Com uma história centenária, o Centro Republicano Democrático de Fânzeres é uma das associações mais conceituadas do concelho, sendo que, hoje, conta com 400 associados. Estivemos à conversa com a atual representante da instituição, Ana Paula Casteleiro Martins.
Conte-nos um pouco sobre a vossa história.
Nascemos com o advento do Republicanismo que então grassava por toda a Europa e fomos mesmo precursores da República em Portugal. Na verdade, o nosso primeiro registo enquanto associação data de 5 Outubro de 1908, exatamente dois anos antes da implantação da República. Com o golpe militar de 28 de maio de 1926 e a implantação do chamado “Estado Novo” começou um nunca mais acabar de dificuldades, com a perseguição a elementos dos corpos gerentes, o questionamento da denominação da colectividade forçada a mudar de nome por duas vezes, primeiro para Centro de Instrução e Recreio de Fânzeres, nome inicialmente aceite e depois para Centro Recreativo de Fânzeres, com o pretexto de que a instrução estava a cargo do estado. Mas a Associação sobreviveu e continuou o seu percurso de convívio e luta pela verdade, na ajuda à formação de bons caracteres e à promoção da cultura e do desporto.
Como é que se gere uma associação centenária? É fácil?
Não é fácil, basicamente mantemo-nos fiéis aos valores da nossa fundação, que são passados no decorrer destes anos todos e que continuam vivos até aos dias de hoje sendo eles os valores da igualdade, da democracia, da instrução e do respeito que temos que ter por todas as pessoas, dando-lhes a oportunidade de aprender, de conviver e de estar em contacto com a cultura, com o desporto de forma gratuita.
Esta é a essência do Centro Republicano e Democrático de Fânzeres que se molda de acordo com os tempos, mas nunca perdendo as suas raízes.
Na sua perspetiva, o que é que vos distingue das outras associações?
A nossa associação continua a reger-se pelos valores republicanos e é constitutiva dos Centros Republicanos de Portugal (cinco, neste momento). Esta é, talvez, a nossa característica mais distintiva. Além disso continua a privilegiar os eventos culturais, com destaque para o teatro, sem deixar de estar presente e até ser parceira em outros eventos.
Que tipo de atividades desenvolvem no vosso dia a dia e para que faixa etária está direcionada? Aproveito ainda para questionar se, as vossas atividades são para toda a população do concelho de Gondomar, ou é mais direcionada para a população de Fânzeres?
De uma forma geral as principais atividades baseiam-se em eventos temáticos para todo o concelho de Gondomar ao longo de todo o ano, como sendo o cantar das Janeiras, festejos do carnaval com o habitual “Enterro do João”, comemoração do dia Internacional da Mulher, damos ênfase às comemorações do 25 de Abril, tendo até à data sido promovidos alguns debates e exposições alusivos à revolução de Abril de 74, no mês de Maio há alguns anos a esta parte é promovido um rastreio de saúde levado a cabo por uma técnica de saúde, é comemorado o dia mundial da criança onde têm sido promovidas diversas atividades para as crianças de associados e não associados que se juntam a nós na sede e passam uma tarde divertida e de confraternização, ao longo do ano são efetuadas algumas lúdicas.
O CRDF desde 2011 conta com a integração de um grupo de teatro que se passou a designar por “O Republicano” que tem desenvolvido um trabalho mui- to positivo sendo presença assídua nestes últimos anos no festival de teatro de Fânzeres.
A adesão por parte da comunidade tem sido positiva e pensamos que de uma forma geral as pessoas da terra reconhecem o trabalho meritório que tem sido desenvolvido por todos apesar das nossas limitações de tempo.
Durante estes anos todos, sempre trouxeram a cultura para junto da população, qual a importância deste setor na sociedade?
Sempre pensamos que um povo sem cultura está muito mais à mercê de populismos e abusos de detentores do poder, para os quais de resto contribui. Assim, afirmamos que a cultura é mais um alimento que sustenta a vida, sendo impensável a sua inexistência.
Nestes dois anos de pandemia, o setor cultural foi um dos mais prejudicados, assim questiono se sentiram o impacto da pandemia e se, em algum momento, estiveram parados?
Estes dois anos tem sido terríveis para as associações pois fomos completamente esquecidos pelo estado, estivemos meses e meses fechados sem poder colocar em pratica os fundamentos para o qual somos associação, tem sido muito complicado gerir e ter dinheiro para continuarmos a ter portas abertas. As associações neste momento necessitam de uma ajuda séria por parte do Estado, pois corremos o risco de fecharmos portas e não ter pessoas como muitas de nós a cuidar das nossas associações, as associações estão a morrer no nosso País.
Quanto ao futuro?
Esperamos continuar com as portas abertas para continuarmos a ajudar gerações a serem melhores e muito mais instruídas. ■