Nove anos depois, com uma paragem pelo meio, voltamos a entrevistar a Banda 800 Gondomar. Fomos perceber junto de Rui Fonseca, Alô e Fred (nomes que pretendem ser tratados) o que mudou deste a última entrevista e em que ponto se encontram, bem como o álbum lançado em 2017, Linhas de Baixo.
O que mudou desde 2017 para 2025?
Rui Fonseca: Na altura da nossa entrevista em 2017 tínhamos lançado o nosso primeiro disco e andamos a circular tanto em Portugal como na europa com ele. Pouco tempo depois tivemos parados, desde 2018 a 2023.
O que levou a esta paragem?
R.F: Tivemos necessidade de fazer outras coisas. Eu e o Fred começamos a tocar juntos quando tínhamos 13 anos, e de repente parecia que não sabíamos fazer mais nada além disso. Queríamos descobrir. É sempre de destacar que fomos muito sortudos por conseguir atrair um público de tenra idade enquanto ainda estamos no secundário. Fomos descobrindo novas áreas, novas cidades e quando achamos que estava na altura acabamos por unir-nos novamente.
Quando foi lançado o “Linhas de Baixo” qual foi a repercussão que teve?
Alô: Era a que imaginávamos, não achamos que íamos chegar muito longe com ele, foi sobretudo pelo prazer de o fazer. Curiosamente acho que o disco conseguiu cativar pessoas até alguns anos depois e até depois de termos parado a banda. Isso era o que realmente não estava à espera.
R.F: Agora temos um novo disco que é o São Gunão.
Do que fala esse disco?
R.F: Saiu em Março de 2024. De uma forma resumida os nossos discos falam de uma vida suburbana, sobre os símbolos de presença destes lugares, e o São Gunão é uma certa despedida desses imaginários. Focamo-nos em alguns assuntos sobre os quais não nos tínhamos debruçado, mas acaba por construir a ponte para outra fase da vida, com outra maturidade, que depois será debruçada nos próximos lançamentos.
As vossas vivências estão descritas nos discos?
R.F: Sim é o recontar de histórias baseadas em facto verídicos, sobre os quais somos abertos, outras vezes, não queria chamar de lugar de imaginário, porque mesmo que uma coisa não aconteça connosco não significa que não vá influenciar a nossa vida. As pessoas à volta se passarem por algum episódio também afeta de alguma forma. Nunca escrevemos muito longe daquilo que se passa na nossa vida.
O que está por detrás da realização de um disco?
Alô: Grande parte é feita por nós, tirando a parte da gravação. Compomos as músicas, as letras, fazemos os arranjos das músicas, ainda somos bastante independentes nesse sentido, somos nós que fazemos tudo. Na gravação é que contamos com uma equipa mais alargada que ajuda na produção do disco.
R.F: É muito difícil ser uma banda independente e conquistar as coisas de forma que seja viável para toda a gente, do ponto de vista moral e financeiro. Acho que acima de tudo é essa a principal diferença desta nova fase da banda, e conseguirmos enfrentar estes desafios.
Além da banda têm algum trabalho ou algum patrocínio?
R.F: De forma permanente não temos nenhum patrocínio ou apoio. Pessoalmente vivo só disto, é um trabalho que me ocupa todos os dias e quando falo todos os dias não são só os dias úteis (ri-se). O Fred vive só da música e tem outra banda.
Alô: Eu divido-me entre a música e o cinema. Mas é fácil porque o cinema é um trabalho esporádico. Tenho a sorte de estar num projeto de cinema, uma longa-metragem, com um ritmo específico, que me permite entrar e sair.
A Banda fez agora uma digressão no Japão e em África, era o que ambicionavam?
Alô: Se calhar, inicialmente, de uma forma inconsciente sempre tivemos vontade de tocar em sítios não tão centrais, mais inusitados, e quando voltamos com a banda começou a ser nosso objetivo. Também, um dos nossos objetivos, era a expansão internacional da banda, sem qualquer presunção que os íamos tornar uma grande banda ou assim. Começamos a pensar em que territórios, porque no nosso tipo de música é muito usual fazer tours na europa, às vezes vão aos Estados Unidos, mas normalmente passa pela europa e queríamos expandir além disso e ver o que era possível.
Como é que chegaram até ao Japão?
Alô: No caso do Japão conhecemos um trio feminino, que nos convidou para fazer uma tour com elas no Japão.
E a África?
R.F: Fomos convidados para ir à África Sul. Foi a altura certa para isso, foi juntar as peças todas do puzzle, esta digressão comparada com o Japão começa logo com diferença na preparação da mesma. Porque enquanto no Japão a digressão foi só num país, em África mudar de país já começa a ser mais complicado.
Fred:A digressão no início era para ter mais países, como a Namíbia, que houve umas cheias que arrasaram por completo o local do festival e acabou por não se realizar. Em Moçambique íamos ter mais concertos, mas devido à instabilidade civil do ano passado, os festivais foram organizados de formas diferentes. O próprio festival que atuamos também sofreu, pelo que nos disseram, as pessoas cancelaram estadias e bilhetes, porque o país não iria estar preparado.
Ficamos tristes com o que não aconteceu, mas acima de tudo divertimo-nos.
Tiveram apoios nestas duas tours?
R.F: Tivemos um apoio da GDA – Gestão de Direitos de Autor, que, anualmente, apoia candidaturas de circulação de espetáculos e conseguimos que a nossa fosse apoiada. Tivemos, ainda, o apoio do Centro Cultural Português em Tóquio. Fizemos 18 concertos seguidos. Isto é um processo que demora mais de um ano a ser feito.
Quais são os objetivos do futuro?
Fred: É pensar no que fazer até ao final do ano. Estamos numa fase de fechar um ciclo de um disco que lançamos o ano passado. Queremos fazer um novo álbum não sabemos é a escala que ele irá tomar. Não depende só de nós, depende se conseguimos dar esses passos ou não. Gostávamos muito de atuar na Noite Branca somos daqui de Gondomar e era atuar em casa. Gostava de tocar de forma gratuita para um público aberto porque atrai mais gente e as pessoas têm mais liberdade de ir embora e não estarem presos ao preço de um bilhete. Ou atuar no Festival da Juventude de Rio Tinto também era um palco incrível.
De onde surgiu a ideia do nome da banda?
O nome 800 Gondomar tem origem no autocarro que é o 800 que vai para Gondomar.
Há algum agradecimento que queiram fazer?
À nossa família principalmente!