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Elói Viana: “Gondomar é o centro da ourivesaria a nível nacional e para isso muito contribuiu o CINDOR”

[caption id="attachment_17269" align="alignleft" width="300"]Entrevista Elói Viana - junho 2019 Em 1984, Elói Viana impulsionou a criação do CINDOR / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

Francisco Elói Gomes Viana, 84 anos, natural de Gondomar (São Cosme), dedicou uma vida à sua arte, a ourivesaria. Criou a sua empresa e dedicou-se a esta atividade profissional durante 50 anos, além de ter sido presidente do Conselho Geral e da Direção da Associação dos Industriais de Ourivesaria e Relojoaria do Norte (AIORN) e responsável pela criação do Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria (CINDOR), criado em 1984, tendo sido ainda membro do seu Conselho de Administração desta entidade durante 25 anos. Motivos de sobra para a criação do Prémio Nacional de Ourivesaria Elói Viana, criado em 2018, pelo Município de Gondomar, pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda e a Associação Nacional de Jovens Empresários, que visa distinguir o espírito de iniciativa e projetos inovadores nas áreas da joalharia e ourivesaria.

Elói Viana é hoje um nome de peso na ourivesaria em Gondomar e em todo o país. Curiosamente a sua história começa em Gondomar (São Cosme), em que zona, mais concretamente? Eu nasci perto do Monte Crasto, em Gondomar (São Cosme). Vivi com os meus pais e avós maternos até aos oito anos e depois fui morar ali perto, já só com os meus pais. Portanto a minha vida foi sempre em volta do Monte Crasto. Mais tarde fui viver para Valbom, onde hoje resido, para perto dos meus filhos e dos meus netos, já depois de ter ficado viúvo.

Recordando a sua infância, como era Gondomar nesse tempo? Bem diferente dos dias de hoje, sem dúvida. Cresci no Monte Crasto e brincava sempre na rua. Era uma realidade completamente diferente e mais rural. As crianças, como eu, divertiam-se ali pelo monte e arranjávamos sempre forma de nos entreter. Aos fins de semana o Monte Crasto era visitado por muita gente, era uma grande atração do Grande Porto.

O Porto ficava mais distante do que hoje ou os gondomarenses já procuravam muito a Invicta? Já havia essa ligação muito próxima. Os meios de transporte não eram tão rápidos e eficazes como hoje, mas posso dizer que completei o curso comercial na Escola Académica do Porto. Depois de concluir os estudos primários optei por começar a trabalhar com o meu pai na oficina de ourivesaria, mas desde cedo habituei-me a ir ao Porto.

Portanto, a sua ligação à ourivesaria surge bem cedo… Sim, até porque os meus avós paternos e maternos já viviam da ourivesaria. O meu pai, José Alves Viana, deu continuidade a essa tradição familiar e eu viria a fazer o mesmo, anos mais tarde.

Tinham oficina em casa? Tínhamos, por isso era difícil resistir a esse apelo da ourivesaria (risos).

Quando era pequeno já tinha curiosidade pelo processo de fabrico das peças ou não ligava tanto? Nem por isso, eu queria era brincar na rua (risos). Quando comecei a trabalhar com o meu pai já era muito ambicioso e fui responsável por introduzir novas técnicas que ele desconhecia até então. Acabei por frequentar algumas formações de técnicos alemães e foi aí que absorvi novos métodos que, inicialmente, o meu pai estranhou muito.

Nessa altura o meu pai já tinha o hábito de registar todas as peças. Essa foi sempre uma característica nossa, nunca copiamos ninguém, mas fomos sempre vítima das cópias, inclusivamente de alguns “amigos” nossos, infelizmente.

Com que idade vai para a oficina do seu pai? Com cerca de 15 anos começo a acompanhar o meu pai na oficina. Hoje arrependo-me de não ter continuado os estudos, porque nunca reprovei e não era mau aluno, mas a vida também não me correu mal. Não me posso queixar. Ainda trabalhei alguns anos com ele, até que um dia fiquei magoado com ele e decidi estabelecer-me por conta própria.

Como foi esse início por conta própria? É sempre difícil. Comecei mesmo sozinho, com 18 anos, na oficina construída, curiosamente, pelo meu pai e pelo meu avô materno, depois lá consegui meter um funcionário comigo e a partir daí foi sempre a crescer. Chegamos a ser sete pessoas a trabalhar.

O meu maior orgulho é nunca ter copiado ninguém e ter obrigado os clientes a respeitar-me sempre, que era uma coisa que eles não estavam nada habituados.

Como era o setor nessa altura? Já era um setor muito fechado, com algumas atitudes incorretas, por vezes. Esta indústria foi muito maltratada pelo comércio. Havia uma cobardia total dos meus colegas. Eu sempre lutei pela valorização e reconhecimento desta indústria e estive sempre ligado a organizações e associações do setor.

Entretanto, em 1984, também acabei por estar envolvido na criação do CINDOR.

Conte-nos essa história… Tudo começou na Agrindústria, quando falei com o ex-presidente da Câmara de Gondomar, Arlindo Neves. Desafiei-o a criar as condições necessárias para a criação de uma escola de ourivesaria em Gondomar. Felizmente ele aceitou esse desafio.

Começamos numas pequenas instalações, com três salas, no Conjunto Habitacional do Monte Crasto, mas aquilo tornou-se exíguo em pouco tempo. Um dia, mais tarde, voltei à Câmara de Gondomar e disse-lhes que o ideal era construirmos um edifício de raiz para o que viria a ser o CINDOR, para o projeto conseguir crescer. Mais uma vez o Município acedeu e fez-se o CINDOR que conhecemos hoje.

Entre as minhas grandes conquistas estão também a manutenção da contrastaria em Gondomar e a criação do primeiro curso de designers de ourivesaria em Portugal, orientado pela Escola de Designers de Glasgow, na altura uma das melhores do mundo.

Que papel tem hoje o CINDOR, na sua opinião? É uma escola de referência no setor da ourivesaria. Desde cedo nos habituamos a ter alunos de todo o mundo, que nos procuravam precisamente pela nossa qualidade e rigor.

Durante o meu tempo no CINDOR, fomos contactados por colegas brasileiros e espanhóis, inclusive do Japão. Temosa melhor escola de ourivesaria do mundo. Além disso, sempre teve formadores de grande qualidade e sempre lecionou com grande rigor, nas várias áreas.

O CINDOR dos dias de hoje já não é o CINDOR do meu tempo, mas é uma instituição que me diz muito.

Qual era a missão do CINDOR? Queríamos levar mais-valias ao setor, com novos protagonistas, formados da melhor maneira possível. Antes disso já tinha existido uma escola de formação na Escola Básica Marques Leitão, em Valbom, mas acabou por terminar. O CINDOR veio corrigir essa falha em Gondomar.

Então conciliava o seu trabalho com as responsabilidades no CINDOR e na Associação dos Industriais de Ourivesaria e Relojoaria do Norte (AIORN)… Sim, que me roubava muito tempo à família, além de ter sido jogador e treinador de voleibol na Ala Nun’Álvares de Gondomar, durante mais de 20 anos, dirigente do Clube Gondomarense e membro da Assembleia Municipal de Gondomar. Mas a minha família nunca me cobrou essa ausência e sempre demonstrou grande apoio.

Entretanto foi pai… Pai e mais tarde avô. Hoje tenho duas filhas e um filho, todos engenheiros informáticos, curiosamente. Nunca me deram problemas, foram sempre bons alunos e sempre me apoiaram. Merecem o melhor da vida.

Atualmente, a ourivesaria gondomarense tem recuperado o mediatismo de outros tempos. Que análise faz da recente projeção e exportação da ourivesaria gondomarense? Gondomar é o centro da ourivesaria a nível nacional e para isso muito contribuiu o CINDOR. A par disso, é preciso que os nossos ourives percebam que o futuro é a exportação e quem não perceber isto, pode ter os seus dias contados.

Quanto à filigrana, é uma arte nossa e felizmente soubemos preservar sempre essa arte. Espero que não se perca terreno para a filigrana injetada e que daqui em diante se saiba fazer a distinção entre a filigrana artesanal certificada e a filigrana injetada. Além disso, é crucial continuar a formar “enchedeiras”, que continuam a ser uma parte fundamental do processo de criação das peças.

Eunice Neves, diretora do CINDOR Dedicação à ourivesaria, visão estratégica e persistência.

De entre tantos atributos de Elói Viana, estes são os que destaco na sua participação ativa no processo de criação de um centro de formação especificamente instituído para o setor.

Consciente da importância da especialização dos recursos humanos das empresas de ourivesaria, empenhou-se na instalação do CINDOR em Gondomar, o que veio a tornar-se realidade na sequência da assinatura, em 1984, de um protocolo entre o Instituto do Emprego e Formação Profissional e a Associação dos Industriais de Ourivesaria e Relojoaria do Norte, de que era então presidente.

É, pois, uma figura incontornável da história do centro!

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