Diogo Costa, natural de Baguim do Monte, sagrou-se campeão de patinagem artística, com uma dança livre que celebrava a vida. O Jornal Vivacidade esteve à conversa com este jovem baguinense para perceber quais os desafios de praticar patinagem artística em Portugal.
Como é que começou a paixão pela patinagem artística?
Comecei a patinar com sete/oito anos, surgiu de um convite de um amigo da turma que já praticava. Na altura não atendi ao pedido. Passado um ano surgiu de novo o convite e aí decidi experimentar e foi amor à primeira vista. Mal calcei os patins, nunca mais os quis tirar. Vi que os próprios treinadores reconheceram que tinha muito potencial. Comecei no Clube de Patinagem de Baguim do Monte, na altura era um clube que estava no auge e tinha os melhores atletas a nível nacional.
Como é que é feita a prática da patinagem artística? É em pares ou individual?
Faço os dois tanto em par como solo. Contudo há atletas só para solo ou só a pares. Claro que fazer os dois é mais complicado porque tem de gerir tempo, tem de treinar bem o solo e bem os pares. O par exige muito dentro e fora da pista, porque é preciso ser criada uma ligação fora da pista para que os passos sejam coordenados, é difícil. Fiz par com uma rapariga durante nove anos e ficamos em terceiro no mundial.
Como é que consegue conciliar os estudos com os treinos?
É difícil, mas com esforço tudo se consegue. Tenho um lema de vida que é “tudo o que faço tenho de fazer valer a pena” e é nisso que me foco, mesmo que seja difícil. Porque além de estudar, ainda sou treinador desta modalidade.
Alguma vez sentiu preconceito por praticar esta modalidade?
Sim, quando era mais novo, mas nunca me afetou, sempre lidei bem com isso. Agora já começa a ser normal e não há tanto preconceito, até porque a sociedade está a viver tempos de mudança.
Como é que foi a preparação para o Mundial?
Foi estranho porque passamos a maior parte do ano a treinar para os nacionais e sermos “obrigados” a preparar campeonato do mundo em, apenas, quatro meses, custou muito, porque é nesse período que de atingir o pico da nossa forma para fazer as coreografias. Acabamos por descurar um pouco as competições nacionais para atingir o nosso pico no mundial.
Normalmente, treino seis horas diárias. Um treino que tem de ser similar a um do campeonato e é extremamente desgastante para um atleta, é quase impossível aguentar isto durante quatro meses. A preparação foi muito difícil porque teve de ser muito bem gerida.
E além de todas estas dificuldades, o meu avô estava a passar um momento difícil e sou muito chegado a ele, e acabou por ser um pouco complicado. Nem sei como é que consegui. Mas consegui e a vitória foi para ele, sem dúvida.
Nesta competição do mundo participou a solo e ganhou o ouro, como é que se sentiu?
Muito feliz. Quando ganhei foi sem dúvida uma euforia enorme, foi um misto de emoções. Não há palavras para descrever o que estava a sentir naquele momento. Estou muito orgulhoso de mim e dos meus treinadores. A concorrência lá fora é muito difícil, porque os outros países acabam por olhar de forma diferente para a modalidade. Têm outra disponibilidade a nível de pavilhões, a prática da modalidade é muito mais estimulada. Tanto que, neste momento, os países que são as maiores potências de patinagem é Portugal, Espanha, Itália e Colômbia, diria. Mas Portugal é uma potência muita à base dos guerreiros que temos aqui.
Sentes-te reconhecido em Portugal, pelo teu campeonato mundial, ou achas que és mais reconhecido no estrangeiro?
Sinto que sou mais lá fora do que aqui e até mesmo mais acarinhado pelos países estrangeiros do que propriamente por Portugal. Por exemplo na Argentina sou reconhecido e em Itália, também. É uma mística diferente, há um carinho maior.
Foi homenageado por alguma instituição?
Não. Este desporto é um pouco desvalorizado em relação a outros, mas, infelizmente, é uma coisa que vai continuar a acontecer.
O que é que acha que falta à patinagem artística para ter outra visibilidade?
O facto de não ser uma modalidade olímpica, apesar de estarmos a trabalhar para isso. A patinagem só não é um desporto visível para as pessoas que não sabem o que é a patinagem, porque a patinagem é um vicio. É um desporto individual embora estejamos sempre ligados a um clube. Somos sempre nós, quer ganhemos ou não. Se a patinagem envolvesse valores monetários, como apostas, por exemplo, certamente teria outra visibilidade.
A quem é que deve um agradecimento?
Sem dúvida à Maia por toda a disponibilidade que nos tem dado para nós conseguirmos treinar e por apoiarem esta modalidade. Agradecer às minhas treinadoras à Andreia Cardoso e à Carolina Varela por sempre terem a paciência necessária comigo, nós fizemos valer a pena estes anos de trabalho. Agradecer ao clube. Por fim, e não menos importante, aos meus pais e aos meus avós por estarem sempre ao meu lado. Porque sem eles nada disto seria possível. A eles um muito obrigado.