Dois anos de pandemia e muito pouco haverá ainda por dizer. Todos já sabemos o quanto mudou nas nossas vidas, os custos que a pandemia trouxe para cada um de nós e as vidas que custou. Os familiares e os amigos que vimos partir ou que vimos ficarem doentes. Os dias intermináveis de confinamento. Os momentos de incerteza sobre o que por aí vinha. As dificuldades económicas que trouxe a muitas famílias, que viram reduzir ou anular os seus rendimentos. O afastamento social. O uso da máscara. O tudo que a pandemia nos trouxe, mas... o tudo que a pandemia nos tirou.
Passados dois anos, parecia que tudo estava a acabar. O mundo, e cada um de nós, estava a preparar-se para a recuperação. Para voltar ao normal. O regresso àquele tempo em que éramos felizes e podíamos viver sem restrições. Os apoios económicos à recuperação. A famosa “bazuca” ou o ansiado Plano de Recuperação e Resiliência. Os apoios financeiros da União Europeia que nos iriam ajudar a sair da crise e a sermos um país e uma Europa melhor do que aquela que tinha enfrentado a pandemia. A mudança económica e de alguns paradigmas que nos tinham deixado desprotegidos e dependentes. Tudo parecia que estava a acabar e a recomeçar... mas não estava. Não estava porque a Rússia decidiu invadir um país soberano e desrespeitar e fazer tábua rasa de todas e quaisquer regras do direito internacional, mergulhando o Mundo, mas principalmente a Europa, em mais uma onda de incerteza, mostrando, uma vez mais, a sua fraqueza e a sua dependência externa.
Se na pandemia percebemos que dependíamos de ventiladores e de máscaras produzidas na China, agora vemos que dependemos de gás e de petróleo produzidos na Rússia. Se a Europa quer, pode, e condena a atividade Russa, sofre da mesma forma com a decisão que tomou e vê os preços da energia a subirem, de forma abrupta, em toda a Europa e os restantes produtos a seguirem o mesmo caminho, por arrasto. A inflação na Europa sobe para valores inéditos, nas últimas décadas, colocando em causa os planos da recuperação da pandemia e mergulhando-nos a todos, uma vez mais, num mar de incertezas e de preocupação.
A agressão da Rússia veio-nos mostrar a instabilidade da diplomacia internacional e dos assuntos por resolver, que se arrastam durante décadas ou séculos e que nunca parecem ter um final. Interesses colidem. Porque uns querem, e devem, ser independentes e seguir a sua própria identidade, outros consideram que esta independência coloca em risco a sua própria segurança ou independência. Se uns consideram, e bem, que a mesa onde se devem discutir estas questões é na diplomacia e sobre o manto do direito internacional, outros consideram que a guerra e a agressão também fazem parte da política e que tudo se insere no xadrez da política internacional. Durante muitas décadas, as últimas, a Europa considerou que seria impossível acontecer uma guerra no seu território. Considerou também que poderia abater os seus meios de produção porque ficava mais barato adquirir o que necessitava em mercados mais baratos. Não fez exploração de produtos e recursos naturais energéticos porque as preocupações ambientais se sobrepõem e é preferível explorar os recursos existentes noutros locais do globo.
E como considerou tudo isto, ficou, sem se aperceber, cada vez mais dependente do exterior. Dependente das indústrias que produzem equipamentos médicos e de proteção. Dependente dos recursos energéticos de outros países, a maioria deles com uma enorme instabilidade política. Dependente até da força das armas de uma outra potência militar que a proteja. Passaram dois anos e já todos vimos que o caminho que percorremos precisa de mudar e que os próximos anos serão, ainda, de muita incerteza e de mudança.
Para terminar gostava de agradecer ao Jornal VivaCidade pela oportunidade de poder escrever regularmente neste periódico que é, sem dúvida, uma marca da imprensa local no concelho de Gondomar. Obrigado e parabéns pelo vosso excelente trabalho.