Com a pandemia, os Movimentos Associativos tiveram o seu desempenho afetado. Muitos congelaram as atividades, enquanto outros reinventaram-se e adaptaram-se às circunstâncias. Neste ano de pandemia, tudo mudou e estivemos à conversa com a Federação das Coletividades do Concelho de Gondomar. Presente na entrevista, encontrava-se o Presidente Manuel Pinto e o Secretário Geral, Emílio Ferreira. Ao todo, encontram-se inscritas na Federação 255 coletividades.
Vamos voltar um ano atrás, antes da pandemia começar. Como é que as coletividades estavam em Gondomar? Vocês sentiram muitos pedidos de ajuda?
Manuel Pinto: Na minha opinião as coletividades em Gondomar, estavam mais ou menos bem estruturadas. Tinham um plano de atividades muito ambicioso, estavam todos a preparar-se para começar a trabalhar. E, de um momento para o outro, foram surpreendidas com a pandemia. Não se sabia no que isto ia dar. Não sabíamos se era por muito tempo, se era por pouco, ou até o que é que iria acontecer. Ficamos todos na expectativa, até que, infelizmente, durou mais tempo do que estava previsto e as coisas não correram tão bem como deviam. Naquela altura, houve mais procura de ajuda porque havia muitas indecisões e indefinições. Ninguém sabia o que é que isto era. Foi uma coisa que surgiu, que era nova e a pandemia surpreendeu-nos. Não se sabia se as atividades iam abrir rapidamente, se não iam, nem em que condições iam reabrir.
A nossa principal preocupação era saber como é que as Associações iam conseguir sobreviver. Porque há muitas coletividades que vivem das suas escolas, da música, do teatro, vivem de movimentar pessoas e isso abalou completamente as suas estruturas. Para não falar dos bares, que hoje já são uma fonte de receita extraordinária para as coletividades. Tudo parou e, repito sem saber o dia de amanhã, isso foi o principal problema.
MP: Eu acho que em Gondomar não nos podemos queixar tanto assim. Porque a Câmara entendeu, e bem, fazer um adiantamento de 50% em relação ao que tinham recebido do ano anterior. Isso foi um balão de oxigénio. Assim, avançou com este montante que serviu para equilibrar as contas. No entanto, isso é verdade quando uma Associação tem um corpo técnico profissional ou semiprofissional que tem que continuar a receber os seus vencimentos. Com um acordo, com alguma redução eventualmente, mas tem de os pagar, senão perde-os. Acredito que essa foi a principal dificuldade financeira para muitos. Apesar disso, temos conhecimento de que eles aceitaram algumas reduções de custos, e não houve ninguém que tenha ido embora por falta de pagamento. Devia ter havido alguma recompensa, mas entendo que quem não faz atividade, não deve receber o dinheiro como se a fizesse. Parto do princípio de que o orçamento para uma atividade é gasto nessa mesma atividade, não fazendo, não tem despesa. Mas, deve haver um apoio complementar para substituir as receitas regulares, porque as coletividades continuam a ter as suas despesas normais que não podem estar suspensas. No entanto, no que toca às atividades não faz sentido e não o devem receber.
Vou aqui entrar na parte social, porque uma Associação, independentemente da sua área de atuação, tem um impacto muito grande na vida de uma pessoa de qualquer faixa etária. O facto de que, do nada isso ter sido “roubado” das pessoas, foi um impacto. Como Federação qual é a vossa perspetiva sobre o assunto?
Emílio Ferreira: Este confinamento trouxe um corte social que tem sido o maior prejuízo. Independentemente da dimensão económica, cada coletividade tem como objetivo social o vínculo à comunidade. E as pessoas que comungam deste espírito têm sede deste contacto, porque no fundo, o Movimento Associativo é mesmo isso, é a ligação ao povo. O Associativismo no seu dia a dia, realmente está muito afetado e as pessoas estão à espera que isto desconfine. E esta incerteza vai também minando a motivação, no entanto, nós vamos resistindo. Dou como exemplo, muitas coletividades foram arranjando atividades alternativas. Claro que muitas refugiaram-se no virtual, mas queremos desta forma enaltecer esta inovação que possibilitou o fortalecimento deste vínculo com a população.
O que é que mudou no último ano na perspetiva organizacional da vossa Federação. Quais foram os pontos que vocês consideraram cruciais mudar, para que isto resultasse nesta altura atípica?
EF: A Federação das Coletividades teve uma grande preocupação em recolher informação relevante, informação que orientasse e fomos disponibilizando essa informação aos nossos associados. No fundo tivemos que ser aqui um bocadinho o farol, trazer alguma esperança e tranquilidade. Portanto, a Federação teve de se reorganizar. Tivemos também, mais tempo ligados ao Município, sendo aqui os interlocutores do Movimento Associativo. Queríamos ter as melhores respostas para minimizar este impacto. A Federação mudou o seu modo de operar. Tivemos que renovar a casa toda e no fundo tivemos que servir de exemplo para as coletividades. Não foi fácil, melhor, não está a ser nada fácil, como é óbvio.
E quanto a perspectivas futuras quais são os vossos objetivos futuros?
MP: A nova sede é um desafio enorme, mas está pendente de algumas coisas. Nós temos um projeto para aquele espaço com um gabinete de arquitetura, onde aproveito para agradecer ao Arquiteto Mário Marques, amigo da Federação e de muitas coletividades do concelho, e que está a fazer o nosso projeto gratuitamente. Mas isso implica uma outra situação que é a venda do nosso terreno. Com esta pandemia não tem sido fácil, há algumas ofertas de valor, mas nós entendemos que é irrisório. Iremos, brevemente, passar para lá a título provisório com os nossos serviços administrativos, mas não com o projeto que nós queremos. O projeto que queremos para aquele espaço engloba salas de formação e um auditório, que também pretendemos ceder às coletividades, para que elas possam fazer as suas Assembleias Gerais e uma ou outra exposição. Portanto, nós queremos que seja uma casa aberta ao movimento associativo do nosso concelho. Tanto que, na altura em que estávamos a pensar conseguir um local, nós queríamos um mais ou menos central, porque assim abrangeria mais o nosso concelho. Portanto, Fânzeres é mesmo no centro, apanha Rio Tinto, São Pedro da Cova e aquelas zonas onde não têm grandes meios. Mas isto é um projeto não imediato, será um projeto a curto prazo desde que haja condições económicas para isso. Entendemos que se fossemos aos bancos pedir dinheiro era fácil, mas cada um deve viver com aquilo que tem e não deve, como se diz popularmente, dar o passo maior do que a perna, por isso não vamos inventar. Esperamos que até ao nosso aniversário -dia 1 de junho- estarmos na nova sede com condições dignas para que os nossos colaboradores e os seus associados possam estar num local mais aprazível. ▪