natalícios. Não lhes cabia na cabeça que alguém comesse peixe no Natal, muito menos bacalhau. Para quem come peru no Natal, acharam o bacalhau muito estranho, mas ninguém duvida da qualidade da nossa gastronomia. Confesso que outra parte da cultura que lhes passo, mas só porque me imploram que o faça, é o nosso calão... Acham sempre piada ao imitar os nossos palavrões [risos].

É difícil conciliar o teu trabalho com a tese de doutoramento? Não é nada fácil. Ainda estou a acabar de escrever a tese, já com todo o trabalho experimental feito. Mesmo assim, apesar de ter um horário de trabalho bastante flexível, não é fácil chegar a casa com vontade de trabalhar novamente. Uma das minhas ocupações no tempo livre é fazer teatro de improviso, algo que me apaixonei de imediato quando tive as primeiras aulas aqui em Belfast. Equilibrar o trabalho, o improviso, a escrita da tese e alguma vida social à mistura tem-se relevado uma tarefa bastante difícil. Mas mais vale escrever a tese lentamente do que nunca a acabar.

Quais as principais diferenças entre viver na Irlanda do Norte e em Portugal? Há várias. Começamos pelo tempo – o céu está quase sempre nublado, com exceção dos meses de verão. A gastronomia irlandesa não se compara à portuguesa com muita pena minha. Relativamente ao povo em si, noto que as pessoas são extremamente simpáticas e educadas, algo que me surpreendeu imenso quando cá cheguei. Porém, dar dois beijinhos na cara de uma rapariga, sendo conhecida ou não, é algo que não acontece por aqui.

Queres falar-nos dos planos futuros para a tua carreira profissional? Há pouco falei de estabilidade. Uma das razões para ter escolhido esta carreira é precisamente para que possa alcançar essa estabilidade, principalmente quando voltar a Portugal. Tenho o objetivo de voltar ao meus país a médio prazo e para isso quero crescer na minha área de trabalho.

Que conselhos darias a quem equaciona sair do país em busca de uma melhor situação profissional? Sair não significa fechar a porta. É deixá-la encostada. É uma experiência de enorme realização pessoal sair do nosso país, adaptarmo-nos a uma cultura e língua diferentes e crescer em áreas de trabalho muitas vezes mais avançadas. Claro que também é uma decisão triste, significa deixar a nossa família e amigos e passar a vê-los com menos frequência. O pior que pode acontecer é não gostar da experiência e voltar. O melhor que pode acontecer é conhecer uma nova cultura, crescer pessoal e profissionalmente, alcançar objetivos que nunca pensámos conseguir. E aquela nossa porta continua encostada se precisarmos de a abrir novamente. Eu sei que a minha está.

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