O concelho de Gondomar é rico em histórias e em pessoas. Histórias essas de gondomarenses que honraram o nome do Município além fronteiras. Hoje, o VivaCidade apresenta o testemunho de vida de Mário de Sousa Giesta. Um homem que deixa a sua marca no concelho que o viu nascer. Um homem que teve toda a sua vida dedicada ao mundo empresarial, ao Movimento Associativo, à política e à religião.
A 29 de agosto de 1924, Gondomar viu nascer um homem que mudaria a vida de muitas pessoas. Hoje, com 96 anos, quase nos 97, conta-nos na primeira pessoas momentos que passou na sua trajetória. Momentos que servem para os mais novos como exemplo de percurso de vida.
Formado em Engenharia de Máquinas, é descendente de uma família Valboense, ligada à indústria do Imobiliário. O empresário conta ao VivaCidade que foi com os seus 16 anos, que começou a ver a vida com outros olhos. Foi com a sua entrada para a Escola Dramática que, segundo palavras do mesmo “Levei uma lição”. “Quando entrei para a escola, ganhei confiança com alguns amigos, como por exemplo o pai do escultor Zulmiro, entre outras pessoas que me convidaram para um peditório”. Segundo Giesta, foi com este peditório para um senhor que estava doente que descobriu que o primordial era fazer o bem. Naquela época a miséria reinava e na perspetiva de Giesta, apesar de ser grande, “Havia quem se importasse, eram poucos, mas muito interessados. Havia essa amabilidade. Os pobres chegavam a zangar-se se fossemos pedir à porta do vizinho e à dele não. Eles vinham mesmo ter connosco reclamar”, foi nesse momento que o engenheiro percebeu que “No fim, fazer o bem, era das coisas que mais me dava prazer”.
Foi com esse sentido de fazer o bem ao próximo, que o seu percurso passou pelos Bombeiros. Dado que, de dia tinha que estudar e trabalhar na oficina do seu pai, à noite era o tempo que arranjava para dedicar-se à Associação Humanitária de Valbom. O seu orgulho por esta entidade é visível quando fala dos seus colegas “Os bombeiros é a entidade mais eficiente que temos. As pessoas chamam a qualquer hora e eles estão lá para ajudar. São sempre os primeiros a socorrer”.
Sempre entregou-se de corpo e alma a estas causas associativas e de solidariedade. No que concerne ao seu percurso nos bombeiros, foi comandante entre 1952 até 1957. Mais tarde, em 1960 até 1982, foi dirigente da Instituição. Foi como Presidente dos Bombeiros que iniciou e desenvolveu o projeto de construção do atual quartel, que hoje, em sua homenagem, foi batizado com o seu nome. Ainda na parte associativa, foi dirigente e atleta do Clube Naval Infante Dom Henrique e dirigente da Escola Dramática e Musical Valboense.
A nível profissional, passou por Lisboa, após a sua formação escolar, onde trabalhou em funções públicas no Ministério da Indústria. No inicio dos anos 60, voltou à sua freguesia Natal para dedicar-se à indústria de mobiliário da família.
Em 1964, juntamente com os seus irmãos Ernani Giesta (mais velho) e Virgilio Giesta (mais novo) fundou a empresa Fábrica de Móveis Giestas de Valbom, Lda. Uma empresa que se tornou na época uma referência nacional da indústria imobiliária (pela a sua qualidade superior) e uma verdadeira escola de formação da arte da marcenaria. No inicio dos anos 70, a fábrica liderada pelo engenheiro tornou-se o principal empregador da freguesia.
Perante os seus funcionários, o engenheiro Giesta era visto como um colega de trabalho, dado que, apesar de ser o dono da empresa, o que mais gostava era de “arregaçar as mangas” e de trabalhar ao lado dos seus funcionários.
Para além do seu currículo profissional e associativo, o empresário fez da religião um dos principais focos da sua vida, dado que foi um dos obreiros e mecenas na construção do Centro Social e Cultural da Paróquia de Valbom, Instituição onde por vários anos exerceu as funções de Presidente do Conselho Fiscal.
No que concerne à sua vida política, o engenheiro já participava nas instituições locais, onde foi Presidente da Junta de Freguesia de Valbom. O que não surpreendeu a sua entrada para a Câmara Municipal como vereador, no mandato de Manuel Lema Monteiro. Mais tarde, com o 25 de abril, assumiu durante vários meses as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Gondomar. Ainda na política, o Engenheiro Giesta era contra as ideologias de Salazar.
Para além da sua vida profissional agitada, foi com 26 anos que casou com a mulher que seria a sua companheira de vida e de histórias, Gracinda Giesta. Enquanto falávamos com Gracinda que esteve sempre do seu lado, Giesta interrompe com os olhos a brilhar e refere: “A minha mulher foi uma pessoa muito importante na minha vida. Criou as minhas filhas e aturou-me sempre. Eu chegava a ir para a cama às 2h da manhã e ela sempre teve muita paciência comigo.”
Hoje com uma família repleta de netos (cinco) e bisnetos (oito), que são a sua maior alegria de vida, deixa um testemunho a todos que leram esta noticia: “A vida que levei foi baseada, precisamente neste ato de amizade e de amor com os meus. O que eu fiz e tudo o que uma pessoa possa fazer de bem, é a melhor riqueza que podemos angariar. É uma riqueza que quando entra em nós, dá para contrariar todos os defeitos que todos nós temos. A pessoa sendo simples erradia simpatia. E, neste meu percurso, não fiz mais do que o meu dever e mesmo assim agradeço à sociedade e a Deus por me ter metido nestas coisas”. ▪
Maria de Lurdes (Filha mais velha)
Tenho sido muito apreciadora do meu pai. Tínhamos que andar sempre muito direitas com ele, que nem uma vara. Tínhamos que dar sempre o nosso máximo, porque ele assim o exigia. Nunca podia sair do quadro de honra. Formei-me em engenharia eletrotécnica, com 15.5. Eu tenho muitas recordações dele. Lembro-me de ser por volta da meia noite e de conseguir ouvir as anedotas que ele contava no portão aos seus colegas que eram dos bombeiros. O meu pai tinha e tem anedotas fantásticas. Portanto, as memórias são muitas. Não dá para escrever todas aqui, mas fui sempre puxada por ele para dar o meu máximo em tudo o que fazia e, hoje, ainda sou uma pessoa muito perfeccionista, tem que ser tudo perfeito, porque se não, não está bem. Graças a ele, abri os meus horizontes e fico satisfeita pelo meu pai ser reconhecido e por ter tantas pessoas que querem saber da história de vida dele, uma história complexa. Aqui a família foi sempre quem sofreu um pouco, para que ele tivesse a história que tem e que é fantástica. Agora, o que ele mais adora são os seus netos e bisnetos. Tem sido impecável. E, eu gosto que eles apreendam e passem tempo com o avô. Porque ele teve sempre muitas tarefas e cargos, até chegou a ser funcionário da direção geral da energia chegando a ser avaliador das finanças. Portanto, foi uma vida sempre muito preenchida em diversos setores. Neste percurso todo, apreendi muito com ele sobre muitas coisas. Portanto, eu tenho uma escola grande e de muito conhecimento por causa dele, mas também tenho na pele marcas das exigências da vida, onde nem tudo foram flores, porque o dinheiro não caia das patacas.
Maria Antónia (Filha mais nova)
Sem dúvida nenhuma que é um orgulho ter um pai com um percurso como este. Eu só lamento não ter tido a cabeça dele. Recordo-me que era um tempo que não dava para tudo, porque ele estava constantemente a mudar de trabalho. Mas apesar de tudo, não esquecia a família, era um pai presente. Recordo-me que na altura dos exames, ele não deixava de nos levar uns lanchinhos nos intervalos. Ele estava sempre preocupado para que não nos faltasse nada. No entanto, sempre foi muito exigente connosco. Hoje, dou graças por ter tido uma educação que me rege na vida. Que serve para dar exemplo aos mais novos. Também acontecia ir buscar-nos ao colégio às 22h, e a essa hora eu já estava a dormir na enfermaria. Portanto, existem umas histórias assim mais caricatas.
Mulher, Gracinda Giesta
A minha vida era estar sempre em casa a cuidar das minhas filhas. Sempre o apoiei e estive ao lado dele. Mas a minha vida sempre foi cuidar da nossa casa.
Francisco Silva, amigo de Giesta
Tenho muitas histórias com senhor engenheiro. Mas há uma que foi muito marcante e que prova a generosidade dele. Houve uma altura na empresa, em que as coisas estavam a correr mal, porque o número de vendas e a procura já não era a mesma. Naquela empresa, já chegaram a trabalhar 150 trabalhadores, mas nessa fase final trabalhavam 90 funcionários. Isto por volta de 1996. Perante a situação do mercado, ele virou-se para mim e disse que nós tínhamos um bolo (dinheiro) grande e que deveríamos de o distribuir por todos os funcionários. Mas era um bolo considerável. Assim foi, o Sr. engenheiro reuniu todos e disse que tínhamos duas opções, ou vínhamos todos para aqui, durante sete anos jogar à sueca e recebíamos o ordenado ou fechávamos a casa e fazíamos a divisão da quantia. A decisão foi fazer a distribuição. Naquela altura, fiquei durante 2\3 dias seguidos a fazer as contas das indemnizações e a preparar todos os processos. Todos os cálculos que foram feitos eram de acordo com a legislação e com os anos de casa que cada funcionário tinha. Depois, no final, com o dinheiro restante que ainda não tinha sido distribuído, o Sr. Engenheiro de um a um, foi acertando o valor final. Ele arredondou sempre para cima. O bolo era grande, mas foi todo, tanto que depois para a reconstrução tiveram (filhos) que andar a colocar dinheiro na fábrica.
António Braz, Presidente da União de Freguesias de Gondomar (S.Cosme), Valbom e Jovim
Sempre o admirei pelo seu percurso. O Sr. Engenheiro esteve sempre ligado à igreja, de tal forma que deu um terreno ao Centro Paroquial que é numa zona central e que certamente valeria uns milhares de contos. Esse terreno neste momento possui uma das maiores instituições de Valbom. O Sr. Engenheiro a nível da paroquia desenvolveu, a conferência de S.Vicente de Paulo, onde ele tem histórias de ir aos velhinhos e de ajudar a fazer o curativo às pessoas que estavam em circunstâncias muito difíceis. Tudo o que aconteceu na igreja está ligado a ele. A nível industrial é importante salientar que a sua empresa foi referência nacional e internacional. Chegaram a comprar os móveis Giestas, para a fundação Ricardo Espírito Santo. Na empresa era tudo à base do artesanal, no entanto os velhinhos começaram a envelhecer e os mais novos não quiseram apreender. A certo ponto, o peso da parte administrativa e do gabinete de desenho, era superior à mão de obra produtiva. O papel de Mário Giesta na freguesia foi tão importante que iremos homenageá-lo com a colocação do seu nome numa rua que vai ter relevância na nossa cidade. É uma rua muito central e que toda a gente vai associá-la ao nome do engenheiro Mário Giesta. Um homem que terá sempre a minha admiração e respeito, porque efetivamente, é um dos melhores homens que conheci na minha vida.