
Nascido em Baguim do Monte, José Carvalho ou Zé Carvalho – como é conhecido – trabalhou na construção civil e foi taxista mas é pelo fado que é reconhecido. Não é um fado comum. É o fado com humor. Tem até à data três gravações e diz que se sente “um tanto ou quanto regozijado” porque a população de Baguim do Monte “o respeita muito”. Já os The Dixie Boys andam na estrada desde 1994. A banda de rockabilly dos anos 50 já teve várias formações mas, segundo Rui Ferreira, compositor e contrabaixo, esta é a “melhor formação” da banda. Os The Dixie Boys contam com quatro álbuns editados e atualmente ensaiam na casa do vocalista Ricardo Prazeres, em Valbom. O Vivacidade esteve à conversa com três dos quatro membros do grupo.
Entrevista a Zé Carvalho:
Quando é que o fado entrou para a sua vida? Comecei a brincar no Largo de S. Brás, quando se faziam festas e cortejos para o Centro Paroquial. Participei em várias, inclusivamente, vestido de palhaço em festas para crianças. E numa dessas festas houve um senhor que me disse: “Quero contratá-lo para o dia 4 de novembro [de 1978] porque vou inaugurar um restaurante em S. Pedro da Cova.” Eu disse que estava a cantar mas não era fadista. Esse foi o meu primeiro espetáculo. Depois, pensava que não ia continuar mas a malta começou a puxar por mim e então dediquei-me um bocadinho e continuei.
Foi a voz ou o humor que o ajudaram a lançar a carreira? Foi a voz, porque comecei com um reportório do Neca Rafael e a minha voz parecia-se com a dele. E havia uma certa parecença na voz. Mas foi um pouco de tudo, o humor também e continuei sempre com esse tipo de fado.
Porquê o fado humorístico? Já gostava da pessoa que, naquele tempo, comecei a imitar. Dava-lhe um valor fora de série e ganhei mais tarde minimamente um pouco desse valor.
Nunca considerou o fado como um estilo de música triste? Nos anos 60 e 70 chamávamos o ‘fado da desgraçadinha’ mas agora não. Há fados bonitos. Temos autores portuenses com fados lindos.
Considera-se uma figura nacional, com um estilo próprio definido? Sim. Quem é que não tem um bocadinho de vaidade naquilo que está a fazer? Sinto alguma responsabilidade porque normalmente sou o artista principal convidado e nos dois primeiros fados ainda vou a tremer.
Mesmo depois de todos estes anos ainda se sente nervoso? Sinto, é o sentido de responsabilidade.
Sente também a responsabilidade de fazer rir o seu público? Sim, também gozo isso. O pessoal precisa de se rir.
[caption id="attachment_3048" align="alignleft" width="300"]
Continua fiel ao Neca Rafael? Sim, o primeiro fado que canto é sempre do Neca Rafael. Não aparece mais ninguém para cantar como ele e às vezes ainda o imito.
O que procura incluir nas suas composições originais? Há coisas que eu não quero nunca abordar nas minhas canções – a política e pornografia. Pode haver uma segunda intenção numa frase mas vai disfarçada.
Que canções destaca do seu reportório? Não sei se consigo destacar porque o público gosta de qualquer um dos fados que eu canto. Mas há um que é a base fundamental que é a “Casa Importante” e na maior parte dos casos começo logo com esse fado que abre o sorriso ao público. Tenho que estudar o público.
As suas atuações percorrem mais o norte do país? Sim, mas já fui para todo o lado, inclusive para o Alentejo. Mas gozo de muita reputação na zona de Braga e Famalicão. As pessoas pedem-me para dizer asneiras e tal mas eu procuro não as proferir.
Acha que hoje em dia é necessário dizer palavrões para ter piada? Há um artista que conheço que tem que dizer. Mas eu tenho muito respeito pelas crianças e procuro não cantar com piadas agressivas.
E o fado, como se encontra na sua opinião? Mau. Os artistas que fazem grande gabarito nos espetáculos são sempre os mesmos. Os fadistas credenciados de Lisboa. Tenho pena de não ter posição para poder subir mais um bocadinho.
O Zé Carvalho, em Lisboa, tinha mais hipóteses? Sim, tinha com certeza.
E nunca pensou em ir para lá? Não, não gosto. Sou um ferrenho nortenho! Sou muito dado ao meu norte. (risos)
Uma das suas principais características em palco é a sua vestimenta... É. Com os espetáculos aprendi que a indumentária é logo meio artista.
Está com algum trabalho em curso? Estou a preparar uma gravação com o máximo de inéditos de outros autores. Neste momento estou em negociações
[caption id="attachment_3051" align="alignleft" width="300"]
Entrevista aos The Dixie Boys:
O Fernando e o Rui fazem parte da formação inicial dos The Dixie Boys. Como é que surgiu a ideia de fazer uma banda de rockabilly, a tocar músicas dos anos 50? Fernando Pereira (FP) – Foi em 1993, depois de assistirmos a um concerto de uma banda no Porto. Eu e o Rui éramos amigos e achamos porreiro fazer uma banda. Já gostávamos de rockabilly e começamos a ter aulas de música para começar a tocar.
Porque é que optaram por esse género musical? FP – Na altura gostávamos de rockabilly e decidimos tocar esse género. Estava na moda.
Porquê o nome The Dixie Boys? FP – Pensamos em Dixie, a terra prometida, no sul dos Estados Unidos, onde nasceu muita da influência da música que está presente no rockabilly e foi a melhor opção. Hoje já não somos tão “boys”, já somos uns Dixie Sir’s (risos).
Mas há uma banda de Sintra com o mesmo nome que o vosso... Rui Ferreira (RF) – Em 2003, nós estávamos numa fase de interregno e apareceu uma banda de jazz, em Sintra, com o nome Dixie Boys. A Câmara da Maia chegou a promover um concerto deles com uma fotografia nossa. Os nossos fãs não acharam muita piada, mas faz parte do passado.
Em 1994, começam os vossos concertos. Como era a reação do público? RF – Já era brutal. Desde sempre tivemos uma legião de fãs atrás de nós que nos seguiam para todo o lado.
E em 1997 sai o vosso primeiro álbum “For Last”. Foi uma edição de autor exclusiva para os colecionadores. Como descrevem esse primeiro trabalho? RF – O “For Last” foi um disco que surgiu depois de termos participado numa coletânea com quatro bandas do Norte e quatro bandas do Sul, chamada “Portugal Rocker’s”. Nós fomos a banda escolhida para gravar um disco e esse disco foi o “For Last”. Após esse primeiro trabalho a banda tem uma paragem de seis anos. No entanto, ainda chegaram a dar alguns concertos pelo meio... FP – Fazíamos concertos pontuais, a convite de amigos. Mas foi uma fase em que nos dedicamos mais a projetos pessoais. Começamos a casar e a dedicar mais tempo à família, mas depois sentimos que podíamos regressar. Foi nessa altura que entrou o Ricardo e o Mário e esta é a melhor formação dos The Dixie Boys.
Como é que o Ricardo entrou para a banda? Ricardo Prazeres (RP) – Eu conheci os The Dixie Boys numa homenagem ao Elvis. Eu também tinha uma banda e nesse dia também fomos tocar. Eu fiquei entusiasmado com a banda e depois recebi um telefonema do Rui a convidar-me para o projeto. RF – O Ricardo é hoje a voz da banda, mas nós funcionámos sempre como coletivo.
O segundo álbum, o “Rock in Storm” (2008), é um renascer da banda? RF – Completamente. É um álbum que teve três edições esgotadas e apesar de ainda nos pedirem o disco, já não temos mais (risos). Foi um trabalho que nos abriu o mercado e surgiu a proposta da editora “Raging Planet”, em 2010.
Mas em 2009 a banda tem outro momento marcante. Apareceram num anúncio de uma conhecida marca de cerveja. Teve impacto no sucesso da banda? RP – Fomos convidados para fazer esse anúncio e foi muito bom para nós. Sentimos esse impacto e as pessoas reconheciam o nosso trabalho.
Contudo vocês assumem que são uma banda que prefere o palco? RF – Nós caracterizamo-nos pela nossa energia em palco. Nunca vamos conseguir passar isso para um disco. FP – Só quem nos vê é que percebe. Até porque levamos o visual dos anos 50 para as atuações ao vivo.
Atualmente ensaiam no Centro Comercial Stop, no Porto, mas o estúdio da banda é em Valbom. Já foi pensado um concerto em Gondomar? RF – Nós voltamos em 2005, graças ao estúdio em Valbom, na casa do Ricardo. Quanto ao concerto, de facto já fazia sentido haver um concerto nosso em Gondomar. Estamos disponíveis.
Os The Dixie Boys completam 20 anos em 2014. Que balanço fazem deste percurso? RF – Este projeto é muito recompensador. O Ricardo só tem 10 anos de banda, mas com ele já vivemos momentos impressionantes.