Conte-me um pouco da história do clube, como começou?
O clube foi fundado a 1 de março de 1979 e ainda hoje é um clube de bairro. Já tivemos equipas de bilhar e de atletismo a competir a nível nacional, mas atualmente é o futebol. Antigamente não se cultivava o desporto para crianças, assim dizendo, de academias, escolas, etc., o que era importante, deduzo eu pelo que me é dado a saber das atas de reuniões, era o futebol sénior. Chegamos a ter equipas seniores na associação de futebol do porto.
Quando tomei posse em 2008, já não havia seniores, sei que temos aqui muitas taças desses anos todos ainda para colocar em exibição, mas essas equipas foram-se desvanecendo no ar e, agora, o que mais posso falar é a partir do momento em que tomei posse em 2008, mas há muita história para trás. Neste momento, na direção temos onze elementos, apesar que, mesmo na direção, só são cinco e depois temos mais 3 na assembleia geral e outros 3 no concelho fiscal.
As equipas como é que são compostas? Têm masculinas e femininas?
São equipas mistas, apesar de que, neste momento, temos três meninas a treinar juntamente com os rapazes. Já tivemos mais, há uma que se mantém já há muitos anos cá, a Ana, mas gostava de ter mais raparigas é uma lacuna que nós temos, mas sei perfeitamente que a maior lacuna que nós temos e que não nos permite desenvolver também essa parte do futebol feminino, é continuarmos a ter o campo pelado. Isto porque, a Federação e a Associação obrigam-nos a ter balneários especiais para as meninas, se já tivéssemos esse investimento, tenho plena certeza de que já teríamos mais mulheres e meninas a trabalhar connosco e a treinar. Devo também acrescentar que quando são as festividades aqui da freguesia, há sempre uma equipa feminina que vai disputar, já vamos, creio eu, para a 5ª edição. Há sempre um torneio que a Junta promove, inserido nas celebrações do 25 de abril, com isto quero dizer que se nós tivéssemos o campo sintético teríamos melhores condições para acolher os treinos da equipa feminina.
Alguma vez pediu para colocar o tapete sintético? Qual foi a resposta que obteve por parte da Câmara?
Sim já e os nãos são sempre garantidos. O que é certo é que é preciso muito trabalho e às vezes, oficialmente, dizem logo ou que não há verbas ou isto ou aquilo, no entanto vemos a obra a acontecer noutros clubes. Eu não gosto de falar das outras casas porque eu não vivo com o mal de ninguém, mas também não vivo com o bem de ninguém, o que me interessa neste momento e desde que estou cá, é o bem do Montezelo. Já fui muito politicamente correta, não gosto de me destacar por ser mulher, porque já demonstrei o que tinha a demonstrar ao longo destes anos todos. Eu acredito que quando há os orçamentos, antes de se pôr no prato para as pessoas usufruírem e comerem, a comida deveria ser melhor repartida. Não consigo continuar a conceber que Rio Tinto continue na linha da frente, sem desmérito para quem lá está e para as crianças, mas como é que clubes que já têm relvado, que já têm sintético, já têm vários campos feitos, continuam a ser ajudados, não estou a dizer para pararem de os ajudar, mas as verbas tem que ser mais bem divididas, porque é que não lhe retiram um bocadinho e começam a distribuir por outros que também têm capacidades de estar lá ou de dar melhores condições aos atletas que têm, que também são cidadãos do concelho, são atletas que os pais também fazem descontos para o Município e, se calhar, os pais dos meus atletas, até são eleitores da Câmara. Posso não conseguir colocar bem as palavras, não quero atacar ninguém em particular, mas sempre houve, a meu ver, uma má gestão destas coisas.
Quantas crianças estão neste momento a treinar nestas condições?
Para ter uma noção, mesmo com o campo pelado, tenho inscritos 88 atletas, na associação de futebol do Porto. Atualmente, até devo de ter mais porque inscrevi na semana passada mais dois ou três. Ainda assim, conseguimos ter quase 100 crianças.
Há quantos anos é que esta situação se arrasta?
Estou cá há 12 anos, pelo menos há 8 anos. Há, sensivelmente, 4 ou 5 anos, elaboramos uma candidatura muito grande para a Federação Portuguesa de Futebol, para melhorar as condições do campo, com a colocação do relvado sintético, a elaboração dos balneários, a colocação de bancadas, entre outras coisas essenciais para que o complexo adquirisse melhores condições. Inicialmente, a obra toda ascendia aos 500 mil euros e ao ouvir as entidades competentes e ao apresentar o projeto, disseram-me que estava a ser demasiado ambiciosa segui o conselho da pessoa e menorizei a proposta e o projeto que apresentamos à Federação. Na altura, o investimento inicial desceu para 251 mil euros, ou seja, seria só o relvado, sem bancadas, aquilo que era obrigatoriamente legal fazer já na época.
A nossa candidatura não foi aprovada, devo agradecer muito a quem me ajudou, porque, burocraticamente, fazer toda aquela papelada dá imenso trabalho, são muitas horas. Desde então, continuo a ver outros clubes a serem beneficiados com pequenos campos, ou o que quer que seja, e não vejo interesse, não vejo ninguém a nos ajudar ou a dizer assim: “Arminda, vamos lá preparar uma candidatura em condições, o que é que vocês precisam concretamente, o que é que vos falta fazer concretamente?”. Eu já andei à procura de investidores e ainda continuo à procura. Já contactei clubes grandes para fazerem disto uma academia, correndo o risco de me acusarem de vender o clube, porque eu sei que se me associa-se a um Porto, ou a um Sporting, ou a qualquer outro teríamos esse apoio, mas toda a gente olha para o nosso campo, o que é que eu tenho para oferecer? Tenho um campo pelado e isso é a primeira coisa que as pessoas constatam quando entram no complexo.
Sente que isso é uma necessidade porque acredita que o desporto é essencial para a vida destas crianças? Sente a diferença quando elas vêm para aqui?
Sim sinto. Há uma coisa muito dignificante e que me enche de orgulho, que apesar de que não é isso ainda que me enche as medidas, é uma mãe ou um pai dizer-me “o meu filho porta-se muito melhor na escola, o meu filho tem melhores notas, anda mais atento” porque a criança veio para aqui com problemas, por exemplo, de autoridade ou hiperatividade, e as nossa equipas técnicas, com a disciplina inclui-los numa equipa, numa nova família e saem daqui com outro comportamento. A associação prioriza os valores que são incutidos nas crianças.
A Arminda é uma das poucas mulheres na Presidência de um clube, estando quase a entrar no mês das mulheres, como é que é ser mulher e estar responsável por um clube de futebol?
Não queria esse rótulo, de ser mulher atrás de um clube de futebol, não vou dizer, nem vou ser hipócrita, tenho orgulho, mas tenho orgulho em tudo que eu faço na vida. Entrei nisto na brincadeira, numa de não fechar o clube, porque vínhamos para aqui um grupo de casais ao fim de semana tomar café e o clube ia fechar porque não havia ninguém na direção para continuar. Quando vim para cá haviam só 20/30 atletas e havia apenas um escalão, os juvenis. Hoje em dia temos 6 escalões, mas já tivemos 7. Com o evoluir dos tempos, as exigências legais da Associação, da Federação, cada vez são maiores e nós não podemos fazer as coisas pela metade, ou somos profissionais em tudo aquilo que fazemos, ou seremos apenas mais um. O facto de ser mulher tem sido muito complicado ao longo destes 12 anos para gerir isto tudo.
Como é que as pessoas vos podem apoiar?
Neste momento, o mais importante era terminar as bancadas que fizemos o ano passado e terminar os balneários. O patrocínio para esta obra realmente era importante, não é necessário ser em dinheiro, poderia ser em material de construção como cimento, telhas, entre outros. Porque necessitamos de requalificar tanto as bancadas como os balneários para conseguirmos receber equipas de fora e as equipas de arbitragem. Precisamos de mão de obra para agilizar o clube. E podem adquirir o nosso merchandising no bar do clube.
Tem algum projeto futuro em mente?
O clube pretendia, num futuro em que o campo tivesse melhor condições, abrir o recinto durante o dia para desenvolver atividades com crianças que possuem necessidades especiais. Isto iria originar uma economia circular porque seria necessário a contratação de novos quadros técnicos especializados e mais pessoal para ficar a controlar o clube durante estes horários. Uma particularidade do nosso clube é que nós não excluímos ninguém, neste momento temos atletas autistas, que treinam connosco. A nossa premissa é a inclusão de todos os meninos, nós queremos que eles se sintam todos iguais. Nós queremos que o Montezelo passe a fazer parte do mapa de Gondomar. ■