
José Carlos e Maria José Gorgal, conhecidos pelos portugueses como “Broa de Mel” estão de regresso a Gondomar. Movidos pelo convite da direção do S. C. Rio Tinto, aceitaram de imediato o desafio de compor um hino para o clube que celebrou este ano o 90.º aniversário. Quanto ao futuro não têm dúvidas “impõe-se o lançamento de um novo álbum”.
Como nasceu o Duo Broa de Mel? Maria José (MJ) - Conhecemo-nos num programa festival, namorámos e depois do nosso casamento fizemos vários concertos como amadores. Éramos convidados para fazer as primeiras partes dos cantores profissionais, onde conhecemos a Amália Rodrigues, Carlos Paião, José Cid, Paco Bandeira, Cândida Branca Flor... Mas foi preciso deixarmos Rio Tinto e irmos para Lisboa fazer a nossa carreira. Em conversa connosco, o Carlos Paião chegou a dizer: “É pena porque vocês sabem muito bem o que andam a fazer e há poucos duos.” Convencemo-nos e começamos a fazer contactos para ir ao Festival da Canção de 1982.
Correu bem, ficámos em quinto lugar, entre 12 concorrentes. Foi como se tivéssemos ganho o festival (risos). A partir daí começaram a surgir convites e o nosso segundo single “Passear Contigo” atirou-nos para o mundo. Passados dois meses estávamos nos Estados Unidos a apresentar a canção às comunidades portuguesas.
Mas depois da participação no Festival da Canção, em 1982, têm outra participação em 1983... MJ - Sim, também participamos em 1983, mas arriscámos demais. Começámos a trabalhar com músicos muito evoluídos, desde o Armindo Neves, ao Mike Sergeant e Ramón Galarza. Todos eles estavam num patamar musical europeu e quiseram que cantássemos um funkie, que não tinha nada a ver com o que fazíamos. Foi uma aventura e aí não ficamos nada bem classificados.
Porque é que hoje em dia não se veem grandes nomes a participar nos festivais da canção? MJ – Porque convencionou-se que quando uma pessoa ou banda não fica bem classificada, perde prestígio. Mas se hoje me fosse feita essa proposta eu não teria muito a perder ao participar no Festival da Canção. No entanto, em 1982, quando o Marco Paulo participou no Festival, foi muito mau para ele naquela altura, porque ficou mal classificado e ouvi pessoas a dizer-lhe que ele nunca deveria ter concorrido. Hoje em dia um cantor que vai atuar à televisão já é profissional. Quanto é que ele passa a cobrar? O mesmo que os outros que já cá andam há muito mais tempo.
O primeiro álbum surge em 1990... José Carlos (JC) – Era moda esperar algum tempo para fazer o primeiro álbum. Os editores faziam um disco por ano, com lado A e lado B.
Para quando o próximo álbum? MJ – O próximo álbum foi este do SCRT (risos). Agora estamos a trabalhar com o Ricardo Landum, que é o produtor do Tony Carreira e já estamos a selecionar temas para o próximo trabalho. JC – Impõe-se o lançamento do próximo álbum que terá que levar a minha chancela com o slogan de sucesso.
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Então já há músicas novas? MJ – Músicas há sempre, basta dedicar-me a compor (risos).
E onde podemos encontrar os Broa de Mel durante o ano? MJ – Antigamente podia dizer-lhe que tinha a agenda feita para o próximo ano, mas agora só em maio e junho é que vamos saber como será o verão. Cantar todos os dias até podemos cantar, mas não recebemos cachet (risos).
Como estão a viver esta nova fase dos Broa de Mel? MJ - Esta relação com o S.C. Rio Tinto surgiu de um convite que foi feito pela direção. Já tinha feito um hino para o futebol feminino e foi curioso porque as coisas completaram-se. Estou fascinada por ser o clube da minha terra, primeiro porque o S.C. Rio Tinto está a comemorar 90 anos e nunca teve um hino oficial e depois porque descobri que o meu pai também era sócio e que o meu irmão jogou hóquei neste clube. Agora eu também estou ligada ao clube. JC – Nunca tínhamos imaginado fazer um hino para um clube mas estas coisas acontecem naturalmente e quando menos se espera. Não considero um feito inédito, depois de uma carreira de 30 anos de sucesso. Mas para chegar aqui houve um trabalho insano da nossa parte e ouvimos conselhos dos grandes músicos como o José Cid, o Ramón Galarza e o Carlos Paião, que foi o principal responsável pelo nosso lançamento.
Na vossa opinião, como está neste momento a música popular portuguesa? JC – Há quantidade mas não há qualidade. Penso que a qualidade escasseia pela falta de criatividade. Provavelmente até haverá criativos mas ainda não emergiram. No âmbito musical temos que ter noção que não podemos revelar vozes só para preencher um espaço. Em Portugal temos um músico que grava um álbum e depois gravam um “best of” e eu pergunto: um “best of” de quê?! MJ – Hoje em dia não há carreiras, há uma ou outra música e para por ali.
Este hino revela a facilidade de se adaptarem a novos projetos? MJ - Eu penso que ser autor e compositor obriga a ter muita criatividade. Evoluímos sempre mas sentimos a necessidade de fazer qualquer coisa diferente, até porque há dificuldades no panorama nacional português.
Têm orgulho neste projeto? MJ - Muito orgulho. Eu vivia em Rio Tinto e este é um regresso às raízes. Durante estes 30 anos de carreira fiz sempre questão de me lembrar dos meus amigos e da minha terra. Não perdi nada.