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“A qualidade do café em Portugal é altíssima”

[caption id="attachment_1727" align="alignleft" width="300"]Café português tem cada vez mais qualidade / Foto: Pedro Santos Ferreira Café português tem cada vez mais qualidade / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

Se pensa que Portugal é um dos maiores consumidores de café da Europa, desengane-se. O consumo per capita de café no nosso país é um dos mais baixos da Europa. Mas a qualidade, ninguém a tira, segundo os especialistas, e aí Portugal está entre os melhores do mundo, em cafés expresso. A tendência do consumo está a mudar e os portugueses consomem cada vez mais expressos de máquina em casa. Para perceber como se encontra o mercado do café nos dias de hoje, o Vivacidade visitou as instalações de uma das maiores empresas de café em Portugal, a Torrié, em Rio Tinto.

Alexandre Almeida, é o responsável pelo Departamento de Qualidade da marca de café Torrié, sediada e criada nos anos 80 pela mão de José Maria Vieira, em Rio Tinto. As instalações albergam todo o processo de produção, torrefação e embalamento do café e o técnico especializado certifica-se de que nada corre mal desde a receção dos sacos de café verde – provenientes dos vários produtores mundiais – até à torrefação propriamente dita e à prova do café. A colheita do café e os ‘blends’

“O processo da colheita é-nos vedado. Tentamos ir o mais longe possível, até à origem, para tentar acompanhar todo o processo e garantir padrões de qualidade e regularidade”, explica Alexandre Almeida. “Mas para o consumidor isso passa quase tudo ao lado”, acrescenta.

[caption id="attachment_1729" align="alignleft" width="300"]Alexandre Almeida, departamento de qualidade da Torrié / Foto: Pedro Santos Ferreira Alexandre Almeida, departamento de qualidade da Torrié / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

O café da marca gondomarense é proveniente de vários países do mundo. Desde a América, com destaque para o Brasil, Colômbia, Guatemala, Nicarágua, Havai e México, passando por África, onde Angola assume agora um papel importante e acabando no segundo maior produtor de café do mundo, Vietname, no Sudeste Asiático, o café chega às portas do armazém de Rio Tinto em duas variedades mundialmente conhecidas, arábica e robusta. A primeira é responsável por 75% da produção mundial e a segunda, apenas por 24%, deixando o restante para outras espécies de café, mais residuais. As duas principais variedades complementam-se e por isso são criadas misturas, conhecidas, na gíria, como blends [termo inglês].

Na origem, os cafeeiros são processados normalmente, como numa vinha, e produzem uma baga, conhecida como semente do café, que vai ser depois processada já nas fábricas, em Gondomar.

“A diversidade da nossa matéria prima é muito elevada e jogamos com isso. A Torrié trabalha com blends de altíssima complexidade. Temos blends com sete, oito, nove, dez origens e isso significa que sob o ponto de vista sensorial conseguimos ter uma maior riqueza, sob o ponto de vista da segurança alimentar criamos aqui uma divisão e sob o ponto de vista da homogeneidade da qualidade também atingimos um patamar maior”, comenta Alexandre.

[caption id="attachment_1733" align="alignleft" width="300"]Os armazéns da Torrié situam-se junto à unidade de torrefação em Rio Tinto / Foto: Pedro Santos Ferreira Os armazéns da Torrié situam-se junto à unidade de torrefação em Rio Tinto / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

Café previne Parkinson e Alzheimer

A primeira marca de cafés a incluir informação nutricional na embalagem dos seus produtos orgulha-se de ser gondomarense. Nas palavras de Alexandre Almeida, “a Torrié ajuda o consumidor a compreender os constituintes do café e a fazer escolhas alimentares mais saudáveis.” “Sob o ponto de vista da suas características alimentares, o café é um produto extremamente interessante porque não tem praticamente nada que faça mal. Nem a cafeína faz mal. Podemos estar ou não com predisposição para a tomar. A cafeína é um estimulante e tem pouquíssima gordura. Tem antioxidantes e disponibiliza-nos energia, prevenindo alguns tipos de doenças, como Parkinson e Alzheimer”, garante o responsável pela qualidade na empresa e co-criador de uma inovação no ramo do café: a ‘Torrié Silver Skin’. Este tipo de café utiliza a "pele de prata" como fonte de antioxidantes, através de um sistema que recupera esta película no processo de torra e têm benefícios no combate ao envelhecimento.

Portugueses bebem menos 35% de café do que a média europeia

Mas apesar dos benefícios da bebida quente mais famosa do mundo, os portugueses ficam aquém dos restantes europeus no que toca ao consumo anual de café. “Nós temos a ideia de que em Portugal se toma bastante café, mas é uma ideia completamente diferente da realidade”, explica Alexandre Almeida. Apesar da tendência “estar a mudar”, o consumo per capita em Portugal é de 3,5 a quatro quilos de café por ano. Este valor, na Finlândia, anda à volta dos 12 quilos.

Preço da bebida quente vai aumentar mas não para o dobro

A seca no Brasil traduziu-se numa preocupação para as bolsas de Londres e Nova Iorque. O valor do café disparou e, dizem os especialistas, um incremento do preço para Portugal será inevitável. Contudo, falar de um aumento para o dobro é “um exagero”. “Isto não é novo. Em 2011 tivemos um pico o aumento do preço da matéria prima e na altura, os torrefatores optaram por não aumentar tanto o produto final e sensibilizar os nossos clientes para não o fazer. Obviamente que, se a matéria prima é mais cara terá que haver um incremento [de preço] mas passar para o dobro penso que é exagerado”, considera Alexandre. Para Lourenço Campos, responsável pela parte industrial da empresa e logística [compras], “há sempre alternativas”. “Quem compra café do Brasil neste momento está a pagar muito mais caro do que pagava há um mês atrás”, afirma. Apesar de tudo “O preço de um café em Portugal é dos mais baixos na Europa”.

[caption id="attachment_1735" align="alignleft" width="300"]Pedro Guerreiro, diretor de Marketing / Foto: Pedro Santos Ferreira Pedro Guerreiro, diretor de Marketing / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

Qualidade cinco estrelas

“A qualidade do café em Portugal é altíssima. Varia em função da região. No norte do país temos um tipo de cafés e no sul temos outro. Mas o café expresso português deve ser o melhor café do mundo. Mais do que em Itália”, conta Alexandre Almeida. “Contrariamente aquilo que se pensa, em Itália o café utiliza matéria prima mais barata do que utilizamos nós”, acrescenta. Que o diga Pedro Guerreiro, diretor de Marketing da Torrié, que explica que a marca portuguesa é a que detém “mais prémios associados ao sabor e qualidade” no país. ‘Escolha do Consumidor 2014’, na categoria café em cápsula, dois ‘Superior Taste Award’, pelo ITQI - International Taste & Quality Institute - e ‘Sabor do Ano’, pela sexta vez consecutiva, entre outros prémios nacionais e internacionais. O futuro, garante o diretor, passa pela “adaptação do nosso produto aos mercados” onde atuam, pelo aumento da exportação [25% do que se produz já é exportado] e trabalhar a marca pela “diferenciação”.

[caption id="attachment_1736" align="alignleft" width="300"]Pedro Ribeiro, responsável pelo laboratório da Torrié Pedro Ribeiro, responsável pelo laboratório da Torrié[/caption]

Consumo doméstico aumentou exponencialmente

Segundo a consultora Kantar Wordpanel, em 2013, as cápsulas de café já entraram em metade das casas em Portugal. Para o técnico da empresa gondomarense responsável pela qualidade, hoje já se “mudou a forma como se toma café. Passou a tomar-se café expresso, de máquina e mudaram também os blends.” Lourenço Campos também pensa o mesmo. “Temos vindo a notar uma transferência clara do negócio do canal Horeca [Hotéis, Restaurantes e Cafés] para o doméstico”, afirma.

Por isso mesmo, em Rio Tinto, a empresa já se adaptou nos últimos anos e criou uma nova gama de cápsulas compatíveis com ‘Nespresso’. Através de máquinas “topo de gama”, em média, produzem-se na Torrié 60 caixas de 10 cápsulas por minuto. Cada cápsula hermética contém 5 gramas de café e todo o processo é observado antes e depois pelo laboratório que se certifica da qualidade dos produtos.

O “objetivo do controlo da qualidade é fazer o acompanhamento do processo de compra do café verde, seleção de origens e fornecedores, prospecção de novos mercados e produtos no que toca à matéria prima, acompanhamento do processo de controlo de qualidade desde o café às embalagens e investigação e desenvolvimento de novos produtos”, explica Alexandre. Pedro Ribeiro trabalha diariamente no laboratório e analisa e classifica as amostras de venda. “Durante todo o ano recolhemos amostras dos vários fornecedores e de várias qualidades para investigar a qualidade do café. Temos o que chamamos a biblioteca do café, com várias caixinhas em que guardamos amostras de café verde e temos um histórico que nos permite consultar sempre que quisermos as várias qualidades de café”, esclarece. São processos “complexos e demorados” na opinião do engenheiro mas tudo tem que ser analisado, até “amostras de pré embarque”, antes do carregamento de café para Portugal.

Quanto à tendência do consumo de café para dentro de casa, os especialistas confessam que a qualidade não é a mesma da do café tomado no canal Horeca mas “tem vindo a aumentar”. “A qualidade do café em cápsula tem a ver com o blend que chega ao cliente mas acima de tudo com os equipamentos e a afinação dos mesmos. Eu com os mesmos grãos de café consigo produzir um café muito bom e um café muito mau”, elucida o técnico.

[caption id="attachment_1738" align="alignleft" width="300"]Em 2013, as cápsulas de café já entraram em metade das casas em Portugal / Foto: Pedro Santos Ferreira Em 2013, as cápsulas de café já entraram em metade das casas em Portugal / Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]

Cafés para todos os gostos

O mercado está a mudar, garantem os funcionários da marca de Gondomar e por isso é necessário inovar. Café biológico, em cápsula, café em pastilha, café moído, café em grão e até funcionais, com a linha para saúde ‘Live It Well’. Já existe um pouco de tudo e a empresa de Rio Tinto que detém já oito filiais no país e empresas criadas de raiz em Espanha, Canada e Estados Unidos promete “não parar de inovar”.

 

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