O Vivacidade foi em busca de diferentes formas de confecionar a típica ceia de Natal. Convidamos dois restaurantes gondomarenses, que aceitaram, de imediato, o desafio.
E lá fomos nós. O primeiro destino tinha lugar em São Cosme, junto à Câmara Municipal de Gondomar. Micaela França abriu-nos as portas do “Queen’s Cook” e iniciou as hostilidades com uma entrada de vários camarões, envolvidos numa massa tailandesa. “Esta massa vem especificamente para isto e o molho agridoce serve para colocar o camarão mais saboroso, uma vez que não tem nenhum tipo de tempero”, esclareceu a gerente de 31 anos. A mousse de alheira, feita exclusivamente com alheiras de caça, acompanhada com ovos de codorniz foi a segunda entrada e é um prato que desafia o paladar. Bem como o gin tónico com infusão de frutos vermelhos. Posteriormente, chegou à mesa um prato vistoso de bacalhau. “É feita uma preparação e o bacalhau fica a marinar no forno. É, assim, confitado e vai perdendo a sua própria água que se utiliza depois no puré”, realçou Micaela França. Esse puré é feito com grão de bico e, claro, os grelos salteados também quiseram marcar presença. Para sobremesa, um bolo de chocolate feito à medida. “Nós fazemos pequenos almoços ao domicílio e este é um exemplo disso. Com calda de chocolate, açúcar em pó e a natural decoração de Natal, esta é uma grande especialidade da nossa casa”, concluiu Micaela.
No dia seguinte, pouco depois do meio-dia, chegamos à “Casa Velha D’Aldeia”, em São Pedro da Cova. Fomos presenteados, tal como o nome indica, com uma casa antiga, imponente e bonita. À medida que íamos entrando o nosso olfato era desafiado pela mistura de cheiros resultantes da comida tradicional do local. José Magalhães, de 59 anos, é, agora, o gerente do espaço e recebeu-nos com um sorriso do tamanho dos “seus” bolinhos de bacalhau. Depois dessa entrada e de uma tábua de enchidos, foi servido o prato principal. “Aqui temos um bacalhau confitado em leite, um tipo de confeção onde o leite é aromatizado com alho e louro. Não é frito nem assado, só que depois vai um bocadinho ao forno. Tem uma cebolada entre a broa e o bacalhau”, disse-nos José. Como acompanhamentos tivemos direito a batatas a murro, legumes, bem como um ovo cozido.
E porque tradição é tradição, o vinho não poderia faltar. “Este vinho é fabuloso e corresponde a um projeto de um ‘sommelier’ aqui do Porto que vive em Lisboa. Ele faz importações de vinho da Borgonha e quis ter um projeto nacional. Procurou dois parceiros que lhe fizessem o vinho para poder engarrafar e o nome do vinho diz respeito às iniciais dos nomes dos filhos”, explicou o gerente. De seguida, chegaram à mesa as sobremesas. Um leite creme caseiro divinal, umas rabanadas com vinho do Porto, canela e nozes e, ainda, a típica aletria com um pau de canela e raspas de limão.
Já bem alimentados, José Magalhães fez questão de nos dizer que a existência de segredos corresponde a uma atitude altiva. “Se os antigos pensassem assim, que existem muitos segredos na cozinha, ninguém nos ensinaria nada. Se nos derem a mesma receita para a mão, os pratos vão ficar diferentes, acredite, tudo depende de diversas circunstâncias”, rematou o gerente, que na recarga atirou a contar, dizendo que o bem-estar dos seus clientes é e será sempre a prioridade: “Venho sempre à sala falar com os clientes e ver se está tudo bem com a comida, pois só com o feedbackdeles é que conseguiremos evoluir”. A tradição e a criatividade sentaram-se, assim, à mesa.