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CLARISSE RODRIGUES: “É necessário que o departamento ambiental tenha a consciência da importância da Fauna selvagem”

Atualmente, a Amigos Picudos - Associação para a Preservação e Protecção dos Ouriços- é a única em Portugal que se dedica exclusivamente à preservação desta espécie e é o único Centro de Recuperação da Península Ibérica dedicado aos Ouriços. Estivemos à conversa com a Presidente e Fundadora, Clarisse Rodrigues e com o Vice Presidente, Tiago Vieira, que nos revelaram todos os detalhes do trabalho que desenvolvem diariamente.

Conte-nos um pouco da vossa história, há quanto tempo fundaram esta associação e o porquê?

CR: A nossa Associação foi fundada em 2013. Sempre gostei muito de Ouriços desde criança e quando comecei a entrar mais no mundo das redes sociais, percebi que havia uma diferença abismal entre Portugal e os outros países. No nosso país não havia nenhuma entidade que se dedique apenas a estes animais, quando noutros países há imensas. Assim, pensei, porque não fundar uma no nosso país?

Atualmente, a nossa Associação é a única do país, e só não somos a única na Península Ibérica, porque também temos uma em Espanha, no entanto, eles não recolhem, nem tratam animais, eles funcionam mais a nível informativo. Portanto, enquanto Associação somos a única no país e enquanto Centro de Recuperação, somos os únicos na Península Ibérica.

Podemos dizer que os Ouriços pertencem à nossa Fauna e Flora?

CR: Sim. Existem 16 espécies de Ouriços, mas o Ouriço Europeu é o único que está presente em Portugal continental e também nos Açores. É uma espécie autóctone da nossa fauna. Como são espécies protegidas pela lei, é ilegal manter o Ouriço Europeu em casa como animal de estimação, eles podem entrar nos jardins, mas não os podem manter em cativeiro. Têm que poder entrar e sair livremente.

É importante referir que há uma diferença entre os Ouriços e os Porcos Espinhos. O Porco Espinho é um roedor e não existe nenhum exemplar na Europa, nós só temos Ouriços. O Porco Espinho, quando ameaçado, consegue desprender o espinho, como forma de defesa perante um atacante. No caso dos Ouriços, os picos que eles têm, é semelhante a um cabelo pontiagudo, e não fere o homem.

A partir do momento que o animal fica na vossa tutela, o que é que normalmente acontece?

CR: Após os animais darem entrada no nosso Centro, realizamos a ficha de registo e fazemos uma triagem\diagnóstico do mesmo. Todos os procedimentos de primeiros socorros, também são realizados na nossa enfermaria. Quando o animal está relativamente estável, dependendo da situação, pode passar para a ala de quarentena, como é o caso dos animais que possuem uma infeção fúngica. Quando são casos em que não consideramos graves, eles passam para internamento. Mas por norma, deixamos sempre uns dias na quarentena, porque mesmo assim, chegam com parasitas internos. Fazemos tudo aqui. Se o animal precisar de oxigénio, ou de uma incubadora, ou até se precisar de passar 24h com uma manta de aquecimento, estamos preparados.

Entrando agora na realidade do concelho de Gondomar, recebem alguns animais durante o ano. Quais são as freguesias que recebem mais chamadas?

CR: Durante o ano, recebemos muitas chamadas provenientes do vosso concelho e sentimos um aumento da procura. Neste momento andamos a compilar o número de animais que nos chegam por freguesias, mas de Gondomar, recebemos Ouriços provenientes das freguesias de São Pedro da Cova, Baguim do Monte, Foz do Sousa (Gens) e Jovim.

Vocês tem alguma relação estreita com as autarquias locais, em particular a de Gondomar?

CR: Não. Por acaso, nunca tivemos nenhuma reunião com um representante do Município, nem das Juntas. Já tivemos em Valongo, onde já falamos com um responsável do departamento do ambiente, porque nós também realizamos ações de educação ambiental. Mas a nível de freguesias, ou de Câmara, nunca surgiu esse interesse ou essa procura, mas como é obvio, estamos sempre abertos.

Falando agora dos vossos projetos, que tipo de ações promovem?

CR: Com o intuito de tornar o assunto mais apelativo, todos os animais que dão entrada no nosso centro, têm um número, mas para tornar mais pessoal e não chamá-los pelos números, decidimos que, as pessoas que os resgatam podem dar um nome. As pessoas também podem ir à nossa página (Amigos Picudos - Associação para a Preservação e Protecção dos Ouriços) e têm lá a lista dos nomes de todos os animais que temos connosco e podem apadrinhá-los. Ao apadrinhar, a pessoa recebe um certificado, com a foto do afilha- do e pode receber e pedir noticias sobre a evolução do mesmo. Caso não seja possível, dado que são animais noturnos, nós enviamos o vídeo da libertação ao padrinho.

Para além do apadrinhamento individual, as turmas das escolas também podem apadrinhar um animal, ou ainda as empresas. No caso das escolas, custa 1 euro por aluno e, para além do vídeo da libertação, ainda podem receber uma ação de educação. Nestes casos vamos diretamente à escola ou realizamos via zoom. Esta ação didática que realizamos é sempre adaptada à faixa etária e a qualquer nível de ensino, desde a pré-primária, até ao ensino universitário. Quanto às empresas, elas também podem apadrinhar. Fazem o patrocínio e nós divulgamos a empresa.

Com a pandemia, os eventos e as feiras que normalmente fazíamos parou, assim o merchandising também parou, mas agora, estamos aos poucos a voltar. Mas para os interessados, basta estarem atentos ao nosso Facebook.

O que é que espera para o futuro?

CR: O próximo passo é a inauguração de recintos externos. Em princípio, o primeiro será inaugurado ainda este ano e ficará localizado no Horto Municipal da Maia. Serão Paddocks semelhantes aos recintos internos que temos aqui, todos vedados, porque são muitos animais, dado que só este ano recebemos mais de 100 Ouriços, quando no ano passado recebemos aproximadamente 40.

Sabemos ainda que, irá haver uma nova revisão da classificação do livro vermelho e das espécies. A nossa luta passa pela mudança da classificação deste animal, porque por falta de dados científicos e estudos, não há informação. E atendendo à falta de dados sobre esta população, nós não podemos classificá-la como uma espécie “Pouco preocupante (LC)”. Isto é uma falácia. Assim teria que estar classificada como DD (Informação Insuficiente). Em Inglaterra, esta espécie saltou da categoria “Pouco Preocupante”, para “Vulnerável”, saltou logo duas classificações. Nós, e outros colegas pela Europa, especialmente este ano, sentimos este aumento de registo de animais a dar entrada. E o porque disto? Não é por aparecer mais Ouriços, que há mais, é porque há menos Ouriços e os que existem estão a passar mais dificuldades (mais fome, mais frio, mais doenças... ), ou seja, a situação está a piorar, e falta-nos dados estatísticos, no entanto, sabemos que há um declínio enorme da população, e os poucos estudos que existem corroboram isso.

A luta das pessoas que estão envolvidas nesta causa passa por alertar para a importância destes animais. É necessário sensibilizar as pessoas e o estado, a fazer mais medidas de proteção e a dar mais visibilidade a esta espécie. Ao mudar a classificação, pode parecer pouco, mas dá logo outra importância à sua conservação. Quem está no terreno sente a diminuição. Há pequenos gestos que fazem toda a diferença. Deixo ainda aqui um apelo às Câmara Municipais, porque é necessário que as autarquias tenham muita atenção ao PDM (Plano Diretor Municipal), é muito importante eles terem este interesse e é necessário que o departamento ambiental tenha a consciência da importância da Fauna selvagem.■

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