Quem acompanha este espaço onde escrevo há mais de cinco anos sabe que tento centrar-me apenas nos assuntos que ao Município dizem respeito, quase sempre abstendo-me de comentar a atualidade política nacional, com exceção aos assuntos que tocam as autarquias locais.
Não obstante, na última semana fomos confrontados na Assembleia da República com um ato só justificado pela proximidade ao Carnaval, festa onde reina a diversão, o entretenimento e as máscaras. Refiro-me, claro está, à moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS-PP, tomada em voz por Assunção Cristas, e que não me deixa ficar indiferente.
Por definição, uma moção de censura é uma proposta parlamentar apresentada por um ou vários partidos de oposição, com o objetivo de derrotar ou constranger o Governo. Quando essa moção é aprovada, obriga a uma renúncia ou dissolução do Parlamento, com a consequente convocação de eleições legislativas.
Assunção Cristas sabia que esta moção não serviria para derrubar o Governo. Mas mesmo assim não se absteve de fazer o seu número de protagonista, de roubar para si as atenções com um número quase de contorcionismo.
Não falarei da suposta necessidade de dar eco à contestação social dos profissionais da Administração Pública, quando por tradição o seu partido tende a chumbar as propostas que vão de encontro a estas expectativas. Nem tão pouco deverei explorar a tentativa de desacreditação do Serviço Nacional de Saúde.
Destacarei sobretudo aquilo que foi o objetivo subentendido: crescer na opinião pública, tão perto que estão as eleições Europeias, e face ao vislumbre das Legislativas, em outubro próximo.
Assunção Cristas tem ambições para estas eleições Europeias. A perda de um deputado entre as eleições de 2009 e as de 2014, fez com que o CDS-PP apenas seja representado por um elemento. Em 2019, o mesmo resultado será uma derrota. Para o partido é, por isso, urgente começar a sua campanha eleitoral, e esta moção de censura foi o primeiro passo.
A moção foi, como se esperava, chumbada, mas Assunção Cristas teve o protagonismo na oposição, e dominou nos dias subsequentes as manchetes dos jornais.
Até o PSD foi ingenuamente conivente, optando pelo silêncio de quem não concorda com a ação nem com o tempo, mas tradicionalmente aprovando a moção.
Sob o estandarte do antigo ditado que diz que não importa se falam bem ou mal (de mim), o importante é ser lembrado, o CDS-PP usou desse seu protagonismo e da comunicação social para ser recordado, para dar o mote à campanha política, para partir “em primeiro” lugar na corrida de maio.
Porque se em maio a sua representação subir no Parlamento Europeu, e Nuno Melo tiver companhia em Bruxelas, as legislativas já estão mais perto e o CDS acredita que contagiará o seu resultado.
Mas os portugueses não se deixam enganar. E Carnaval, é mesmo só em março.