“A concorrência é importante porque torna-nos melhores”
Por Rui Gomes, jornalista do Repórter de Gondomar
Na nossa centésima edição convidamos o Repórter de Gondomar para entrevistar a administração e a direção que fundou o Vivacidade em abril de 2006. O jornalista Rui Gomes, do mais antigo jornal do concelho, esteve à conversa com José Ângelo Pinto, administrador da Vivacidade S.A., e com o diretor Miguel Almeida, que traçaram o percurso de 100 publicações e desvendaram algumas ideias para o futuro.
Repórter de Gondomar (RG) – Começando por falar no trajeto do Vivacidade, como é que surgiu a ideia de lançar este projeto de comunicação social regional, centrada inicialmente em Rio Tinto e Baguim do Monte? José Pinto (JP) – Sentimos que havia necessidade de um órgão de comunicação que estivesse orientado para a cidade de Rio Tinto, uma cidade com cerca de 30 mil eleitores, mais de 50 mil habitantes e com um grande número de eventos organizados pelo movimento associativo. Como a informação nem sempre chegava à população procuramos congregar um conjunto de pessoas que uniram esforços numa sociedade anónima, o Vivacidade S.A. Sentimos que havia uma capacidade para criar um jornal nesta região, associado à construção de um projeto inovador. Lançamos um jornal capaz de demonstrar que em Rio Tinto havia uma grande força social, com uma opinião muito forte. Para concretizar este projeto contamos com o apoio das empresas locais.
RG – A ideia foi criar um projeto inovador numa área onde havia uma carência informativa? Miguel Almeida (MA) – Inicialmente o Vivacidade nasceu por vontade nossa. Tivemos consciência que havia uma carência informativa latente nas duas freguesias [Rio Tinto e Baguim]. Em 2005, após as eleições autárquicas, percebemos que a campanha eleitoral tinha sido muito mal explorada a nível noticioso, porque as pessoas não tinham noção de quem eram os candidatos. Conversei com o José Pinto e surgiu a ideia de fundar o jornal. Acabamos por convidar várias pessoas com influência cívica e política nas duas freguesias. O projeto foi entendido e foi assim que nasceu o Vivacidade. José Pinto (JP) – Sem nenhuma conexão política, a primeira edição saiu no dia 24 de abril de 2006 [risos].
RG – Nessa altura o jornal já chegava a Gondomar (S. Cosme) e a outras freguesias do concelho? MA – Se pegarmos nas primeiras edições percebemos que 80% da informação era sobre as freguesias de Rio Tinto e Baguim do Monte, mas também tínhamos notícias de Fânzeres, Valbom e Gondomar (S. Cosme).
RG – Entretanto o projeto foi crescendo e marcou uma posição em Gondomar. Quando é que decidiram alargar o âmbito noticioso? MA – Ainda estivemos quatro ou cinco anos exclusivamente focados em Baguim e Rio Tinto, mas sentimos a necessidade de alargar o nosso âmbito. Percebemos que o Vivacidade devia crescer para as restantes freguesias do concelho e alargamos o âmbito editorial. Hoje cobrimos praticamente todo o concelho de Gondomar.
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RG – Essa expansão também obrigou o jornal a remodelar-se. Acabaram por melhorar a paginação e o design do Vivacidade. Hoje sentem que o jornal está implantado? MA – Absolutamente. JP – Temos um feedback muito positivo dos leitores. As pessoas encontram-me na rua e perguntam-me pelo jornal. Nós colocamos o jornal em 1200 pontos de distribuição e temos quem nos peça para colocar nas caixas do correio, mas os custos de impressão são brutais. No entanto, estamos convencidos que chegamos às pessoas que têm interesse no jornal, porque as pessoas procuram-nos muito nas papelarias e nos cafés de Gondomar. O jornal e a marca têm um grande impacto no concelho.
RG – Os jornais locais estão normalmente associados ao poder local. Como é que o Vivacidade lida com isso? MA – Todos temos um partido e um clube, uns assumem e outros não. Independentemente da notícia ser do Partido Socialista, do Partido Social Democrata ou do Bloco de Esquerda, se for um facto nós publicamos. Temos esse dever e penso que as pessoas farão a justiça de não desmentir isto. Não misturamos as coisas, até porque já lidamos com executivos do PSD, Independentes e Socialistas.
RG – Por vezes, os jornais locais são mais independentes que os jornais nacionais? JP – Também é verdade... MA – Felizmente, nós não temos esse problema. JP – Também não damos oportunidade para que isso aconteça. Nunca tive um telefonema a pedir notícias encomendadas porque as pessoas sabem que isso não resulta.
RG – A sobrevivência dos jornais locais passa pelo mercado publicitário. Gondomar aceitou bem o projeto? JP – Tivemos três grandes momentos. No lançamento do Vivacidade contamos com um escasso grupo de anunciantes para pagar as despesas do jornal, mas graças ao dinheiro dos acionistas foi possível manter o jornal. Numa segunda fase começamos a ter um ritmo publicitário consistente e numa terceira fase, com a intervenção da Troika, em 2011, sentimos uma contenção de despesas. Essa contenção obrigou-nos a melhorar a forma como concebemos o jornal e a acrescentar valor aos nossos anunciantes. Hoje continuamos a ter um jornal financeiramente equilibrado.
RG – Quando o Vivacidade surgiu, existiam dois jornais locais, mas hoje existem mais dois novos títulos. Acham que isso afeta ou valoriza o vosso projeto? JP – A concorrência é importante porque torna-nos melhores. Podemos sempre ter mais publicações, mas achamos que a nova concorrência não tem a mesma lógica que nós. Criaram o seu próprio nicho de mercado e esperamos que consigam vingar. O nosso jornal mantém o conceito inicial, com uma boa mistura entre notícias, crónicas e opiniões. MA – A concorrência só nos torna mais fortes. No entanto, acho que já temos jornais a mais em Gondomar, mas os mais fortes hão-de sobreviver.
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RG – A administração e a direção do Vivacidade estão satisfeitas com a equipa que mensalmente produz o jornal? MA – Nós damos a cara mas este jornal só é publicado porque temos um conjunto alargado de colaboradores extraordinariamente profissionais. Sem essas pessoas o Vivacidade não existia. JP – A nossa equipa é muito competente e profissional. Os jornalistas estão sempre prontos a dar cobertura aos eventos.
RG – Que projetos têm para o futuro do Vivacidade? JP – O projeto está definido e estruturado, por isso achamos viável ampliá-lo para outras regiões. A ideia passa por ‘franchisar’ o conceito e a lógica do jornal. Um trabalho criativo pode sempre ser melhorado, mas terá que passar por um crescimento lateral porque o espaço publicitário de Gondomar está a ficar limitado. A existência de muitos projetos pode dificultar a penetração no mercado publicitário do concelho e por isso estamos a ponderar criar um novo projeto. MA - Até ao final do ano iremos lançar um novo projeto que vai abranger regiões do Douro Sul, onde não há publicações com estas características.
RG – O caminho para a edição n.º 200 está traçado? JP – Não tenho dúvidas que sim. O jornal está cada vez mais capaz e tem um grande impacto na região. MA – Essa é fácil de responder, claro que sim.